domingo, 2 de setembro de 2007

Mundos Submersos - Autor: Pompeo Marques Bonini ( Pompa )





Mundos submersos

1 - Conhecendo alguém...

Um dia eu estava em um parque quando subitamente apareceu uma garota daquelas bem bonitas: olhos verdes e lindos fios de cabelo levemente aloirados, agora vos digo o que foi que ocorreu:
Oi.
Oi.
Como você se chama?
Eu?...
Lógico, com quem mais eu poderia estar falando se não há mais ninguém por perto.
Isaias..., Isaias é o meu nome. Me permites que pergunte o seu?
Claro, a palavra é toda sua bonitão.
Foi aí então neste momento da conversa que eu não acreditei em mais nada, parecia mais que eu estava sonhando ou alguma coisa muito parecida, como naqueles filmes novos que saem todos os dias nos cinemas, ou seja, era uma conversa cinematográfica.
Bem... eu gostaria muito de saber como te chamas.
O meu nome é Ana, e se você quiser saber mais alguma coisa sobre min terá que passar no teste.
Teste?, Que teste?
O teste da sabedoria.
Muito bem... então que comece o teste pois eu estou louco de vontade de te conhecer um pouco mais.

Que garota mais intrigante, nunca vi uma cisa destas...ela só podia estar a fim de min, pois se estava tão interessada em min devia haver um pouquinho de magia amorosa naqueles olhos verdes.
Quantos anos você diria que eu tenho?
Acho que você deve Ter uns dezoito anos...
Exato!!! Como você acertou?
Não sei, simplesmente acho que foi sorte de principiante neste jogo de perguntas.
Tudo bem, já tens a minha idade ..., mas... agora quero complicar as coisas e vamos ver até onde vai a tua sabedoria: Me diga agora mesmo quem foi Nêwton.
Foi um grande cientista que revolucionou a arte das ciências físicas, pois foi ele mesmo que descobriu...que descobriu não pega bem... é melhor dizer que ele teorizou as leis gravitacionais. Né?
Muito versátil sua resposta, está aprovado, digo ainda mais: Sir Isaac Nêwton foi físico, astrônomo e matemático, era inglês, e simplesmente desenvolveu um outro tipo de matemática, descobriu segredos das cores e das luzes, e segundo minha opinião o mais importante é que ele além de tudo isso ele acabou revelando como o universo se mantém unido, através da teoria da gravitação, e uma das coisas mais legais foi que ele criou o cálculo infinitesimal, e por incrível que pareça, fez todas estas descobertas entre os anos de 1665 e 1667 ou seja, num tempo completamente diferente do nosso, foi ele quem descobriu que a luz solar é a mistura de todas as cores. Portanto você está aprovado na questão, acho que obteve um desempenho razoável, me diga agora o que é que queres saber de min?
A única coisa que quero saber de você é se você acha que sua agradável linha de pensamento segue a minha.
Não sei... depende por qual caminho está a sua.
Então tomei coragem e peguei em suas mãos, com a maior delicadeza possível pois não sabia qual poderia ser a sua reação diante daquela atitude.
Ela me pareceu gostar, gostou tanto que até me olhou firme nos olhos como se procurasse alguma coisa dentro deles , eu também olhei nos olhos dela que eram lindos e verdejantes.
Ela fechou os olhos e falou com uma voz muito doce e suave:
Me beija Isaias... ( ela havia sido bem direta. ) você não sabe mas eu te vejo todos os dias lá na escola...
Beijei ela como quem beija um sonho ou como quem sonha um beijo, que alegria pensei enquanto a beijava, tudo parece um mar de rosas, agora mesmo me lembrara de seu rosto, bem que eu sabia que tinha uma garota a fim de min na escola... só não sabia que era ela.
Foi assim que Isaias e Ana se conheceram, Ana na verdade sempre gostou dele, pois o admirava na escola em que estudavam juntos, Isaias havia visto ela na escola mas não sabia que era ela que estava a fim dele pois achava que ela era uma garota muito bonita para ele. Quando o beijo acabou eles combinaram de ir fazer um passeiozinho no shopping depois da escola porque o dia que se conheceram ( hoje ) foi Domingo, e amanhã seria uma bela de uma Segunda feira.
Pronto, estava tudo resolvido, amanhã eu iria sair com Ana. Segunda feira de manhã me aprontei e fui pra escola. Já no ônibus estava ansioso e não parava de pensar no que havia ocorrido , posso confessar a vocês caros leitores: era nervosismo puro... mas de certa forma também era bom, não sei exatamente por que... talvez fosse a emoção.
Quando cheguei na escola procurei ao máximo ficar dentro da normalidade ( o que me custava até um certo esforço ), para não dar na cara que eu estava inspirado neste dia.
No intervalo nem vi ela, então eu fiquei meio encanado pensando que ela tinha faltado, mas felizmente desencanei totalmente quando a vi exclamar meu nome lá no campo de futebol em que havíamos combinado nos encontrar depois das aulas.
- Isaias!!!!
- Ana, não via a hora de te encontrar, linda do meu coração; Vamos ao chopping?
- Quem queria te ver mais ainda era eu, você não sabe quantas saudades eu trago de ontem.
-Vêm!!! Então vamos logo.
Fomos passear e quando chegamos ao shopping eu não sabia muito o que falar para ela, ou melhor: não sabia sobre que assunto eu poderia comentar ( poderiam ser notícias casuais do dia a dia, ou então poderia também conversar um pouco sobre as novas pistas de skate que estavam sendo lançadas na cidade. ) , a verdade é que meu sangue estava correndo a mil por hora, a única coisa que eu sabia exata sobre ela é que era uma garota encantadora, linda e maravilhosa, quase indescritível.
- Quer ir ao fliperama?
- Fliperama?!? Não é coisa de menina.
- Claro que sim... ( tentei convence-la ), hoje em dia as garotas estão cada vez mais dominando estes lugares, e ainda mais é muito legal... vamos lá.
- Tá legal, eu vou, mas que fique muito claro que somente uns dez minutinhos e nada mais, ok?
- Concordo com vossa declaração.
- Tudo bem... ( e falando isso me deu um pequeno, não deixando de ser maravilhoso, beijo. )
Aí está a prova de que homem e mulher nem sempre se entendem nas atividades preferidas mas quando trata-se de dar beijos os dois sexos sempre se entenderão, se fizermos uma análise desta última parábola poderíamos claramente concluir que até daqui cinco mil anos o beijo será sempre o mesmo no mundo inteiro, continuando este pensamento: quem sabe, e na idade média por exemplo temos reis e rainhas, mas o mais importante é que ainda temos também como principais atores deste período da história da humanidade os cavalheiros e as princesas. Tudo isso eu falei, meu caro e respeitado leitor, somente para demonstrar que apesar de o tempo transcorrer o beijo sempre será beijo. E sagrada seja esta afirmação, pois aquele que já beijou uma garota ou aquela que já o fez com um garoto sabe muito bem que este grande ajudante da humanidade ( naturalmente estamos falando do beijo) é capaz de transpor obstáculos dos mais diversos, e por incrível que pareça pode até unir países em guerra. ( se é que já não o fez. ).
Desculpe-me se desviei-me demais do assunto, é que certas vezes eu me empolgo e começo com aqueles grandes pensamentos; Agora vamos ao que interessa: a realidade.
- Mas este lugar está entupido. Como você acha que vamos entrar aí?
- Calma, é sempre assim, normal.
- Normal?? Isso me parece mais um formigueiro eletrônico.
- Um bilhete de dez por favor.
- De dez?? Isaias, lembra que nós tínhamos combinado dez minutos.
Me recordo claramente minha adorável Ana.
Como acha que vamos jogar tantas vezes?
Não importa querida o essencial são teus lindos olhos verdes, beija-me.
Que exibido.
Me beija, por favor.
E se não beijar?
Daí ... eu não sei o que é que eu faço da minha vida, porque eu te conheci ontem mesmo e praticamente no mesmo dia você passou a ser o motivo de minha existência.
Que exagerado...
Te juro que não estou forcando a barra, pode passar o cartão do seu lado, eu já passei do meu.
Como se joga isso?
É simples veja, esse botão serve para...
E assim então nós havíamos jogado os dez minutos prometidos, ela nunca havia jogado, eu a ensinei, gostamos muito e a cada intervalo de um jogo para o outro um beijo e portanto poderíamos com uma grande facilidade concluir: uma alegria. Caro estimado leitor, tu deves Ter imaginado que nesta ocasião o que mais valeu não foi o fliperama cheio ou vazio, foi sim a companhia daquela esmeralda. Nunca mais eu iria esquecer, seu nome era Ana, nestes tempos quando eu chegava em casa até ficava compondo versos para ela. Um detalhe importante de se destacar é que os versos eram para ela, mas eu tinha vergonha de declara-los, então aconteceu que eles ficaram comigo mesmo, guardados em meus papéis e pensamentos. Mas para você confidente leitor de nada me envergonho pois aos interessados aqui vão alguns humildes trechos de meus versos:
Ana, Ana, Ana!
Aqui estou eu,
Coro por você,
E talvez,
Até pela sorte.
Sorte de que?
De Ter-te conhecido.
Pela sorte também
De estar num parque.
Na hora certa e no momento certo.
Sorte, sorte, sorte.
Sorte, Ana, sorte.
Ana, sorte, Ana...
Era assim que eu estava vivendo uma coisa que poderia ser anomenada de romance, algo até ali nunca experimentado. ( não dessa forma com uma garota tão aberta e interessante como Ana, a verdade é que essa garota me virou pelo avesso, se é que assim posso dizer )
Ainda que eu queira fugir da realidade eu não posso, não se pode namorar ao invés de estudar, e o que quero expressar é um sentimento de culpa, culpa por não estar dando tudo de min nos estudos e ao contrario disso eu ficava muito ligado em meus poemas e em inventar palavras novas e hilariantes só para fazer graça àquela garota.
Na aula de matemática por exemplo eu estava me esquecendo freqüentemente das fórmulas do seno, coseno e da tangente ( isso para não falar da hipotenusa cuja bendita não me entrava na telha [uma expressão até meio vulgar, mas essa era a mais pura verdade]), eu me sentia então nesse momento na necessidade de fazer alguma coisa que revolucionasse minha mente e me tirasse dessa situação de culpa.
Que lindo é o amor!, nos dá toda a alegria do mundo, mas o único empecilho é que de certa forma ficamos alienados do mundo e de todas as coisas que estão ao nosso redor, mas é claro que eu não estou querendo criar uma idéia contra o amor , somente estou fazendo um breve comentário. Pois eu mesmo acabara de ser uma vítima desta beleza de céu azul e mares tropicais que é o amor.
Uma festa!!!!!!! Era a última coisa que poderia me acontecer neste momento, e ainda por cima eu havia sido convidado pela louca da Ana para ir a esta festa. Era uma festa tipo bailinho, não muito grande, mas o suficiente para me empolgar. Logo comecei a me imaginar dançando aquelas músicas lentas dos anos 60, ou seja, antes de começar a festa eu já estava querendo decorar as letras das principais músicas e ainda queria treinar passos de dança, e exclusivamente por isso fui à academia de dança do meu avô.
Quando entrei na academia e expliquei ao meu avô o que se passava e por que eu deveria aprender a dançar em par tão rapidamente, logo ( creio eu ) ele percebeu que eu deveria estar apaixonado e me emprestou um daqueles vídeos aula que ensinam, todos os passos de uma maneira prodigiosa.
Cheguei em casa e pus o vídeo, um homem então começou a falar quais eram as atitudes que um gentleman deveria tomar diante de uma dama, havia uma música de fundo que aos poucos foi aumentando, até que uma hora o cara dançando com uma senhora já de idade começou a ensinar uma série de artimanhas da arte da dança, neste momento o cenário de fundo era a torre de pizza..
Tentei seguir alguns passos e acredito que a boa intenção de meu avô tenha me ensinado algo que eu nunca imaginara até agora: a importância das pequenas mas cavalheiras atitudes de um homem diante de uma mulher ( o que no vídeo era feita uma grande explanação ), coisas como pequenas palavras e atitudes que poderiam encantar sua parceira ( o detalhe principal : o vídeo era exclusivamente masculino, falava de vários aspectos para se conquistar o grande amor )
Foi aí então que comecei a refletir sobre minha atitude diante de Ana... talvez eu poderia não Ter feito o certo quando a convidei para ir ao fliper, deveria Ter uma idéia mais luminosa ( lógico que naquela ocasião, portanto agora não adianta mais chorar o leite derramado, conforme o refrão ), o melhor seria Ter uma idéia luminosíssima como comprar flores para ela, assistir à um filme romântico o à alguma coisa mais refinada, não sei... é até interessante discutir e refletir sobre essas coisas pois assim eu poderia fazer a coisa certa no momento certo...Vou agradecer ao meu avô pelo vídeo, foi muito bom Ter uma base ( é claro que não me tornei um técnico em dança, mas ainda sou da teoria que mais vale poucas noções que nenhuma.)
- Academia CELSONS ACADEMI boa tarde.
Oi, sou eu, o Isaias.
Pera aí que eu já vou chamar o seu avô, ele acabou de dar uma aula...
Alô.
Oi vô, eu queria dizer que gostei muito da fita que o senhor me emprestou, eu estou infinitamente agradecido...
Modéstia parte meu neto, não precisa exagerar tanto assim, tá certo que é um bom vídeo aula mas sem exageros.
Tá bem vô, mas que fique muito claro que o senhor é o melhor vô do mundo.
Thau Isaias, agora eu preciso dar mais aulas de salsa, depois você me conta como é que foi a festa.
Thau.
Viu só... pensei eu com meus botões, a alegria que eu estava era muito grande, e eu queria estar mais que perfeito para , comemorar eu tinha que fazer algo de diferente pois já estava cansado de dançar pelo quarto, foi então que decidi pegar meu livro de geografia e estudar, queria estudar por min mesmo, pelo aprendizado , pela nota , pelo baile e principalmente por Ana, Que coisa mais esquisita: por incrível que pareça eu tinha que estudar sobre abalos sísmicos terrestres, uma matéria que não possui quaisquer relações com Ana e mesmo assim eu sentia uma certa alegria em estar estudando por ela. Me parece que através disso poderíamos chegar a uma conclusão muito interessante: às vezes quando sentimos que temos um objetivo perfeito na vida ( como por exemplo uma festa, ou mesmo Ana ), procuramos lutar com todas as nossas forcas para que este objetivo dê certo, mesmo que por ele tenhamos que fazer outras coisas, ou mesmo que não seja por ele.
No meu caso especifico eu creio que a alegria da festa era tão grande que, qualquer coisa que eu fizesse teria um super intuito, e eu a faria com a garra de um vencedor, não que eu esteja concluindo que todos temos que Ter uma festa para todos os finais de semana, mas si temos que Ter um objetivo não somente para os finais de semana como também para os meses e vida!

2 - Quinta feira dia 24 de Julho de ...

Oi, por favor o Isaias
Sou eu mesmo boba.
Vai ser no Domingo a festa.
A que horas? Já têm horário previsto?
Eu acho que vai começar às oito, mas cê sabe que ia ficar chato chegar as oito em ponto, eu acho que seria mais legal se a gente chegasse lá pelas dez e meia, o que é que você acha?
Para min tua vontade é mais uma ordem que outra coisa ,porque por você cê sabe que eu faria qualquer coisa.
Tudo bem fofinho!
Você têm prova amanhã? ( perguntei, apesar de saber que ela tinha prova de ciências, para pegar um pouco no pé dela, ou seja, para ver se ela tinha estudado tudo certinho.
Eu tenho, e não adianta fingir que eu sei muito bem que você está a par de todas as provas que eu ando fazendo, não adianta fazer essas perguntinhas gostosão. (isso ela falou com um ar muito cômico. )
Tudo bem, eu admito, você me pegou, mas não vai escapar à inquisição, quero que estude tudo muito bem. ( sou um chato mesmo , pensei eu. )
Tá bom, você ganhou, mas vê se não se esquece da festa tá?
Tá bom, thau.
Um beijo.
Dois. (falei lembrando o vídeo das boas atitudes de um cavalheiro diante de uma donzela de meu avô ).
Três para você meu querido!
Até.
Parecia mais uma loucura geral, a menina da minha vida me liga para confirmar a festa, e hoje em dia eu vejo isso como um fenômeno normal, Domingo passado eu acabara de conhece-la, e hoje, Quinta feira já estou querendo ir a uma festa com ela e o mais impressionante: ela comigo. BELEZA!!!
No outro dia as coisas aconteceram muito rápido, fiz a prova de geografia , e pelo visto devo Ter tirado no mínimo um dez, por incrível que pareça. A Ana me chamou no intervalo e me falou que também achava que tinha ido bem, achei muito legal e me deu vontade de gritar de alegria ou então abraça-la mas aí eu lembrei que todos estavam ao nosso redor e naturalmente ninguém sabia que estávamos juntos e eu particularmente acho que os caras da minha classe iam ficar enchendo o saco o dia inteiro se descobrissem que eu estou ficando com a Ana ( que supostamente eles nem conhecem direito porque a Ana não é da minha classe, ainda que seja do segundo colegial como eu. ).
- Ana, então por favor, vamos nos encontrar na saída da escola.
- Se você quiser tudo bem, mas que teus amigos não nos vejam juntinhos, ou seja: aqui na escola somos somente amigos...
- Claro, isso é lógico, mas o que mais quero te dizer não posso te dizer agora porque é justamente sobre a fes...
Inesperadamente enquanto eu falava distraidamente com Ana se aproximaram três amigas dela e fiquei sem palavras pois eu iria falar sobre nós dois.
O clima não ficou pesado, mas também nem um pouco ameno, porque eu não conhecia nem uma daquelas garotas, fiquei meio nervoso diante desta situação, que poderia se tornar constrangedora caso meus amigos pentelhos chegassem.
- Então Ana: você vai na festa? ( perguntou uma das amigas dela, não era alta, tinha os cabelos negros uma face muito bonita e estava usando uma blusa toda desenhada de rosas, parecia que estava com uma calca daquelas de hippie, um pouco mais larga no final, além disso também tinha uns laços no cabelo que o prendiam de modo a formar um cacho simétrico. )
- Claro que vou, pois você achava que perderia uma festa destas? ( Isso Ana falou com um ar desafiante, como se estivesse demonstrando em sua mente ares de superioridade, e disso eu fiquei até de certa forma surpreso já que não conhecia a essência de sua personalidade, pois como já dito o amor certas vezes pode distorcer um pouco a realidade, se não disse isso estará dito agora, mas certamente creio que tenha comentado algo que seja muito similar a essa idéia )
- Quem é esse garoto?, falou a mesma ( vamos neste caso denominá-la de hippie, com todo o respeito; Ainda por cima fez esta pergunta olhando para min com olhos desconfiados, desviei meu olhar para o rosto de Ana que quando me viu, achou engraçado, e amenizou rapidamente a amiga dizendo que eu era somente um amigo.)
- Mas de que classe você é?
- Sou do segundo A.
- É verdade Maria ( reforçou Ana. ), ele é do segundo A e está aqui justamente com o intuito de me ajudar, pois como você sabe eu tenho um pouco de dificuldades na matéria de geografia, e Isaias é craque nisso, então como nos havíamos conhecido um dia destes ele acabou dando uma forca para min nos estudos, pois eu ainda te digo ainda mais que se não fosse por ele eu estaria perdida neste exame.
Agora isso já estava mais parecendo uma enxurrada de explicações, e ainda depois Ana cochichou para mi que eu deveria sair dali antes que suas outras amigas chegassem, foi aí que a situação se abrandou, dei uma desculpa qualquer e saí de fininho. ( conforme a famosa expressão. ).
Finalmente, depois de uma infinidade de exercícios físicos minha aula de educação física havia acabado, estava muito cansado, porque hoje Sexta feira nós tínhamos que correr na pista de cooper da escola, e o professor é meio chato porque ele faz questão de que todos os alunos tirem sempre o melhor de si, ou seja devemos correr 6 quilômetros em apenas 23 minutos, o que raramente alguém consegue fazer, eu faço em 24 e meio, e existe ainda a recomendação do professor de que na Quinta feira a noite devemos comer massas como macarronadas, pães, capeletes e coisas deste tipo pois segundo nossas instruções estes tipos de alimento formam o que a ciência das biológicas chama de carbohidratos ou hidratos de carbono que é um dos combustíveis de nosso organismo, este professor é tão pentelho que todas as quintas ele visita a casa de um aluno sorteado da lista, justamente para verificar se estão sendo consumidos os benditos carbohidratos, e às vezes ele até resolve entrar de bicão na casa do aluno para experimentar e ver se a macarronada está realmente boa. Leitores de todo o mundo e de toda a galáxia ( isso digo devido ao grande sucesso do conto): não duvido de vossa paciência, portanto peco escusas se demorei demais nestas explanações sobre carbohidratos e professores chatos, sei que vós tereis a bondade de perdoar-me, a verdade é que não pude posso conter quando tenho que comentar com alguém sobre estes professores impertinentes. )
Sendo assim, para não perder o fio da meada ( conforme a expressão ) vamos voltar a fita ( segundo a gíria. ):Até que enfim, depois de correr muitíssimo na aula de educação física fui para o lugar onde havíamos combinado de nos encontrar eu e Ana após as aulas.
Fiquei confuso, pois ela não estava lá no local da saída, fiquei mais confuso ainda, pois já tinha esperado uns quinze minutos, que revolta que me deu!!!!, será que eu fiz alguma coisa que pegou mal diante das amigas dela , ou que poderia Ter acontecido para que ela ficasse aborrecida comigo, não sei descritivamente qual foi o sentimento que me dominou neste momento, talvez uma mistura de solidão com tristeza, era algo diferente, mas a única coisa de que tinha certeza era de que não era uma coisa lá muito aconselhável a se sentir.
Meus amigos estavam ali mesmo ao meu lado ( para variar discutiam sobre times de futebol ), mas é como se ninguém estivesse por perto.
Ei Isaião, que é que cê têm? ( perguntou o Marcão voltando-se para min quando sentiu alguma coisa de diferente em min. )
Sei lá Marcão... acho que não deve ser nada.
Como nada? Hoje parece que tá faltando gasolina!
Você e suas piadas, já disse, deixa pra lá.
Mas eu tô vendo que cê tá todo grilado aí no canto, ei pessoal! Alguém sabe o que é que têm o Isaião? ( Marcão fez a pergunta aos outros três e queria de qualquer forma saber a resposta, todos o olharam mas nada responderam, pois naturalmente nada sabiam, mas foi só quando o Marcão quase esganava o Fabião para que respondesse alguma coisa,[ pois ele era muito impulsivo, às vezes dizíamos que ele se parecia com um troglodita, mas ele sempre levou numa boa, pois sempre fôramos bons amigos] que o Lião soltou um berro:
Pérai Marcão!!!!!!!!! O Zezinho sabe alguma coisa, vai, fala Zezinho.
Ele tá afim daquela menina loira do segundo C, aquela que é bem bonitona... ( Zezinho olhou para min com uma cara meio que de culpa por Ter revelado um segredo, no problems, agora que todos da turma sabiam já esperava que eles começassem com piadas e coisas do tipo, incrivelmente um silêncio se criou, todos olhavam para min com uma cara de espanto ou sei lá de quê. Aquele silêncio estava sendo um silêncio quase que sacral, ou então um silêncio monástico ... quando finalmente o Marcão resolveu perguntar:
Cê tá apaixonado por ela? Novamente aquele silêncio mais silencioso que qualquer coisa que não faca barulho, agora todos queriam uma resposta, esses caras eram mesmo malucos, eu como amigo, conhecendo qual é o nível de maluquice de todos resolvi responder antes que o Marcão me dissesse para desembuchar de uma vez ( pois sei que fatalmente o diria. ):
Estou, e espero que vocês aprovem esta minha atitude, que pelo visto é muito legal.
Aprovar?!?!(Gritou o Fabião).
É isso aí!!!!!! ( Agora quem grita é o Marcão, e vocês leitores já devem estar imaginando quais são as proporções das cordas vocais deste ser que na ocasião me parecia quase sobre-humano, ou melhor, devem até estar escutando.), e naturalmente como o Marcão havia aprovado todos aprovaram, pois imperava a lei do mais forte, ou mais animal, que sem sombra de dúvidas era ele mesmo Marcão.
Num gesto quase que espalhafatoso todos me pegaram e começaram a jogar-me para o alto como se eu fosse o técnico de um time de futebol campeão do mundo, e ainda por cima gritavam com toda a forca que possuíam nas gargantas, berravam homenagens, cantos amorosos, meu nome, e por vezes até misturavam toda aquela cantoria com hinos de equipes futebolísticas. Todos que estavam lá na frente da escola escutavam, e , segundo minhas conclusões nada entendiam pois aquilo já se tornara uma mistura muito grandes de honrosos festejos.

3 - Sábado, dia 26 de Julho de ...


Que coisa! Ontem depois que cheguei em casa fiquei ansiosamente um telefonema, mas , infelizmente ela não ligou. Então resolvi esperar que ela fizesse contato hoje de manhã, o que até as onze ela não o fez. Essa preocupação toda não era a toa, pois se teríamos que ir a uma festa amanhã, era lógico que teríamos que combinar os últimos detalhes hoje mesmo. Derrepente tive uma idéia, iria até a casa dela, para fazer uma surpresa, ou alguma coisa similar. Mas o único problema era que eu não tinha o endereço dela, possuía somente o telefone, mas não tava afim de ligar pra ela, pois se acaso ela estivesse de mau humor comigo não iria ser nem um pouquinho legal ficar pegando no pé dela.
Eu sou assim, às vezes fico matutando sobre hipóteses de sentimentos que podem estar ocorrendo com as pessoas, e, através disso, tenho uma base para dirigir minhas ações, acho que todos somos assim, e justamente por causa disso podemos cometer erros, pois apesar das teses criadas pelas nossas mentes terem grandes chances de estarem corretas isso não impedem que venham a falhar, pois sem dúvida nenhuma sempre existirá uma margem de erro, para não ficar demasiadamente fora de órbita é melhor ir para a prática, veja bem: a hipótese de que Ana esteja brava, é aprovada, se recapitular-mos que ela deixou de comparecer a um encontro veríamos que temos em mãos uma evidência clara de que ela esteja de certa forma querendo fugir de min. Está valido, mas também não posso descartar o outro lado da moeda , que está no lado sentimental e no lado questionativo da parada ( se é que posso dizer assim ), ou seja: Porque ela teria feito isso? Ou: Por qual motivo ou causa? Teria ela deixado de gostar de min da noite para o dia? Não, isso seria impossível. Onde iria Ter parado todo aquele amor que sentíamos um pelo outro? Talvez suas amigas poderiam Ter influenciado em alguma coisa que supostamente teriam inventado contra min, com a finalidade de uma simples brincadeira de mau gosto. Não sei... poderiam ser infinitos os motivos que teriam levado Ana a fazer isso, a única coisa que tenho de totalmente real é que ela o fez, isso sim é um fato consumado , e concluindo eu diria a min mesmo que o que mais me importa no momento é o que farei agora, pois este sim também é um outro fato que faz parte da realidade, as hipóteses nada mais são que bases para que a realidade se concretize, logo me lembro que sem bases um edifício não se ergue, ou sem idéias um ato não se edifica.
Desculpas sempre são boas, pois compõem um comportamento de educação, é muito claro porém que quanto menos desculpas precisamos pedir melhor é nossa finura diante dos outros pois assim melhor é nosso comportamento, leitor astuto...compreenda por favor o antro de meus sofrimentos, a pequenez de meus pensamentos, e a ignorância de minhas palavras, indecorosamente venho a pedir mais uma vez que vós perdoeis meus longos pensares, entenda que essa garota é muito bonita: linda como a flor da primavera, seu rosto possui a magnificência de Vênus e a beleza uma dea ( deusa, do latín ), como poderia eu perder este jogo? Pois então este era o motivo pelo qual estava eu quebrando a cabeça ( é lógico: conforme a expressão ), não permitiria que um só jóker fosse descartado
Por mais que eu pensasse queria resolver logo a situação, não posso ficar encanado nas conseqüências do que eu fizer porque senão nada faria, vesti-me com uma roupa bem da hora, era uma calca jeans e uma camisa listrada verticalmente em azul, peguei o perfume polo by king emprestado do meu irmão mais velho ( naturalmente ele estava fazendo voleibol, e portanto não ficaria sabendo que eu tinha usado, senão sempre rolava uma briga, do tipo familiar. ), o que fiz primeiramente foi ligar para o Marcão que morava na mesma rua que eu.
Marcão?
Sou eu mesmo... Quem é?
É o Isaião
Ahh...
E aí meu? Que cê tá fazendo?
Vendo televisão. E você? Não era pra cê tá com a Ana?
Não vai zoar. hein?
Não, pode falar que tudo bem.
A verdade é que eu fiquei com ela nesta semana que passou... e então...
Então?
É melhor eu ir aí pra falar, o pessoal aqui em casa está querendo usar o telefone.
Tá, vem pra cá.
Falou.
Cheguei lá e ele já estava sentado na calcada, ainda vestido com aquele pijama verde que herdara de seu avô, nos cumprimentamos com aquele forte tabefe de mãos costumeiro da turma e me sentei junto a ele, a rua era tranqüila e somente passavam por ela o pessoal que saía de casa para comprar pão na padaria da esquina ou carvão para a churrascada do Sábado, a maioria eram todos conhecidos.
Marcão, cê vai Ter que me ajudar.
Que é que foi? Cê têm alguma zica?
Mais ou menos...
Então me conta logo, desembucha. ( este era um dos costumes do Marcão, tudo era na base do desembucha. )
Tá bem... Mas primeiro eu tenho que saber se você conhece a Ana.
Não muito bem, mas eu sei que ela é a maior gata.
Neste ponto de vista eu concordo plenamente com você, e como te falei eu já fiquei umas vezes com ela...
E?
E então eu fiquei tipo gamadão nela, e depois ontem ela me deixou na mão.
Te deixou? Assim nem mais nem menos?
É, eu tinha combinado de me encontrar com ela na saída da escola.
Aaaaaahhhhhhhhhh......!!!! ( Marcão fez esta expressão com tamanha intensidade que um senhor que passava com uma sacola de laranjas pela rua olhou-nos assustado ), então é isso que cê tinha ontem.
É isso mesmo.
Por que você não liga pra ela?
Sei lá, acho que derrepente podia pegar mau, né meu?
É mesmo..., Quer saber a verdade? Eu acho que cê devia ir na casa dela, e conversar com ela olho no olho. Quando as pessoas conversam olho no olho elas têm que ser sinceras, daí cê vai ver que é que tá pegando, né?...
Eu já pensei nisso, e só faltou criar coragem, mas mesmo assim eu não tenho o endereço dela , Cê têm?
Eu tenho, tenho inclusive de todas as garotas do segundo ano, isso porque eu peguei o endereço no caderno dela, mas nunca tinha pensado que você ia ficar com ela. ( ele falava enquanto brincava com uma barbicha proeminente que crescia no queixo. )
Já imaginava...
Por isso que cê veio aqui né?
É, iiiiiiiisoaiiiiiiiií!!!!!
Falou meu, eu vou pegar pra você, ela num mora muito longe.
Falou véio, valeu!!!
E foi isso mesmo que aconteceu, o Marcão me passou o endereço da Ana e assim eu o agradeci infinitamente e falei que eu ficaria devendo essa para ele, mas aí veio com aquelas famosas expressões: amigo é pra essas coisas, não foi nada... mas a verdade é que para min foi um favorzão.
A rua era relativamente perto de minha casa, pois, apesar de eu Ter que pegar um ônibus ainda não tinha que sair do bairro.
Quando cheguei lá logo vi que a rua estava fechada devido a uma grande festa de São João que estava transcorrendo no lugar, as festas juninas sempre são boas mas não sei se seria o mais adequado que a festa ocorresse justamente naquela rua, ficaria quase impossível encontra-la no meio daquela confusão toda, pois: eram fogos de artifício para todos os lados, danças de quadrilha, danças das fitas, tendas de doces, de salgados, quentão, milho verde, pau de cebo ( daqueles que se há de subir para pegar o prêmio ), e caipira para todos os lados. Estes tempos de Julho sempre me agradaram, apesar do frio as festas são muito boas. Aos poucos fui me adentrando na rua ( para não dizer na festa. ).
Era um Arraiar impressionante... logo vi a casa de minha amada, era uma casa ajeitada, lindos portões brancos, e um jardim de deixar qualquer jardim do éden com inveja, a casa em si tinha um formato meio parecido com chalé, era toda feita de madeira e tinha uns sininhos meio esquisitos na porta. Toquei a campainha com toda minha coragem, logo comecei a formular o que deveria falar a ela, algumas desculpas meio bobas. Nada de atenderem a porta, pelo visto a casa deveria estar vazia.
Enquanto isso a caipirada toda estava fazendo a festa, e , somente agora caí na real: deveria estar na festa junina ( as vezes as conclusões mais óbvias são as mais difíceis de se fazer, esta é a famosa lei de Murph. ), Me adentrei na festa, pouco a pouco fui me acostumando com aquele ambiente tão maluco...
Logo que vi um homem distribuindo chapéus de palha, daqueles promocionais, pedi um para usar e usando o chapéu já me sentia um pouco mais adentrado na festa, comecei a procurar Ana por todo lado, mas, devido à quantidade de festeiros, era impossível encontrá-la.
Algumas vezes ( contrariando a lei de Murph ) ocorrem idéias luminosas em nosso pensar, e foi uma destas que me ocorreu quando fui ao bendito correio elegante, e a mensagem que mandei para Ana foi a seguinte:

Ana meu amor: me desculpe se algo falei que te afligiu, me perdoe se minha chatice te incomodou, quero que fique sabendo que te amo e sempre te amarei... não importa se os amigos enchem o saco ou não o importante e fazer o que venha a ser um objetivo, e o meu objetivo é você.
De um grande amigo e companheiro: Isa.

Achei que a carta tinha ficado ótima, nem acreditei direito quando li a carta. A mensagem estava limpa e clara, agora era só torcer para o carteiro encontrá-la. Olhei para o céu e instintivamente pedi para que Santo Antônio, o santo casamenteiro, me iluminasse a alma e me ajudasse a encontrar aquela garota linda.
Esperei um certo tempo ( não muito ) , apareceu então o carteiro com seu característico uniforme de camponês e me disse que ela estava me esperando ao lado da barraquinha de churrascos em espetos, minha alegria neste momento era muito grande, mas ainda assim era uma alegria serena, pois sabia agora que tivera uma resposta, e até ali o que eu mais queria era isso mesmo: uma resposta. Entrei no meio da massa de pessoas que se acumulava na parte central da rua para procurar o local, e logo vi um anuncio, que apesar de simples para min era sagrado: Churrascos e temperos do interior... fui diretamente para lá, o povo andava um em cima do outro cantavam, as crianças brincavam no chão de bolinhas de gude e peão, brindavam com exclamações daquelas interiorísticas tipo: vamu bebê um poco de quentão, mas é claro que este ínfimo detalhe não me impediria de chegar à barraca, no momento ninguém mais existia a minha frente, a não ser Ana, quando a vi estava meio encabrunhada em um canto da grande mesa de refeição que ficava ao lado da barraca, logo me apressei em sua direção, cheguei perto dela sem que ela me visse, estava atrás dela, então pus minhas mão nos olhos dela como fazem aqueles que querem que o outro descubra quem é, ela, um pouco surpresa com a atitude não se retraiu, simplesmente pôs suas mãos sobre as minhas em um gesto carinhoso.
No mesmo momento senti sua energia positiva, suas mãos eram muito delicadas, a pele era lisa como é cristalino o som da água que cai em uma nascente, passei as mãos em seus cabelos, e mesmo assim ela ainda não havia se virado, seus cabelos que estavam presos centralmente por uma linda tranca cor do sol, estava usando também uma camisa quadriculada de cor azul claro, azul escuro e um vermelho quase que imperceptível. Era como um jogo, Ana queria brincar comigo, por isso não se virara a ver quem a toca. A abracei fortemente e virei meu rosto em direção à sua face, minha face brilhava de alegria quando vi que seu olhar era de pura felicidade.
A alegria foi geral, aquela era a garota que eu mais desejava no mundo, e no momento eu a tinha enlaçada em meus braços... Não rolou nenhuma palavra, tudo era sentimento, e o sentimento já era mais que o necessário para nossa comunicação vi que os olhos dela brilhavam e brilhavam cada vez mais, senti uma coisa muito profunda nesse momento, talvez não deveria falar em amor tão freqüentemente como estava falando na última semana , pois o que se passara até esse momento era apenas o prazer de ficar com ela, mas agora... agora era diferente. Meus lábios sorriam sem que eu pedisse, meus olhos buscavam os dela, e eu não podia resistir a beijá-la, um beijo diferente de todos: mais vagaroso, em câmara lenta, mais calmo, tranqüilo, bonito... era o beijo da minha vida, o mais sentido... a música das quadrilhas invadia meus ouvidos com singular consonância, dando assim mais entonação à emoção que transcorreu no momento, eu o chamaria de beijo do Solstio de inverno... pois era inverno, e apesar de dia, ainda podia ver a lua, que era cheia, linda e graciosa, era como se a lua tivesse me ajudado a encontrá-la. Foi emocionante!
Músicas, danças, brincadeiras, gentes do interior, crianças, festa. Uma garota, uma alegria através de um momento, esta festa ficaria marcada em minha vida, quando parti de um momento de aflição não pude imaginar que estaria assim... praticamente havia passado do pólo norte ao polo sul.
Depois perguntei a ela:
Tudo bem?
Tudo... que fazes aqui? ( falou ela com um sorriso no rosto )
Vim te procurar...
Como sabias que eu estava nesta festa?
Na festa não, simplesmente sabia que tu vivias nesta rua, portanto quando aqui cheguei aqui encontrei a festa, e sem quaisquer problemas deduzi que você estaria na festa e...
E assim então você foi ao correio elegante com o intuito de me encontrar, muito bem!
Pensei que você houvesse ficado nervosa comigo.
Nervosa?!? Tem certeza?
É, nervosa. Não sei se fui apressado de mais em minhas conclusões, mas ontem...
Ontem não compareci ao encontro que havíamos estabelecido após as aulas.
Exato...
Um pouco emocionada ela falou que tinha tido um imprevisto em sua casa e que tivera que urgentemente sair da escola antes que terminassem todas as aulas, certamente isso sim era um motivo justo para não ir a um encontro, mas mesmo assim, eu ainda estava curioso, e necessitava de mais explicações que pudessem saciar toda minha ânsia. )
Que imprevisto? Se me permite saber.
Permito... minha avó faleceu... ( neste momento ela desabou a chorar, e eu via claramente que era um choro sentido. )
No mesmo momento me vi na necessidade de fazer alguma coisa que a consolasse, mas de nada entendia desses assuntos complicados, ela chorava bastante, então eu a abracei, a abracei fortemente como se fosse para não a deixar escapar, ou então como se eu a quisesse a proteger de algum mal., ela continuou chorando, mas agora chorava em meus ombros, chorava protegida. Sentia o calor de seu choro, era um choro quântico. Comecei neste momento a pensar como fora tão mesquinho em chegar a pensar que ela havia me deixado. Que ignorância a minha de ficar querendo-a somente porque eu achava que ela era a garota mais bonita dos segundos, ela era mais que isso... na verdade ela possuía sentimentos puros... agora eu via isso, somente agora sentia a sua inocência.
Temos que Ter consciência de que as pessoas são mais do que aparentam ser, possuem também sentimentos, vontades e coisas que as diferenciam umas das outras, a essas coisas damos o nome de essência, que nada mais é que uma substância particular de cada um, que só podemos conhecer através de uma situação que seja difícil; como por exemplo em uma guerra: lá os soldados estão cumprido ordens e estão em uma situação que desafia a morte e por isso possuem um sentimento de igualdade que é transmitido através do respeito que dão à si mesmos.
Como outro exemplo muito claro temos a maratona que, nada mais é senão uma corrida, mas não é uma corrida qualquer, é uma corrida de quarenta e dois quilômetros cento e noventa e cinco metros, onde a mesma coisa ocorre, pois quando qualquer ser humano corre trinta quilômetros sem parar ele passa a se sentir igual a todos os outros seres humanos, e assim passa a Ter também como no casa dos soldados um respeito muito grande por tudo e por todos, e ainda temos um fator interessante: depois do quilometro trinta o corredor terá que submeter-se aos limites mais extremos possíveis do corpo e da mente.
E o que é importante nisso tudo?
Isso é vida, vida é sentimento e nada mais, o tempo não existe, pois as horas os minutos e os segundos foram erradamente criados pela civilização, se eu pudesse destruiria o meridiano de Greenwich, e com ele todos os outros meridianos imaginados pelo homem.
Digo que foi isso que aconteceu no momento, nós dois ficamos ali juntinhos, um aquecendo o outro, por um bom tempo, estávamos assim nos sentindo iguais, nem mais nem menos.

4 - Um pouco mais à tarde...

Um pouco mais à tarde após me despedir de Ana voltei para casa, satisfeito de a Ter encontrado, triste pelo ocorrido mas mesmo assim satisfeito por Ter esclarecido todos aqueles problemas que haviam sido criados em minha cabeça, foi bom, parecia que um peso tinha acabado de sair de minhas costas, um grande desabafo de Ana... Porém ainda devia dar muita forca para que ela superasse isso...
Chegando na rua vi que todo o pessoal estava sentado em frente à casa do Marcão, como de costume, pois aos sábados sempre nos reuníamos para bater uma bola, jogar conversa fora, e fazer todas essas coisas malucas que existem e que não existem no mundo.
Logo que o Marcão me viu ele soltou um berro ( daqueles que chamam bastante atenção de qualquer um que por acaso esteja passando na rua ) .
E aí Isaião, como é que foi lá na casa da Ana?
Não enche o saco meu! ( ele tinha me deixado meio nervoso, e por isso mesmo eu respondi do outro lado da calcada, devolvendo uma resposta à altura da pergunta )
Quando me aproximei vi que o Zezinho furtivamente escondeu um bilhete de min, percebi claramente, e isso me deixou intrigado, ainda mais que todos haviam entrado em silêncio justo no momento em que eu me aproximei, sobre o que estariam falando? Talvez fosse sobre min... o que era muito provável e me deixava do outro lado do muro em relação a eles.
O que vocês estavam conversando? ( perguntei com uma voz meio contrariada ao silêncio )
Estávamos falando ... ( O Lião sempre era o mais enrolador de todos, e sempre era o mais aconselhado no caso de dar desculpas aos professores , no casa de nossos atos errôneos na escola, esse era o único detalhe que me deixava levemente nervoso com todos, pois já nos conhecíamos a muito tempo e, entre nós mesmos não era possível rolar uma discórdia que permanecesse por muito tempo. ), estávamos falando justamente da copa dos Campeões, cê sabe muito bem que essa está ocorrendo lá na Europa, e como a gente sabe que você não gosta muito dessas copas européias paramos de falar nisso quando você chegou... sabe como é... vou te falar a verdade... eu também não sou muito chegado, prefiro mais as nacionais, pois se não dermos valor ao nosso próprio país a que lugar mais ficaríamos dando valor, mas essas coisas hoje em dia ainda são muito variadas, hoje o futebol engrandeceu muito, já têm um nível mundial...eu ainda fico com a opinião de que nosso Brasil é constituído dos melhores e mais refinados jogadores futebolísticos, veja só: o Ronaldi...
Não vem com essa Lião que você não me enrol...
Antes que eu terminasse de falar o Fabião me entrecortou e me falou com um ar imponente e de justiça:
Tudo bem Isaião, todos nós já conhecemos o enrola-men ( enquanto falou enrola-men deu uns tapinhas tipo pescotapas no Lião, o que foi sem dúvida nenhuma uma situação muito engraçada. ) nós estávamos falando justamente sobre você... sobre você e Ana, mas convenhamos: comentávamos sem Zoar, somente das coisas positivas que existe em um romaaaaaaaaaaaaance.
Quando o Fabião falou esta última palavra mais grossa e com longevidade o Zezinho fez um sorriso bem babaca e me deu vontade de esganá-lo, por uma questão de segundos não segurei meu ímpeto e pulei pra cima dele com a intenção de aplicar uma chave de braço, ele tentou se defender, mas ele era pequeno e fácil de ser dominado, só não consegui porque ao mesmo tempo todos pularam pra cima de min para apartar a briga, o que com muita dificuldade conseguiram, pois a minha raiva era tanta que minha vontade de pegar aquele moleque havia se triplicado no transcorrer da luta que deve ter durado no mínimo uns quinze minutos.
A verdade é que não pude segurar, o sangue me subiu na cabeça, e pareceu que também ferveu, mas ainda assim após a peleja me senti muito satisfeito, pois não havia mais clima de pressão, aquele silencio horroroso dera lugar a uma luta mais calorosa e espontânea.( mais amistosa )
Durante aquela baralhada toda vi escapar do bolso do Zezinho aquele papel. Aquele papel!!! Era meu...era o meu poema. Que malícia a do Zezinho, pegar meu poema não sei como para mostrar a todos...
Quando finalmente a batalha teve final todos já eram amigos novamente ( para a informação do leitor desprevenido: era normal que acontecesse isso, pois quase sempre resolvíamos os empecilhos com lutas, brigas e outros similares. ).
Que loucura Isaias! Relaxa meu... vamos conversar ( tentou amenizar o Marcão, como se ele não tivesse gostado da confusão, porque era justamente o que mais incentivava-nos à estes atos de vandalismo auto depredador, se começasse uma pequena briguinha qualquer era ele quem contribuía para que ela aumentasse e tomasse proporções estrondosas. )
Tudo bem Marcão, mas quem pegou e como pegou esse papel? ( isso eu falei pegando meu poema que já se encontrava num estado deplorável: rasgado e amassado, quase triturado. )
O Zezinho logo falou:
Foi o Fabião que achou dentro do seu caderno.
É verdade Isaião, eu confesso que fui eu que peguei ontem durante a aula de educação física, mas antes eu quero que saiba que ele já estava jogado no chão da pista de cooper, eu acho que quando você deixou o caderno no banco o poema deve Ter caído, aí logo que vi um poema no chão peguei e guardei para min, mas eu não sabia quem era que tinha feito, só sabia que era direcionado à Ana, porque vi o nome dela escrito diversas vezes. Então eu guardei para min, somente no horário da saída fiquei sabendo que você tinha escrito, quando você nos disse... ou melhor, quando o Zezinho disse que você estava apaixonado por ela, decidi hoje com todo o respeito por você e por nossa amizade, mostrar a todos este poema, que inclusive acho que ficou muito astuto, e te admiro muito por ter conseguido fazer uma união de palavras tão bonita como essa. Ana deve Ter gostado muito de ver como você se desempenha como poeta... 9 Ele não sabia que eu não tinha mostrado o poema para Ana. )Quem me dera eu fazer algo parecido...Desculpe, se fui eu que criei todo esse problema.
Tá bem meu, mas da próxima vês vê se vocês não criam tanto mistério em torno de nada.
Claro meu, (falou o Lião ) a princípio nós só queríamos fazer uma brincadeira com você, mas não saibamos que você estava levando esse amor tão a sério.
Falou pessoal... Tá tudo bem, só vocês conseguem me tirar do sério e por incrível que pareça, só vocês me põe de volta no lugar.
E assim se passou, no final de tudo certo, a verdade é que estavam todos curiosos para saber exatamente o que estava rolando entre eu e Ana, o Zezinho que era o mais novo entre nós era o mais curioso de todos ( uma coisa natural, pensei. ) , então eu expliquei que nós estávamos apenas ficando, mas que já rolava um sentimento legal. Eles aprovaram a idéia do romance, mas queriam que eu continuasse vivendo nossa amizade pois segundo Marcão comentou muitas amizades eram desfeitas ou desmanchadas quando um dos integrantes do grupo começava a amar alguma garota, eu prometi que passasse o que passasse nunca deixaria de ser amigo da turma por causa de um namoro, todos aprovaram a idéia, e ainda por cima tive que fazer um pacto de fidelidade à promessa, o pacto fora sugerido por Lião e Marcão concordava plenamente com a necessidade de ser efetuado um pacto sincero. E assim, ali mesmo na rua, como nos tempos do rei Artur, empunhando uma espada que Marcão achara na casa de seu falecido ( que deus o tenha. ) tataravô, tive que fazer o pacto, que logicamente era composto de uma cerimônia ritualística, onde empunhando a espada tive que harmoniosamente proferir palavras sagradas, ajoelhado diante de todos ( quem passava pela rua logo pensava que se tratava de uma representação teatral daqueles contos da Idade Média, só estava faltando o mago Merlín. ).
Após a cerimônia Fabião fez um breve discurso, proclamando que a cerimonia estava encerrada e todos deram vivas, Marcão logo se empolgou e buscou um antigo violão que segundo ele havia sido achado ao relento naquela mesma rua, não vendo ninguém na rua que pudesse ser dono dele se apoderou do instrumento, mas ainda assim dizia que queria encontrar o dono, pediu para que Zezinho entoasse uma antiga canção inglesa, em minha homenagem, e enquanto Zezinho tocava o violão Marcão quase começou a chorar de emoção ( até ali nunca tinha visto ele tão emocionado assim )., Quando a música acabou todos me cumprimentaram e me desejaram sorte, isso sim que são amigos sinceros, só posso dizer que gostei muito.

5 - Finalidade da vida...

Caros amigos leitores... neste momento já estou em casa... a tarde está se esvaindo e somente agora parei para pensar um pouco no que está me acontecendo nas últimas semanas ou mesmo nos últimos meses, melhor é dizer nos últimos anos...
Antes que eu conhecesse Ana eu sempre me achava um cara meio esquisito, não sei por que, mas esta é a verdade, pensava que houvesse algo de extraordinariamente diferente em min... eu sempre quis Ter uma namorada... esta é a realidade nua e crua....não posso negar que este é um aspecto da vida muito importante, é natural que em determinado momento de nossa existência passemos a querer uma companheira, ou no caso das meninas um companheiro...
Esta festa junina havia sido diferente de todas as outras que eu passara na minha vida, a verdade é que nunca havia passado uma festa junina com uma garota ao meu lado... sempre era com meus amigos, ficávamos dançando aquelas músicas como debilóides, sempre inventávamos passos novos, um sempre queria fazer melhor que o outro, depois de um certo tempo reparei que os garotos da minha idade já tinham namorada ( tenho 17 anos ), e alguns sobretudo eram até mais novos que eu... tinham 16 ou em alguns casos até 15, mas eu sempre pensei que para namorar a idade não era nem um pouco importante... mas aí então chegou um momento em que parecia que eu estava sentindo falta de algo, certamente eu queria uma companheira...como todos à minha volta... Por isso ainda acredito que a sociedade cria uma pressão em cima de todos os jovens para que comecem a namorar ou arranjar logo uma garota, ou no caso da garota um garoto, e essa sociedade é composta pela mídia e pelas próprias pessoas que estão à nossa volta, que sempre ( sem a intenção direta ) dizem que temos que fazer isso ou aquilo...
Temos que Ter a consciência de que somos únicos e temos potencial para fazer coisas legais, basta se esforçar no que mais se gosta de fazer e consequentemente desenvolver essa habilidade ( mas que seja com gosto. ), ainda acho que sou o mesmo Isaias de antes de conhecer Ana , pois as pessoas não podem mudar a sua essência da noite para o dia, e por isso não perdi meu gosto por fliperama e por andar de bicicleta no parque, essa por exemplo é uma coisa que já faz parte de min, como a dança sempre fez parte de meu avô.
Lembro claramente que no ano retrasado fui a uma festa com este mesmo pessoal que compõem a minha turma de amigos, e lá vi uma garota muito bonita aos meus olhos, fiquei ali, durante muito tempo olhando pra ela, dançava e olhava... então comecei a pensar que se dançasse muito bem ela iria gostar de min e eu teria uma chance de tentar algo com ela, no mesmo instante comecei a inventar passos de dança mirabolantes ( era Rock ) , na verdade eu nunca entendi de dança, mas parece que naquela ocasião eu estava tomado por uma vontade de conquistá-la muito grande, não queria saber o que todos iriam achar de minha dança, o importante era inventar passos de dança revolucionários que pudessem de alguma forma mexer com ela... de fato... ela me olhou... mas ainda não podia dizer se havia gostado ou não daqueles novos passos, que na realidade eu fazia por ela, somente por ela, aquilo de certa forma era um desafio para min... pois eu deveria conquistá-la, não importava como... se precisasse eu dançaria a noite toda no maior embalo. Por ela... somente por ela. Era uma gata, e se possível dançaria até não me agüentarem mais as pernas, e um pouco mais....
Derrepente começou a tocar uma música lenta muito bonita cujo nome é Only you... esta era a hora prometida pelo destino, eu tinha que fazer alguma coisa antes que a música acabasse, tomei coragem arrumei meus cabelos pro lado ( também pus uma daquelas balas de cereja na boca caso algo desse certo. ), como dizia: tomei coragem e fui ao seu encontro, ela estava sentada, e o lugar era meio escuro, mas eu podia ver perfeitamente que seus cabelos eram ruivos e lindos, ela era inteira linda, muito gata.
Cheguei bem pertinho dela e perguntei com o máximo de cuidado no uso de meu vocabulário e da entonação de minha voz se ela me concederia toda a sua beleza àquela dança, para minha tristeza ela disse um não muito claro e redondo, assim saí de perto dela meio sem graça, que havia de errado comigo?, parece que me esforçara tanto inutilmente...
Fiquei meio esquisito confesso, deu até vontade de chorar ( logicamente não chorei, , sendo que meus amigos estavam todos lá. ) , segurei aquele choro que já queria transbordar de meus olhos, dancei mais, mas agora aquela dança era outra, não havia mais um motivo para dançar, nem uma garota para conquistar... Talvez ela tenha me achado feio.... mas isso não importa, não quero ser pessimista pensei. Quero ser sincero, e quero que me levem a serio, comecei a pensar no que era importante na minha vida naquele momento. Uma namorada era importante ? Claro que sim. Era muito importante, pois enquanto dançava via casais se beijando com ardor, ficavam beijando-se longamente. Será que eu sou louco ou isso faz parte da vida? Faz parte não somente da vida como também seria a receita para uma boa dose de alegria, pensei eu na ocasião.
Não sou nem um pouco inconveniente pensei eu, é natural que eu queira fazer uma coisa destas em uma festa sendo que na maioria dos casos de namoros os casais se conhecem em festas e similares, portanto assim eu estava completamente dentro da normalidade, não desisti... quase no final da festa eu tinha que provar pra min mesmo que era um cara de personalidade, que ainda sobrava muita garra em meu coração, tomei poucos goles de água e fui novamente em seu encalço... ela ainda estava sentada...sentei-me com cautela ao seu lado e perguntei-lhe se ela sabia que era muito bonita. Ela nada respondeu, tampouco olhou-me diretamente nos olhos, apenas deixou escapar de seus lábios um sorriso perfumado, aí gostei muito de tê-la feito sorrir, no mesmo instante falei a ela que sempre era muito gostoso receber elogios, e que era uma coisa muito boa. Então pedi para que ela olhasse para min , olhou por um instante, e no momento em que ela olhou falei que somente tinha me dirigido a ela porque havia a achado fantástica em beleza e que por isso justamente por isso busquei a ela para dançar, ela sorriu, e gostou, mas logo depois falou que tinha namorado. Nesse instante perguntei-lhe se podia dar-lhe um beijo nas graciosas bochechas, ela nada falou, então com o máximo de respeito dei um gostoso beijo em sua face , e fui embora vitoriosamente. ( curti muito esse beijo, apesar de não a Ter conquistado me senti muito vitorioso, toda aquela conversa que havia tido era um gesto de personalidade de minha pessoa. )
Quando me afastei dela uma lágrima caiu de meus olhos, não era de tristeza, era uma lágrima de sinceridade, que apesar de parecer ínfima é a lagrima da vida, a lágrima que constrói o tempo, pois sem emoções o tempo nada é.
Leitor amado...a vida não é estática, pelo contrario: a vida constituí-se de movimento, tanto andar de bicicleta como sorrir por um elogio recebido ou mesmo chorar por não Ter conquistado alguém... Sorrir e chorar são duas faces do movimento mental e sentimental pois os sentimentos estão intimamente ligados com a mentalidade e os pensamentos, porque se acaso eu não tivesse tido o pensamento de querer conquistar aquela linda garota eu não teria tido a oportunidade de chorar ou quem sabe de até sorrir ( o que estou sem dúvida nenhuma fazendo agora para Ana ). Ou seja, eu não teria tido a oportunidade de viver.
Naquela festa eu digo que vivi, e ainda vivo... é possível estar vivendo fisicamente e ao mesmo tempo não viver sentimentalmente, o que é a mesma coisa que não existir, ou estar morto, sou da teoria de que só vale a pena viver se houver algum sentimento.
Falo, filósofo, penso, questiono e discuto tudo isso porque vejo que agora que já tenho uma garota para beijar e para gostar sinto o quanto lutei para viver até aqui, sem dúvida nenhuma, de uma certa forma ou de outra todos passam pela mesma situação, e pensando nestes momentos que ainda considero sagrados ( estes que são chamados de paquera. ), é que dou mais valor à Ana. Uma namorada... finalmente eu havia conseguido uma namorada.
É natural pensar sobre qual é o valor que damos às pessoas que estão à nossa volta, isso faz com que eu me sinta mais seguro em relação à Ana, que é uma linda garota.. ( como a da festa. ) mas que possuí um outro intelecto, pois de intelecto somos formados, ele é parte de nossa essência.
Essa é a finalidade da vida, a essência que se esconde dentro de cada um, a busca pelos sentimentos e por um objetivo. Devia então agora dar uma ajuda sobre humana a Ana pois agora que parara um pouquinho para pensar no valor que ela representava para min ( o de uma grande conquista. ), que podia ver o quanto tinha que fazer por ela, o quanto mais tinha que lutar, ou fazendo um paradoxo: O quanto mais eu teria que dançar para me exibir a ela e quem sabe até chamar sua atenção, pois por ela dançaria uma
ETERNIDADE.

6 - Viagem intergalática.

Estava em um planeta desconhecido... derrepente escutei uma voz daquelas totalmente metalizadas ( era uma vos feminina, isso era possível distinguir. ) , a voz parecia sair de um auto falante, ou mesmo de um computador, e dizia o seguinte:
Próxima parada: planeta Zuen.
Surpreendentemente me vi em um planeta todo esquisito: o lugar em que eu estava era uma espécie de planície, não muito grande, ao redor... ao redor eu via uma densa floresta, mas mesmo assim não era uma floresta qualquer, era uma mistura de pântano cheio de pedras grandes com cipós espalhados para todos os lados, também conseguia enxergar claramente um grande bambuzal nas margens daquela floresta... O chão naquele lugar era impressionante: estava repleto de neblina, era uma neblina que se estendia por todos os lados... chegava até a altura de meus joelhos, quando olhei para meus joelhos vi que estava vestindo uma roupa toda prateada ( o que não me assustou, simplesmente me pareceu completamente normal. ).
Ana se aproximou.( também estava vestida com aquele tipo de vestimenta futurística, achei muito legal estar ao lado dela naquele momento, o lugar me parecia muito diferente.
Sem que eu percebesse o Marcão sempre estivera ao meu lado desde a chegada naquele local esquisito então eu falei pra ele:
Cê não sabe o quanto eu lutei para chegar até aqui...Foram inúmeras vezes que tentei conquistar alguém...
Pega uns bambus para min, por favor. ( isso falou Ana, que já se abraçava em min como para se defender de alguma coisa. )
Sem frescura alguma fui até o bambuzal e comecei a pegar uns pedaços de bambus dos mais variados tipos, somente os que tinham um tamanho médio, devo Ter pegado uns cinco ou seis, alguns estavam perto de uma gigante pedra ao lado do bambuzal.
Por uma questão de infinitésimos de segundos ( se é que assim posso me expressar ), Surgiu uma aranha enorme debaixo da pedra, a aranha ( só para dar uma idéia. ) tinha a estatura maior que jamais pudera ver: vinha até a metade de minha coxa, era do tipo de pernas finas e quase não tinha corpo. O que era super dimensional eram mesmo suas pernas que eram muito compridas.
Comecei a afastar-me dela com cautela, ela veio em minha direção, quando cheguei perto de Ana que me esperava no centro daquela planície neblinada vi que tinha que defender Ana daquele monstro horrendo, que vinha em nossa direção, e, como ainda carregava os bambus que tinha pegado, com um dos bambus e uma coragem totalmente segura matei a aranha com pauladas.
Após isso mostrei os bambus a Ana, ela gostou, só não quis pegar aquele que tivera sido usado no ato de massacre da aranha, o que era uma coisa natural, por isso joguei-o fora.
Me despedi de Ana que derrepente desapareceu ( não sei como, pareceu desaparecer do nada, sem que alguma forca exterior interviesse, derrepente havia se tornado transparente, e assim pouco a pouco até desaparecer inteira, numa questão de segundos. ).
Então comecei a correr, corri, corri e corri, cheguei a um lugar completamente futurístico, entrei pra dentro do lugar ( sempre correndo, parecia que era uma questão de vida ou morte. ), o lugar era feito todo de metal, um metal escuro e avermelhado, não tinha janelas, mas mesmo assim era muito claro, apesar de não Ter também qualquer coisa que se parecesse com uma luminária ou luz.
Ao entra correndo ali, dei um salto quando vi irregularidades na construção do terreno, somente agora vi que haviam vários níveis, rapidamente me pendurei em um parapeito e saltei como um felino para o andar de baixo...
Olhei para trás e vi que um robô me perseguia, com muita segurança virei para trás e puxando uma arma laser acertei-lhe uma rajada, que sem dúvida nenhuma o explodiu, mas ainda assim ele obteve tempo para acertar-me uma outra, eram rajadas vermelhas, e iluminavam todo o lugar, quase ofuscando a visão.
Não me machuquei muito, quase nada... acho que aquela roupa me protegia muito bem...
Voltei rapidamente ao lugar de onde havia vindo: aquela planície. A nave finalmente havia chegado, era um disco totalmente prateado, mas não era como aqueles discos voadores todo ostentados de botões, e parafernálias deste tipo, era simplesmente um disco prateado, e girava na órbita daquele planeta. Vi o disco ao alto... bem ao alto, parecia que possuía mais ou menos as dimensões de uma lua cheia, devido á sua altitude.
Me vi desaparecer aos poucos ( como Ana. ) , derrepente me vi dentro daquela nave, estavam lá o Marcão Ana, e... e quem me dera, o piloto daquela coisa era meu professor de educação física, que na hora em que me viu soltou um largo sorriso quase que larguíssimo e voltando seu rosto em direção aos controles do disco deu a partida ( por incrível que pareça ouvi um nítido barulho de carro quando se dá a partida.
Assim o disco partiu em direção à vasta e infinita galáxia.


7 - Despertando para a realidade.

Acordei. Por um momento pensei não saber onde estava, um sonho, tudo aquilo havia sido apenas minha imaginação. Ouvi logo o carro que estava sendo ligado por meu pai que sempre aos domingos ia buscar o meu vô para que almoçássemos a famosa macarronada do Domingo ( aquilo era uma das coisas mais sagradas da família, pois pela parte de meu pai éramos descendentes de italiano; já pela parte de minha mãe descendíamos de norueguês, por incrível que pareça. Mas meus avós noruegueses viviam lá na Noruega, os víamos somente nas férias quando vinham para cá ou quando íamos para lá, inclusive era lá onde eu mais treinava o pouco inglês que tinha das aulas da escola, já até conseguira fazer uns poucos amigos que de vez em quando mandavam-me cartas ou postais. )
Me espreguicei , olhei no despertador... já eram onze e trinta e dois, que maluquice; Até que horas eu deveria Ter ficado filosofando ontem à noite?, fui tomar um banho para ver se acordava direito. Comecei a pensar neste sonho, e reparei que foi um sonho legal, parecia aqueles filmes de guerras intergaláticas, ou também Guerra nas estrelas, foi incrível. Dizem que os sonhos provém de nosso próprio inconsciente, mas esse aí parecia muito real, eu havia parecido um daqueles heróis de histórias em quadrinhos.
Mas o que Ana e Marcão poderiam Ter a ver com todo isso? Por que eles estariam figurando comigo ali naquela situação? Não me lembro exatamente como havia sido o sonho, porque a gente sempre esquece o que falou e o que escutou nos sonhos, mas lembro claramente que eu estava em uma situação em que estava defendendo Ana de uma aranha perversa, também lembrei da luta que tivera com aquele robô, mas não me recordo exatamente o que tinha falado com o Marcão, mas o que não entendi nem um pouco foi o que estaria fazendo o pentelho do professor de educação física no comando daquela nave. Será que até nos sonhos ele tinha a capacidade de ser impertinente?
Não me preocupei tanto com esta última questão pois isto era o que menos me importava. O que mais me importava no momento era Ana, Ana e a festa, não acredito em superstições, mas, mesmo assim fiquei pensando que deveria proteger Ana de alguma coisa naquela festa ( justamente por causa do sonho. ). Caramba!..., às vezes nós temos cada sonho...

8 - Meio dia em ponto.

Quando o relógio coco tocou e o horário deu meio dia todos já estavam preparados para o almoço, que era composto de uma cheirosa macarronada ( feita por meu pai, que se dava muito bem na cozinha. ) e naturalmente o queijo ralado que dava um sabor especial.
Meu avô como sempre trazia suas músicas italianas, o fim de semana passado haviam sido músicas da Rita Pavone, que segundo minha interpretação eram músicas maravilhosas, hoje ele tinha trazido canções da tarantela, como sempre eram muito divertidas e tinham aquele ar de animar qualquer um...
Pusemos o disco para tocar e fomos todos comer, meu avô, animado como sempre logo começou com suas típicas exclamações:
La pasta asciutta deve estar muito bona.
Claro que si pai, come sta? ( falou meu pai ao meu avô, era muito normal eles misturarem os dois idiomas durante este almoço. )
A mesa estava vestida com uma toalha branca com quadriculados vermelhos nas extremidades, era uma coisa muito típica dos italianos este tipo de simplicidade. Enquanto a música trazia um agradável som de fundo meu pai , voltando-se ao meu avô, como sempre começou a discussão ( enquanto colocava bastante queijo ralado no macarrão ), porque italiano quando conversa mais parece que está discutindo que outra coisa.
Venezia! Roma! Milano! Pádua! Quanto tempo papa! ( a uns três anos eles haviam ido à Itália juntos. )
Si, si, si, meu filho! Quanto tempo! Sardenha! Sicília! Itália... a melhor bota que existe no mundo!
Terra de bois papa!
Si! Mas somente em 1861 Víctor da Sardenha va unificar este país.
Capisco, Víctor Emanuel II , grande Víctor...
Buono Víctor!! ( repetiu, em alta entonação, com uma consonância de responsabilidade, como se ele estivesse conversando com o próprio Víctor, ainda fazendo uma careta de aprovação ao sabor da pasta. )
Papá, ( tornou a falar meu pai como se ainda não tivesse satisfeito com as idéias de Víctor, foi o que eu pensei no momento pois no momento fez uma cara difícil de descrever. ), e Benedito Mussolini, pero que grande homem aquele!
Grande homem! Grande homem! ( gritou meu avô , contrariado com a opinião de meu pai. ), Non capisco! Non capisco!! ( berrou todavia mais forte já fazendo umas representações com as mão, coisas normais quando se tratava de uma simples conversa. )
Pero papá, per favore. 1920 una bona coisa para la terra dos bois.
No!!! ( gritou mais uma vez meu avô enquanto quase engasgava com um fio de macarrão que ficara perdido pela boca. )Mussolini é cattivo!
Que cattivo nada, la ditadura non va ser tuto isso...
No, no, no... Mussolini é cattivo perque va perder la Segunda guerra mundial, pero la república solo veio em 1946... 20 anos depois!
Claro! Claro! ( falou meu pai, desta vez concordando com meu avô. )
Minha mãe decidiu intervir, enquanto servia orégano a todos :
Porque não falamos sobre a toscana?
O que é toscana? ( perguntei eu desinformado. )
Toscana! ( disse meu avô com aquele singular sotaque italhanesco. ), toscana, el dialeto principal de Itália, foi o dialeto que unificou a verdadeira língua italiana...
Dante Alighieri! ( falou meu pai, cortando a explicação de meu avô. )
Si! Si!... Dante Alighieri fez o poema pelo qual conhecemos como Divina comédia, e foi ele quem justamente ajudou a formar a língua. ( voltou a explanar meu avô. )
E o Renascimento, tivemos também outras grandes obras ( voltou a falar minha mão ) pois o Renascimento foi o despertar cultural que se espalhou para a Europa através da Itália.
Buono! ( Exclamou meu avô dirigindo o olhar à minha mãe. ), durante o século xv !!
O almoço transcorreu totalmente normal até aí, mas derrepente meu avô decidiu falar sobre o vídeo que tinha me emprestado, e me perguntou ( na mesa diante de meus pais e meu irmão) se eu ainda tinha alguma dúvida. Respondi que não, nesse momento meu irmão desatou a rir de min, meu avô fez-lhe um sinal para que me respeitasse, no mesmo momento silenciou. Ainda bem que meu avô não falou nada na mesa a respeito da Ana, pois eu havia contado a ele tudo sobre a festa que teria e que queria chamar a Ana para dançar. Era uma espécie de segredo.
Fizemos a prece final após a refeição, conforme nossa cultura extremamente católica, e ao final de tudo meu avô sempre dizia uma frase latina para que pensássemos sobre ela durante a semana, e a frase de hoje foi:

Carpe diem.

Depois ele falou que significava : aproveita o dia, e que segundo minha opinião é uma frase que pode salvar o dia de muitas pessoas, pois se [pensamos isso logo pela manhã podemos fazer as coisas com um grande intuito, realmente aproveitando nosso tempo numa boa empreitada.
Saí do almoço com essa frase na cabeça, entrei no meu quarto, a janela estava aberta, sentei-me no parapeito e comecei a pensar em algumas coisas que me ocorreram: Ana que a muito tempo estava a fim de min decidiu em um belo dia de sol chegar perto de min e puxar uma conversa. Isso foi no Domingo passado, exatamente a uma semana. Na Segunda fui ao shopping com essa mesma garota...foi legal, mas na verdade o que eu queria mesmo era ficar com ela. Até a Quinta rolava um romance legal entre eu e ela e foi neste mesmo intervalo de tempo que ela me convidou para ir à festa da amiga dela. Fiquei feliz. Fui na Quinta à academia de dança do meu avô onde peguei o vídeo que assisti com muito gosto. Na sexta aconteceu aquela confusão toda em que eu fiquei encanado pensando que a Ana tinha me deixado. Ontem eu fui procurar o Marcão e ele me deu o endereço da Ana, ela me falou do motivo de sua ausência no encontro, e depois o pessoal decidiu que eu tinha que fazer o negócio do juramento para não sumir da face da terra.
E finalmente hoje eu acordo lembrando Ter tido um sonho de ficção científica em que estou protegendo Ana, Agora ao terminar o almoço meu avô disse uma expressão que me deixou intrigado: cape diem, aproveita o dia.
Qual era a conclusão que eu deveria tirar de todos estes últimos acontecimentos?
As coisas até que estavam muito bem considerando que eu havia conhecido uma linda garota do segundo ano como eu. É lógico que existem coisas que eu não queria que tivessem acontecido, como por exemplo o meu poema que foi cair justamente nas mãos do Fabião ( por um lado é uma coisa boa, pois pelo menos não foi parar na mão de uma outra pessoa qualquer que pudesse tirar um sarro de min, pelo menos isso era verdade. )
Afinal, não posso reclamar de nada, é normal que meus amigos queiram caçoar de min por um momento, mas como estes são amigos de verdade, eles compreendem com clareza que não existe nada de mais em eu estar fazendo poemas. ( levando em consideração os sentimentos das pessoas. ) O sonho que tive me trouxe algo de interessante, pois eu realmente quero ser um herói, quero proteger Ana passe o que passe. E foi justamente isso o que eu fiz ontem... quando fiquei ciente do que ocorrera com ela ( sobre a morte de sua avó ), logo me vi na condição de seu defensor, queria ajudá-la de qualquer forma. Mas antes eu só pensava em min: pensava que iria perder ela porque ela não havia ido ao encontro da Sexta... isso de certa forma é um egoísmo, pois são vontades minhas e de mais ninguém. Assim está a situação, agora quero mais não a minha diversão mas a diversão da Ana, bem... agora chega de filosofar... carpe diem!! Como disse meu avô... carpe diem!!

9 – Depois destes fatos...


Ao atender o telefone logo senti que era a voz suave de Ana, era como uma orquestra para meus ouvidos.
Alô!
Oi, tudo bem?
Tudo sossegado, e você?
Só me faltava ouvir você para ficar boa...
Dengosa.
Com você qualquer garota ficaria dengosa.
Mas estou seguro de que você não é qualquer uma...
Bem... disto eu também estou certa sobre você... Mas o que quero saber mesmo é se você vai na festa de que havia lhe falado.
Perfeitamente.
Então temos que combinar isto direito: Onde nos encontramos?
Não sei, onde você quiser.
Eu decido então que nos encontremos em frente à sua casa. Topa?
Na minha casa? Como assim?
Vou te pegar na sua casa, logicamente que não vou a pé...
Como? Me explica isso direito.
É que minha mãe vai emprestar-me o carro por esta noite, e assim te busco em casa.
É verdade, você já fez dezoito anos... por min está tudo bem...
Então a que horas você acha que eu devo passar aí?
Há... ( soltei um breve gemido como se isso pudesse ajudar a pensar. ), pode ser mais ou menos às oito...
Sabe Isaias... a festa vai começar às oito em ponto, mas era legal a gente ir lá mais ou menos às dez.
Concordo, também acho que início de festa é sempre aquela ladainha, sendo que temos que ficar esperando para a festa esquentar... né?
É isso mesmo, e por isso estarei aí na frente da sua casa às nove horas, acho que esse sim é um horário bom, nem muito tarde nem muito cedo.
Bem Ana, a sua opinião sempre prevalecerá diante da minha, você sabe que para você sou apenas um cervo prestativo, como se estivéssemos nos tempos antigos da Idade Média...
Bobinho ( falou ela carinhosamente. )... você está querendo que eu ceda aos impulsos de começar a fazer de você um mero e pequeno trabalhador... não...não... farei uma coisa melhor, muito melhor, apenas te amarei.
Bem... se este é o teu desejo... este será o destino... pois quem manda no destino é você.
Tá bem Isa...
Posso te fazer uma pergunta?
Claro
Se não tens meu endereço, como é que virá aqui?
Sem problemas. Já consegui arranjar informações sobre onde você mora.
Onde? ( perguntei eu com uma curiosidade imensa. )
Justamente na rua... ( ela falou exatamente o endereço certo e ainda por cima fez questão de dizer qual era a cor da casa, como era o portão e outros detalhes tão pequenos que nem mesmo eu houvera notado direito. )
Caramba! Como isso é possível? Por acaso você conhece Sherloc Holmes?
Não exatamente...mas mesmo assim tenho meus meios...
Que meios? Se me permite ousada pergunta.
Não...acho que não... essa pergunta não está no regulamento.
Não vou insistir tanto assim... mas fique atenta Aninha, que um dia saberei como conseguiste tantas informações sobre min...
Então... acho que um dia te conterei!
Um dia dentre a vasta infinidade das décadas... ( Falei com uma certa tristeza. )
Não precisa ficar assim que segundo minhas previsões não tardará muito para que você descubra minhas fontes informativas indiretas.
Hummm... fontes indiretas... isso já está me parecendo muito insinuante, tudo bem, pode estar segura que estou mais relaxado. Seja assim encantadora como você é que estarei aqui mesmo esperando você. Minha gata!!!
Tá bem! Se pudesse te dava um beijo pelo telefone, mas como isso não é possível, que fique então na sua imaginação.
Thau minha encantadora fonte luminosa.
Falou Isa.
Aconteceu que após desligar o telefone me sobreveio uma vontade imensa de andar de bike, e foi isso o que fiz. Peguei a bicicleta e saí pelas ruas a todo vapor. Naturalmente como era Domingo, as ruas estavam completamente vazias, e isso me dava mais coragem para sair na máxima velocidade.
Cheguei depois de uns vinte minutos ao parque ( aquele mesmo em que houvera conhecido Ana. ), não sei quantas voltas dei por lá, a única coisa que sei é que fiquei rodeando e rodeando bastante. Minhas pernas já haviam se acostumado com aquela situação e ao mesmo tempo minha mente descansava... simplesmente não pensava em nada. Aproveitei a oportunidade e comprei uma caneta com um desenho muito bonito para dar de presente para a aniversariante, pois ali mesmo no parque se encontrava uma pequena lojinha de souvenieres que era como aquelas farmácias que abriam todos os dias, o desenho segundo o vendedor era de um dos quadros de Picasso, mas sem dúvida alguma era um desenho muito bonito, apesar de não se entender direito do que se tratava, parecia algo como uma mulher sentada em uma poltrona, e ainda por cima era feito através de cubos, círculos, retângulos e outras figuras geométricas, todas vivamente coloridas, ou seja: segundo minha opinião aquela era uma caneta fantástica. Não conhecia o gosto da garota, mas tenho certeza de que desta caneta ela iria adorar.
Cheguei em casa após umas três horas. ( foram três horas de descanso mental. ), minhas pernas estavam doendo muito. Tomei outro banho, pensei: que loucura, às vésperas de uma grande diversão decidi me exaurir... por um lado foi muito bom pois estava me sentindo muito bem psicologicamente.
Assisti mais uma vez o vídeo de meu avô, aqueles paços de dança já estavam mais que decorados. Não adiantava mais ficar decorando aquelas coisas que os homens devem falar diante das damas, porque na verdade ( pensei eu ) deve-se falar o que está dentro de cada um. E isso logicamente está dentro de cada um. Concordo porém que uma boa educação e atos inteiramente gentis devam fazer parte de qualquer que se predisponha a conquistar um ou uma ( naturalmente ) parceiro ou parceira.
Decidi então pegar um livro para ler, não era muito do tipo de leitor ávido, mas de qualquer forma me sentia muito bem diante de um livro. Então fui à mini-biblioteca de meu pai, e lá vi muitos títulos intrigantes: O nome da rosa ( esse nome me pareceu conhecido ), O mundo de Sophia (era um livro grande com uma capa bem esquisita. ), Os cavalheiros da távola redonda. ( este livro eu já conhecia, mas não nesta edição. Era um tomo de capa dura, toda vermelha e na capa as letras se dispunham em alto relevo, e em cor dourada, isso me chamou a atenção.). Folheando um pouco aquele livro dos Cavalheiros que mais me parecia uma antigüidade, pelo formato que possuía, vi que em uma das páginas havia a figura de um rei. Provavelmente aquele seria o rei Arthur, o mais honroso homem da Inglaterra. A figura só me chamou a atenção porque apesar de estar desenhada em preto e branco a imagem quase me pareceu real, tamanha era a habilidade do desenhista que fizera isso, quando me abstive um pouco mais vi que na espada que era empunhada pela mão direita do rei havia algo escrito em letras minúsculas, tão pequeno que quase imperceptível. Aproximei meus olhos daquela perfeita imagem e vi claramente o que é que estava escrito naquela imagem: Honrai a espada.
Conhecia muito bem a história da távola redonda, e , de certa forma aquilo fazia muito sentido... pois o rei Arthur, possuindo uma espada com todo aquele poder deveria usá-la justamente, e nós que sempre de uma certa forma ou de outra possuímos alguma coisa de interessante, devemos dar valor a isso, e que nossas atitudes ( através das habilidades. ) justifiquem nossos meios, pensei eu enquanto procurava um outro volume mais interessante.
Derrepente bati o olho num volume inteiramente cor de cobre, me parecia muito antigo, a primeiro instante pensei ser um daqueles contos italianos que haviam sido trazidos pelo meu avô, mas, quando o puxei para ver o título lá estava: As mil e uma noites.
Foi este mesmo o escolhido.
Fui para meu quarto e comecei a ler... achei que a história era meio maluca ( desculpe leitor minha ignorância diante de grandes livros. ), não entendia nada... mas logo depois vi que se tratava de uma história muito legal, e passei a tomar gosto pelo livro.
O mais gostoso que existe no mundo quando se trata de ler um livro é quando a pessoa passa a Ter naturalidade ao ler.
O dia passou rápido, pois após me entretener com aquele tomo fui à rua ver se o pessoal estava lá, estava frio, cheguei na casa do Marcão e lá ele estava com o Lião. Os dois me falaram que também iam a festa ( A aniversariante era muito conhecida, talvez fosse conhecida pela escola inteira. ), e me perguntou o Lião como eu iria para a festa, falei-lhe que iria de carona, não especificando exatamente com quem. Combinamos então que nos veríamos na festa. Estes caras às vezes se tornavam meio inconseqüentes nas festas ( por motivos que creio que saibam já os leitores quais são.)
O Marcão com aquele temperamento característico não aceitou em hipótese alguma que fizéssemos zoeira nesta festa... falou que esta festa seria uma coisa diferente, justamente ( lembrou ele, como se estivesse esquecido alguma coisa. )
Esta será um baile para apaziguar nossas amizades pessoal.
Não acredito. ( disse eu. )
Pode acreditar no que estou falando, e que seja escrito em letras maiúsculas em todas as paredes da escola: Seremos muito amigos, e , vamos aproveitar a brecha dessa festa e fazer uma amizade cada vez mais da hora.
Claro... é isso aí, eu também acho que as coisas devem andar por esses caminhos. ( disse o Lião tirando um sarro do que o Marcão estava dizendo. )
Anoiteceu, e me aprontei para ir à festa, o Lião tinha dito que seria uma festa tipo anos 60, mas na verdade eu achava que seria uma mistura de um pouco de cada coisa: pop, rock, samba, e outros ritmos alternando entre lentas e rápidas.
Meus pais já sabiam que eu iria a esta festa, sempre que haviam festas deste tipo eu tinha toda a liberdade do mundo em relação ao horário, mas meu pai principalmente exigia que eu não bebesse além da conta. Mas eu sempre digo à ele que não bebo nada de bebidas alcoólicas, o que é a mais pura verdade, mas mesmo assim sempre antes de ir às festas meu pai dava o mesmo recado e ainda mais com as mesmas palavras, o que eu achava impressionante, por ele não esquecer uma vírgula sequer.
Eu até achava aquele recado de meu pai muito legal, porque assim eu sentia que ele se preocupava comigo.
Ana foi pontual, chegou exatamente às nove horas, não que eu tenha duvidado de sua pontualidade, mas ela parecia suíça devido à sua incrível astúcia temporal.
Por um instante me imaginei, e perguntei a min mesmo em pensamento se estava bem vestido, tudo bem...me sentia o próprio perfect-men, estava vestido com uma calca jeans normal, mas o que fazia-me sentir bem era a camisa branca que estava usando ( que estava sendo usada por dentro da calca ), além disso o cinto esverdeado que fora emprestado por meu pai dava-me ares de engenhosidade intelectual. Meu perfume tinha um odor agradabilíssimo e segundo minha opinião era mais que aconselhável à qualquer um. Havia também passado um gel em meus cabelos que por natureza eram pretos e que com o gel, escureciam ainda mais ficando assim bastante brilhosos. Por min estava tudo em cima.
O carro era cor de vinho... se não me engano um Opala belíssimo. Ana parou em frente de casa e abriu a porta do carro, logo fui correndo em direção ao opala, que se encontrava com o vidro do passageiro já aberto. Olhei para Ana com grande esplendor, quase não acreditava no que via, pois Ana estava mais bela que nunca, era como Ter a visão de um anjo: quando se olha se têm um grande jubilo, e quando se desvia o olhar pensa-se Ter sonhado um maravilhoso sonho. Afinal...ela estava a começar pelos cabelos, estavam presos em um cacho maravilhoso que dava voltas harmoniosas deixando à vista seu branco pescoço, seus olhos, verdes como sempre ( isso é lógico, mas mesmo assim não pude deixar de reparar. ) demonstravam grande mansuetude. Ana estava vestindo um maravilhoso vestido que cuja a cor oscilava entre verde e azul ( o que dava um contraste muito bonito com seus olhos. )
Enfim: eu quase fiquei de boca aberta neste momento. ( só não fiquei para demonstrar uma boa postura. ). Ela, pela cara que fez pareceu aprovar-me, então me convidou para entrar no carro, que pelo odor exalava um maravilhoso perfume, entrei no carro, Ana pôs no toca fitas um Only you e beijando-me disse:
Vamos à festa!!
Nesse momento me senti muito bem. Acho que estes momentos de felicidade na vida são muito importantes... pois são eles que nos dão estímulo para continuar prosseguindo neste caminho que é a luta. Então ao som de Only you partimos para a festa entre beijos e confissões amorosas. Entre estas confissões, uma que bem se destacou foi que ela falou que sempre sonhara em ser repórter, e agora pensava que o melhor seria prestar jornalismo. Achei legal, e quando ela me perguntou o que pensava para o futuro falei que sempre desejara ser desportista, e que apesar de Ter apenas dezessete anos ( uma idade que para o esporte eu considerava pouca. )
Eu obtivera um excelente tempo na aula de educação física, e disse isso nas seguintes palavras:
Bem... Aninha do meu pobre coração...a minha vida sempre foi baseada mais ou menos nos esportes, quando tinha doze anos comecei a querer fazer um monte de coisas, como: nadar, correr, jogar futebol, basquete e principalmente o que considero o meu forte: pedalar.
- Pedalar!?! ( exclamou como querendo dar mais ênfase ao que havia sido dito. ).
Sim, logo quando eu tinha quinze anos participei de alguns triatlons, sem grande objetivos. Participava só para zoar, e meus amigos ficavam me vendo na chegada para fazer uma grande torcida, que sempre ficava gritando meu nome como desesperados, ora essa, até este momento tudo não passava de uma brincadeira, mas de um ano pra cá comecei a querer a levar a sério essas competições. E finalmente, em um santo dia consegui em um triatlon chegar em quarto na minha categoria, o que analisando meu esforço é bom sinal.
E agora, você acha que isso pode virar alguma coisa?
Não sei... ainda é viável, existe uma idade mais aconselhável para começar a treinar mais forte, e acho que estou justamente nesta linha: entre os 17 e 18 anos.
Você quer dizer que estou no limiar desta faixa etária?( perguntou fingindo Ter ficado nervosa, fazendo uma clara brincadeira enquanto parava o carro em um farol que se fechara à frente. )
Não... ( fingi também acalma-la, fazendo leves carinhos em sua testa, como para fazer com que ela relaxasse. ), fique tranqüila que não há nenhum problema em Ter dezoito, é praticamente a mesma idade.
E então? Conta mais.
Mais tarde fui fazer um teste na escola mesmo, um teste de bicicleta ergométrica... passei, e o professor este ano mesmo me convidou para participar da corrida dos sete anos, lá no interior.
E você vai para lá?
Claro, pois lá poderei estrear minha nova Montain.
Quero ir junto.
Verei o que posso fazer no seu caso querida... ( falei com uma voz grossíssima, imitando o diretor da escola, ao que ela não resistiu e riu amorosamente.
O carro parou em outro semáforo, e um outro carro parou ao lado do nosso Opala cor de vinho, derrepente vi que se tratava do carro do pai do Fabião, era um Gol amarelo claro ( uma cor muito esquisita, pois contrastava grandemente com a noite. ), Ana não percebeu nada ( pois eles estavam ao lado de onde eu me sentava. ), o Marcão era quem dirigia, no passageiro deles estrava uma garota que não conheço ( tinha quase certeza que era aquela amiga desconfiada de Ana, mas ainda não estava certo de meus pensamentos, pois ela estava explosivamente produzida. ), atrás iam Fabião, Zezinho e Lião e pareciam estar contando piadas ou alguma coisa assim, pois estavam muito entretenidos. ) O Marcão tampouco houvera me visto, e estava conversando alegremente com aquela garota.
Casualmente o Marcão virou o rosto em nossa direção, e me viu, abriu o vidro do carro e fez para min uma calorosa saudação. ( o leitor a muito está ciente que um simples cumprimento dele pode parecer até um abraço do Connan. )
Fala aí Isaião ! Tá indo pra gandaia?
O vidro do Opala já estava aberto, e a Ana quando escutou o Marcão gritar ( lembremos que isso era mais que normal quando se trata da personalidade daquele cara. ), ficou surpresa e o olhou com espanto para o lado de onde escutara aquela bomba de Hiroshima. Ainda mais no momento em que Marcão soltou aquela exclamação todos que estavam no Gol olharam para o lado.
Não fiquei surpreso por mais esta do Marcão, então agitando ainda mais gritei para ele uma frase mais empolgante ainda. ( sendo que o calor da festividade aumentara. )
É isso aí meu. Vamos lá!!
O farol abriu, e Ana aceitando a provocação de Marcão que já roncava os motores acelerara mais ainda, fervendo de vibração Marcão ligou um Reggae do Bob Marley no último volume.
Os dois carros explodiram, não sei qual carro andou mais, pois pelo que senti oscilavam mais ou menos na mesma linha. Não haviam outros carros na rua, pois se ao contrario fosse já não estaríamos ainda vivos. Ana gostando daquilo tudo ainda me deu um beijo enquanto acelerava. Falei no mesmo instante que ela deveria ser mesmo uma louca por não Ter consciência do que estava fazendo.
Não durou muito, pois um pouco à frente estava mais um farol fechado. O Fabião então começou a gritar para o Marcão, enquanto isso eu dava mais um beijo na Ana ( tudo aquilo parecia energético, eu me sentia dominado por uma força de desejo muito grande, que fazia com que eu aceitasse qualquer coisa destas como sendo natural. ) , mesmo beijando aquela garota eu via que no outro carro o ambiente estava agitadíssimo, pois enquanto o Fabião gritava para o Marcão , estava realmente vociferando, mas nada era possível escutar, pois o volume do Bob Marley era dinossaurico, e por isso mesmo e por outro motivo o Marcão nada escutava. O outro motivo é que ele estava ocupadíssimo com aquela garota que eu supunha ser a amiga de Ana, estava justamente beijando-a com grande vontade.
Zezinho e Lião eu não conseguia ver, pois não estava no ângulo de minha visão. Fabião, deve Ter cansado de gritar, e subindo em cima do casal ( numa posição difícil de descrever. ) esticou seu braço direito e abaixou um pouco o som do Bob. Eu acabara de cair no colo de Ana sentindo um friozinho na barriga continuava a beija-la. Derrepente ouvi o Fabião gritar que o farol havia aberto e que a gente se via na festa.
Depois disto Ana se recompôs, botou as mãos no volante, aumentou o som que agora era do Chuck Berry e roncando os motores, deu-se lugar a uma nova corrida, agora os carros pareciam estar mais velozes ainda sentia o vento entrar pela janela com grande força, Ana parecia estar possuída pela mesma idéia que possuía Marcão, não sei direito no que pensei nesse momento, passou muito rápido, o Marcão variava seu olhar entre o asfalto e o rosto de Ana, e de vez em quando dava uma risadinha meio sarcástica. Por um momento fiquei com medo, pensei que aquilo tudo fosse uma loucura, todo bem que as ruas estavam relativamente vazias, mas o problema era se...
O problema que pensei nesse momento apareceu: a polícia. Era um carro, e estava já nos perseguindo na maior velocidade.
A gente têm que fazer alguma coisa!! ( gritei eu desesperado. )
Fazer o quê?!? Parar?
Não!( repondi angustiado com a situação que me pareceu absurda. ), não pare.
O Marcão não havia parado, ao contrario: acelerava cada vez mais, como se quisesse levantar vôo, no carro dele vi que todos também estavam desesperados e gritavam sem parar. Principalmente o Fabião que era o filho do dono do carro.
O carro do Marcão passou na nossa frente e começou a se distanciar, em quanto isso o carro da polícia com a sirene ligada chegava cada vez mais perto do nosso, a rua em que estávamos possuía dois sentidos e estava praticamente desértica, mas de vez em quando passava um carro no sentido oposto.
Num ato de pânico eu gritei:
Vai Ana!!! Segue o Marcão!!!
Tá bom!!! ( gritou ela com as mão firmes no acelerador, e com o pé lá embaixo. )
O carro da polícia parecia ser mais rápido, e era, pois conseguiu encostar na parte de trás de nosso Opala cor de vinho, deu uma batida, duas, e quase a terceira, mas antes disso Ana fez uma leve curva que por um momento o tirou da direção, não impedindo porém que chegasse a querer nos encostar à força, pois agora estava andando na contra mão. O policial que dirigia solitário ( ainda bem. ) aquele veículo começou a gritar.
Parem! Vocês estão infringindo as leis...
Antes que ele terminasse de falar vi que derrepente o Marcão virou uma travessa à direita como um foguete ( derrapou muito. ). Pegou Ana de surpresa, sendo que estávamos logo após à ele e pretendíamos segui-lo No mesmo instante soltei um berro.
A próxima a gente vira!
Onde!?!?
A próxima travessa!!!
Parecia que pelo nervosismo a adrenalina já estava a mil por hora, agora aquilo havia se tornado uma questão de sobrevivência. Viramos uma travessa depois cantando pneu, e por sorte não batemos em um caminhão que vinha na outra direção, foi na verdade uma questão de centímetros, nunca tive tanta sorte assim na vida, ao contrario daquele policial que bateu de raspão no caminhão, e ( por nossa sorte ) se viu obrigado a parar , olhando para trás ainda vi que saiu do carro e foi logo correndo em direção de outro carro qualquer, o que já era tarde de mais pois já estávamos longe de mais. Encontramos o Marcão que quando nos viu andando devagar já se acalmou, havíamos conseguido despistar o guarda, mas não sabíamos mais onde estávamos.
Depois de meia hora conseguimos encontrar o lugar da festa ( que inclusive não era muito longe de onde batera o carro da polícia.
A festa parecia estar boa, porque pelo que ouvíamos da rua já deveria estar bem cheia. Estava sendo feita em uma casa especial, onde muitas vezes eram feitos bailes de formatura.
Logo na frente se enfatizava um chamativo portal branco, destes que servem para enfeitar juntamente com plantas trepadeiras, e no portal uma Primavera mostrava suas lindas flores vermelhas. Descemos do Opala, primeiramente fomos cumprimentar os meus respectivos amigos que também desciam do carro do Fabião.
- Vejo que vocês estão se dando muito bem. ( falou aquela garota que eu achara ser a amiga de Ana que havia visto na escola, o que agora eu tinha quase uma certeza muito real, somente pela forma maliciosa com que ela fizera tal afirmação, estava de mãos dadas com o Marcão, o que não sabia até então era que ele a conhecesse. )
É respondi eu ( apesar de não conhece-la direito, queria provar a Ana que a defenderia de quaisquer ataque, moral ou físico, ), nós estamos juntos desde a semana passada.
Ana pareceu gostar de minha audácia demonstrando isso quando esboçou um sorriso na face. Realmente, pensei eu, aquela era a amiga de Ana, lembrei-me justo agora de seu nome que parecia sempre querer escapar de minha mente... era a Maria, se me recordo bem, a mesma que trajava na escola uma calça de hippie e que na ocasião levava seus cabelos presos. Sem sombra de dúvidas, era uma garota adorável, mas agora estava bem diferente, pois seus cabelos estavam soltos deixando transparecer negros fios muito lisos, vestia-se com uma roupa branca muito bonita também, era uma blusa daquelas do tipo tomara que caia que era bordada como uma roupa dos tempos imperiais ( realmente pensei eu, ela tinha um gosto muito refinado. ), e uma saínha que batia na coxa, muito cavada, que talvez não aprovasse se fosse vestida por Ana ( sem querer acusar nada, pois até ali só achava Maria meio faladora, parecia trabalhar para a inquisição.)
O Marcão me cumprimentou ( moderadamente pois as únicas exceções que existiam em nosso cumprimento usual eram as festas e os bailes, uma coisa que sempre era respeitada em nosso grupo. ) com uma cara de garanhão, e disse que tudo o que tentara era desviar-se daquela perseguição, o Fabião rodeou seu carro para ver se estava tudo em ordem., o que parecia estar, sendo que ele ficou em silêncio. Só não sei se este era um silêncio bom ou ruim. )
Acho que agora já está tudo em cima.
Você quase destruiu meu carro! ( Fabião extremamente contrariado não conseguiu aceitar a idéia de que Marcão começara todo aquele transtorno. )
É verdade... mas pelo menos a gente conseguiu escapar.
Melhor ser pego que correr o risco...
Que nada Fabião, relaxa.
E ainda mais que o pentelho do Zezinho estava no carro.
Eu?( perguntou bobamente Zezinho, que não gostava de ser considerado sempre o mais novo, apesar de ser. )
É, você.
Na minha opinião... ( falou o Lião com um jeito de quem entende tudo do assunto. )na minha opinião, fizemos exatamente o certo, pois se não tivéssemos feito isso poderíamos Ter entrado numa pior, sendo que somos em nossa maioria menores de idade. E ainda assim, imaginem só o que poderia Ter acontecido se parássemos para aquele guarda: no mínimo ele iria querer confiscar os carros, e nem quero pensar no resto...uma fria... é isso mesmo que seria de nós. E você Isaião que acha disso todo?
Eu acho que apesar de isso tudo ser a mais pura loucura acho até que nos saímos muito bem...mas que fique muito claro uma coisa: nós só conseguimos nos safar porque tivemos muita sorte, pois se aquele policial não batesse naquele caminhão... aí sim que não teria sentido tentar fugir.
Era verdade...nós havíamos tido muita sorte, mas agora de nada iria adiantar ficar ali discutindo, o negócio era entrar logo na festa para dar uma esfriada nas idéias e uma acalmada no coração. Antes que isso acontecesse Ana me roubou os pensamentos ( como se tivesse poderes psíquicos, me deixando inicialmente boquiaberto, mas depois da sorte que acabáramos de Ter nada mais seria impossível. )
Por quê não entramos um pouco para descansar? Ou para festejar?
Claro, claro! ( disse o Fabião tentando esquecer o ocorrido. )
Estávamos todos em uma só turma: eu, Ana, Marcão, Maria ( a famosa ex-hippie.), Lião, Zezinho e Fabião, portanto estávamos em sete pessoas. A exemplo de Marcão e Maria prendi minha palma da mão direita às delicadas mãos de Ana. Entramos num caminho composto de um tapete vermelho que se estendia sobre um vasto gramado, que talvez possuísse as dimensões de um campo de golfe, uns trezentos metros à frente se encontrava uma espécie de guarita. Explicando melhor: o tapete em que andávamos dava saída à uma construção de concreto com o formato cilíndrico de cor branca, o que me parecia uma novidade, pois olhando o que víamos à frente chegávamos à conclusão de que aquilo poderia ser no máximo uma mini capela, ou então uma pequena guarita, o que sem dúvida nenhuma não era, pois não tinha vidro nenhum, quando nos aproximamos vimos que se tratava de algo muito esquisito, pois somente apresentava uma porta de madeira cortada primitivamente.
ô louco meu! O que vocês acham que é isso?( falou o Luizinho arregalando os olhos. )
Acho que (Este era o Lião que já queria fazer uma das suas conclusões aristotélicas ) , pela pintura deveria ser uma das casas brancas de Andaluzia na Espanha, mas como se trata de um cone... um cone não, um tubóide com porta... me parece mais um elevador arredondado, mas isto não poderíamos concluir sendo que estamos em um vasto gramado, devo dizer no entanto que a não ser isto somente vejo muros por todos os lados. Uma situação deveras difícil...
Devemos Ter errado o endereço. ( sugeriu Ana. )
Acho que não Ana, ( falou Maria a ela. ), pois está aqui mesmo neste papel, é isso que não entendo...
Era uma coisa que eu nunca havia visto, realmente aquilo era muito estranho, mas pensando na idéia do elevador que Lião dissera vi que aquilo não fazia sentido , só poderia ser uma capela. Levando em consideração tentei empurrar a porta, que estando fechada não se abriu. Todos acharam que aquilo não fosse nada de importante, mas quando analisei mais detalhadamente aquela porta vi que escondia-se em um dos cantos vi um pequeno botão, era certo o que já desconfiava.
Tocando aquela campainha logo a porta abriu-se, e um homem troncudo vestido de blaizer abriu a porta, um nítido som de música saiu de dentro de onde ele estava. Marcão tomou um susto, pois não esperava que aquilo realmente fosse alguma coisa. Agora tudo se esclarecera, era uma passagem subterrânea.
O homem nos perguntou nossos nomes e anotou-os em uma pasta, então depois falou que deveríamos segui-lo, que a festa seria lá em baixo ( disse isso apontando o dedo indicador para dentro da porta, onde em meio à escuridão apenas conseguíamos ver os primeiros degraus de uma escada que se prolongava para baixo. Que original! Exclamei eu pensando em voz alta, a festa é subterrânea... realmente, qualquer um que visse aquele lugar teria de admitir que a entrada era um verdadeiro enigma.
Todos desceram, o homem por último, pois era ele quem tinha que fechar a porta. A escada era estilo caracol, e sendo o lugar muito escuro tínhamos a impressão de que estávamos descendo uma das escadas das pirâmides do Egito. ( também pelo tipo de concreto que não possuía acabamento, e tampouco pinturas. ), descemos bastante ( não sei exatamente o quanto. ), e quanto mais descíamos mais ficava alta aquela música que a princípio era bem baixa.
Foi aí que ao descer todos aqueles degraus intrigantes vimos um imenso espaço com mesas espalhadas por todos os lados, dali de onde estávamos era possível avistar um bar onde também se viam aquelas bebidas de todas as cores com laranjas e limões sobrepostos em copos e taças. A visão era incrivelmente futurística pois também havia uma iluminação de primeira linha, laseres verdes e vermelhos traspassavam a paisagem como raios, alguns globos daqueles cheio de espelhos rodopiavam no teto, haviam também pelo chão aquelas fumaças que davam a impressão de estarmos pisando nas nuvens, no momento o lugar estava sendo animado com música dance ( o que não faz o meu gênero. ), minhas percepções me diziam que aquilo não era uma simples festa, parecia haver algo a mais do que uma festinha, pois pelo que via o negócio se tratava de algo mais refinado... mais clássico.
Peguei firmemente as mãos de Ana, e me sentindo o máximo falei a ela que estava uma beleza. Ana simplesmente concordou afirmando com a cabeça. Todos combinamos que nos encontraríamos dali a pouco tempo naquele bar que víamos na frente ( o espaço ia além do que a nossa visão alcançava ).
Então me encontrando só com Ana me senti melhor, pensei naquele momento em pega-la no colo e leva-la para o meio da pista de dança como fazem os noivos com as noivas quando casam, o que seria um vexame, mas o que vale mesmo foi a vontade que tive, pois este pensamento me trouxe uma coisa positiva que era na realidade a vontade de estar sempre junto a ela.
Vamos procurar minha amiga?
Claro! Acha que vamos conseguir encontrá-la nesta agitação toda?
Parece que é como achar uma agulha em um palheiro.
Realmente, esta metáfora descreve muito bem a realidade em que estamos agora.
Tudo vamos lá...
Adentramos na festa, e em uma das turminhas de pessoas mais faladeiras a encontramos recebendo homenagens que Ana dizia ser seu primo. Ana me disse que o nome de sua amiga era Lúcia, e que estava completando dezoito anos, me falou também que era aquela um pouco mais alta que estava sentada na mesa ( estávamos em frente ao bar, onde se dispunham em linha formando um trapézio varias mesas redondas vestidas de toalhas cuja cada uma possuía um desenho fantástico, muito bonitas por sinal, a toalha da mesa em que o pessoal do discurso do primo da Lúcia estavam mostrava o desenho de um dragão soltando chamas flamejantes pela boca. Uma outra mostrava o desenho do símbolo oriental do yin e yang, que representa a filosofia do tai chi chuan, que é um desenho que simboliza o bem e o mal ou o homem e a mulher, um desenho que por incrível que pareça alcançou proporções mundiais pela sua grande beleza. Admiro muito a filosofia oriental, apesar de dela Ter extraído , ainda que pela metade. , o Kung Fu, a luta que também acompanha ao corpo físico e ao espiritual ou energético. Em uma outra toalha ainda era possível ver um castelo maravilhosamente desenhado, em outra ainda via-se um sol daqueles que possuem um rosto e raios ondulados formando uma figura graciosa. )
Nos aproximamos da mesa em que a discussão era feita, esperamos que se acabassem as homenagens do demorado ( para nosso azar. ) primo de Lúcia, e ao acabar o discurso, depois de breves solicitações de alguns amigos Lúcia finalmente reconheceu Ana, deram um demorado abraço, Ana desejou a ela toda a sorte do mundo e outras coisas mais que sempre se deseja a quem faz aniversário, fiquei um pouco envergonhado de não conhecer a aniversariante, mas mesmo assim Ana me apresentou falando de min como o gato do pedaço ou às vezes também como o cara mais bonito quer já vira até agora. ( foi aí que fiquei vermelho, de tanto ela falar daquele jeito. )
Meus parabéns Lúcia. ( falei eu já um pouco mais solto. )
Obrigado. Qual é seu nome mesmo?
Isaias.
O que é isso?
Abra e verás...
Está bem... o certo é fazer surpresa mesmo.
Ana havia dado uma porta bijuterias ou alguma cisa assim, e eu dei aquela caneta do Picasso toda colorida, pela cara que ela fez quando abriu gostou. Me senti totalmente aliviado quando ela finalmente falou:
Mas esta caneta é lindíssima! Não é uma pintura do Picasso?
Exatamente.
Acertou na mosca...é meu pintor predileto...
E quando o primo dela voltou a querer fazer as respectivas e inacabáveis homenagens não tivemos mais a oportunidade de falar com ela. ( eram homenagens larguíssimas. ).
Então nos sentamos naquela mesa em que havia o signo do yin yang, eram quatro cadeiras para cada mesa, e na mesa havia em cada mesa um vaso com flores dos mais variados tipos. Perguntei à Ana se ela queria alguma coisa, e ela me falou que um suco natural seria um boa, então fui para o bar pedir um suco de laranja, e para min uma água, pois a única coisa que sentia naquele momento era sede. Cheguei no bar e depois de enfrentar uma pequena fila finalmente consegui o que queria, apareci então na mesa já com um copo em cada mão. Logo após sentar-me na mesa aconteceu que ao chegar na mesa Ana conversava com uma outra amiga ( cabelos curtos, olhos cor de amêndoa e um bonito sorriso.
Não sei Ana ( comentava a amiga, com um pouco de preocupação ), acho que ele não veio mesmo.
Ao sentar-me na mesa deixei que me escapasse um olhar direto nos olhos daquela garota, que me deu um sorriso como se quisesse demonstrar que já estava ciente de todo que rolava entre eu e Ana, de um beijo em Ana que apresentou-me a amiga.
Isa... esta é Viviane...( enquanto isso a música rolava solta, um Rock de fazer pular qualquer um. ), Viviane, este é Isaias....
Nos cumprimentamos e nos sentimos como dois velhos amigos... ela estava dizendo que não via seu namorado, e que tinha combinado de se encontrar com ele ali mesmo na festa.
Mas esta festa está muito cheia, é capaz que ele esteja igualmente te procurando ( amenizou Ana tomando o seu suco. )
É que eu não esperava tanta gente.
Derrepente chegaram o Fabião o Zezinho e o Lião pulando como loucos conforme a música, Os três estavam com latinhas de cerveja nas mãos, puxaram cadeiras com uma alegria tão grande que eles quase caíram no chão e sentaram conosco. Comecei a rir do que faziam, Ana e Viviane igualmente,
Como vão vocês? ( perguntou o Lião. )
Que é que cêis tão aprontando? ( Viviane soltou estas palavras mandando a Lião um olhar mais que sedutor.)
Algo iria rolar entre estes dois, não haviam dúvidas, e não deu outra, depois de poucos minutos de conversa os dois já trocavam olhares mais que ensinuantes, Viviane pareceu esquecer de seu namorado, e este é justamente um dos pontos importantes a serem comentados. Eu sou da opinião de que não se deve deixar de lado quaisquer compromissos que sejam assumidos, seja ele uma reunião de negócios ou mesmo uma pessoa ( é ainda discutível, na sociedade em que vivemos hoje se é certo ficar com uma pessoa hoje e amanhã esquece-la e já ficar com outra. ). Rapidamente o Lião já se sentou ao lado de Viviana e posso falar sem questionar que depois de um pouco de papo e alguns goles de cerveja os dois começaram a aproximar os rostos até unirem-se em um beijo que parecia nunca acabava. Enquanto isso eu discutia com todos os que estavam a minha volta ( com a exceção lógica de Viviane e Lião. ) o que é que era certo hoje em dia. Pois era normal ver pessoas fumando ou então bebendo em festas , pois se hoje em dia vemos o escravismo do passado como uma coisa absurda, é viável a hipótese de que daqui a mil anos estas duas coisas e outras drogas mais fortes sejam completamente exterminadas da sociedade, ou então ( o que seria mais aceitável. ) que elas sumam pouco a pouco.
Mas isso ainda é meio disforme! ( disse Fabião com empolgação, e o respectiva lata de cerveja na mão. ), porque como sabemos a cerveja muda a personalidade de quem a bebe, e muitas pessoas bebem justamente para desinibir-se de coisas que não fariam ou não falariam sem ela.
É que nos soltamos mais com ela ( completou Ana. )
Concordo com você ( falei. ) é real que existe um aspecto psicológico em torno disso, e é na maioria das vezes que este aspecto sobrepõem-se sobre o aspecto mais importante de um líquido: que é justamente um bom sabor e uma coisa que seja saudável.
Mas você não acha que a cerveja faz bem?!? ( O Zezinho já contrariado. )
Possuindo álcool ela está limitando nosso organismo, e pelo que vejo esta substância é oxidante, ou seja : ajuda a envelhecer o corpo.
Estou de acordo ( disse Ana. ) que existe um importante aspecto salutar em torno disto. Mas eu acho que somente o fato de estar segurando uma latinha ou um copo de bebida o indivíduo já possa estar se sentindo psicologicamente melhor ou mais despreocupado, mesmo que ainda não tenha provado uma gota se quer...
É verdade... ( disse eu dando um gole de água e fazendo indicações com minhas mãos na mesa como se lá houvesse uma planilha ou algo que ajudasse a explicar.) O fato é que pode ser tudo psicológico, e ainda mais valendo-se de consideração de que um cara somente para entrar em um determinado grupo social onde todos fazem as coisas de um jeito ( incluem-se aí as bebidas e fumos. ) queira-se igualar a este grupo, o que é uma ilusão total, pois estará fazendo algo que não tem a finalidade exclusiva de satisfazer a sua própria realidade.
É isso! ( Exclamou Fabião bebendo mais cerveja) quem bebe recebe pressão da sociedade para que ele faça isso, e quem fuma igualmente, imaginemos que aqui nesta festa por exemplo não houvesse ninguém bebendo ou fumando... nos poderíamos concluir que as chances de eu estar bebendo agora seriam muito pequenas, pois se o fizesse estaria me sentindo excluído no lugar.
Então a bebida e o cigarro são mentiras? ( perguntou Zezinho não sabendo se deixava a lata de cerveja de lado ou se bebia mais um pouco. )
Na verdade... ( falei eu já tentando esclarecer minha opinião a todos. ), é tudo uma grande farsa que engana a muitas pessoas, pois todos sabem que tanto um como o outro podem causar conseqüências fatais para o organismo... e apesar de saber isso muitas pessoas ainda são enganadas por propagandas que misturam bebidas com pares de casais se beijando ou então cowbois fortes e musculosos fumando... o que se pensarmos mais nitidamente percebemos que não existe relação nenhuma, ao contrário: estamos diante de uma clara contraposição, pois muitas vezes a bebida atrapalha em outras atividades que exigem concentração, ou mesmo provocam efeitos colaterais indesejáveis, que se prolongarem mais podem vir a formar outras conseqüências, o cigarro por sua vez sempre é visto em propagandas lindíssimas que podem envolver até alguns esportes, o que vai contra a idéia, como se ajudassem ao esporte, ao contrário disso diminuem a oxigenação pulmonar, limitando a resistência física de qualquer um... acho que essas coisas tendem a acabar de acordo com a evolução da sociedade.
Também acho ( disse Ana, sorrindo muito. ) mas existem pessoas que ainda dizem que o vinho faz bem ao coração e ao sistema cardiovascular, o que concordo plenamente, se tomado moderadamente pode contribuir para a saúde. E neste caso estaríamos falando de uma bebida que pode contribuir em alguma coisa.
É isso aí... ( todos estavam do mesmo lado do muro. )
Derrepente chegou um cara alto, magro, loiro e com um olhar um tanto maldoso. Parou diante de nossa mesa e vendo Viviane e Lião aconchegados como dois passarinhos arregalou os olhos, no mesmo instante Ana gritou a Viviana que ainda não tinha visto quem eu supunha ser seu namorado.
Viviana!!!
Viviana tampouco Lião não tiveram tempo de nada. O cara separou os dois com um brusco movimento de braços, e antes que eu tivesse tempo de pensar puxou o Lião pela goela e aplicou-lhe um bom soco de direita.
Logo Fabião ( que se encontrava mais próximo. ) deu um salto em direção ao cara e os dois caíram no chão em uma briga que parecia séria, enquanto isso Lião estava com as duas mãos cobrindo seu olho direito ( havia caído em cima da mesa. ) Ana tratou de socorrer Lião, Viviane não sabia o que fazer, Zezinho foi correndo chamar o Marcão que era especialista em brigas, e eu fui correndo tentar apartar a briga, mas os dois estavam furiosos e tinham muita vontade de lutar, apesar de haver muita gente ao redor conseguiam achar espaço para lutar. Não consegui separá-los e a luta prolongou-se até a pista de dança, onde lá adquiriu uma motivação maior pois a música parecia dar maior motivação à confusão. Foi uma coisa que me impressionou, pois não sabia que o Fabião lutava tão bem, mas no final das contas sobraram algumas contusões aos dois e à Lião, o verdadeiro culpado de tudo. Viviane na mesma noite teve um grande desentendimento com seu namorado ( e quem tinha a razão era ele, segundo minhas conclusões. ) O Lião terminou com um saco de gelo no olho, e Fabião foi visto como herói por todos da turma, pois Zezinho voltara com o Marcão e Maria que quando chegaram encontraram todos sentados novamente na mesa do Yin Yang discutindo sobre o ocorrido, ao chegar , logo perguntou Marcão... ( quando viu Lião extremamente abatido.)
Que foi?
Eu te conto...o que aconteceu foi que o Isaião ficou com uma garota... até aí tudo bem... mas esta garota já tinha namorado, e ele não sabia. Só ficou sabendo quando ele chegou e pegou os dois juntos...
Expliquei a Marcão todo o ocorrido.
Quem estava errada era ela! ( exclamou o Marcão com uma certa contrariedade ao ocorrido)
É Marcão... mas agora não podemos fazer nada. ( disse Zezinho que parecia Ter querido ver Marcão em ação. )
Ficamos ali um bom tempo conversando, conversávamos sobre a briga, quais tinham sido os golpes utilizados, mais tarde nos dividíamos em dois nítidos grupos: os que defendiam Viviana ( pelo fato de seu namorado não Ter comparecido pontualmente ao encontro nesta festa, o que já justificaria uma clara falta de compromisso. ) , e os que achavam que ela houvera feito o errado e quem tinha justos motivos era seu namorado que se via traído. Ela já não estava mais ali ( me parece que saíra da festa brigada com seu namorado. ), e as opiniões eram divididas da seguinte forma: Ana, Marcão e Zezinho achavam que quem estava certo era Viviane. Eu e Fabião achávamos que seu namorado possuía razão, e Lião também reconhecera a razão de seu oponente que se via numa situação de desprezo. Mas todos concordamos que por mais justos que fossem os motivos do homem ele se precipitara de uma forma errada, querendo partir para a ignorância, e assim iniciar o tumulto.
Derrepente uma música muito bonita começou a tocar...era uma música lenta...aquela do filme "Ghost o outro lado da vida”... acabara de lembrar o nome: Unchained melody... fiquei emocionado com a sonoridade desta perfeita melodia... chamei cordialmente Ana para dançar comigo...Ana aceitou, fomos de mão dadas até a pista de dança, onde ali muitos casais já estavam, carinhosamente Ana pôs sua cabeça em meu ombro direito, ficamos bem juntínhos e começamos a dançar com sincronia. Meu coração pedia um momento de ternura, e aquele era o momento, o calor de seu corpo era uma coisa muito boa... muito gostosa, senti muita emoção, me dominava um calentamento na alma. A musica parecia descrever uma estrada infinita... sim uma estrada infinita em que eu estava correndo, correndo no meio de lindas paisagens, eram campos, que descreviam pores e lindos nasceres do sol. Uma lágrima caiu de meus olhos...me senti grande, parecia que eu estava no topo do mundo, que eu e Ana éramos os únicos seres viventes no planeta, como Adão e Eva, abracei mais fortemente Ana como se não quisesse deixar que ela escapasse, a música não deveria acabar nunca... deveria ser infinita. Unchained melody... nunca mais olvidaria este nome. Era uma mistura de sentimentos psíquicos e físicos, e por estes sentimentos parecia que eu me comunicava com Ana, era uma espécie de telepatia, ou expressão corporal que me deixava unido com aquela garota.
A música acabou, mas os sentimentos continuaram...ficamos um instante dançando como se a música não tivesse terminado... era um sonho... olhei para os olhos dela, olhei para eles como se dentro houvesse uma magia poderosa que tomasse conta de min, que mandasse em min, seus olhos eram verdes, muito bonitos, e Ana igualmente procurava alguma coisa dentro de meus olhos, talvez estivesse sentindo as mesmas sensações que eu...aproximamos nossos rostos... olhava agora nas profundidades mais sinceras de seus olhos, onde ali encontrava uma leveza grandíssima. A beijei e ela a min, em um movimento mútuo de ambos os lados, como se um adivinhasse qual o momento certo...
Tudo era sentimento... Ana falou-me que me levaria a um lugar surpresa, segurou-me firmemente pela palma da mão e começou a andar entre um mundo de pessoas, em direção à escada pela qual havíamos descido. Subimos os degraus encaracolados, e Ana abrindo a porta ( que por acaso se encontrava somente encostada) , me disse que queria me mostrar um lugar que conhecia ali naquele jardim. Saímos pela guarita e nos direcionamos a um caminho de pedras que se prolongava atrás dela... o lugar era muito grande, havia grama para todos os lados que olhássemos, seguindo pelo caminho ( que era clareado com a luz da própria noite. ) formado por pedras encaixadas harmoniosamente não gramado encontramos árvores que surgiram dentre algumas colinas, era uma pequenina floresta com os mais variados tipos de plantas. O caminho seguia para dentro da floresta, entramos então, fiquei muito surpreso quando vi aquilo tudo dentro de um jardim, a mata era fechada, e nos embrenhamos no sentido em que víamos as pedras. Ana me falou que aquele sempre fora um lugar misterioso para ela... sua amiga Lúcia tinha dito a ela que era uma floresta que apesar de parecer relativamente pequena não o era, dava apenas a impressão disso, pois na verdade era muito grande, imensa..., seguimos um bom tempo as pedras, a floresta era um pouco escura, mas ainda assim conseguíamos ver as coisas muito nitidamente, pois entravam pelas copas das lindas arvores feixes de luz da lua. De fato aquele lugar deixara-me muito intrigado, pois nunca imaginaria que pudesse haver um lugar destes em uma cidade. Chegamos a uma clareira onde o chão ali era de terra batida, e ali terminavam aquelas pedras, que descreviam um círculo de pedras em torno de toda a extensão da clareira, o que era uma coisa muito misteriosa, aquilo estava parecendo um dos lugares onde se efetuavam os rituais em Avalon, o famoso circulo de pedras, que não me deixava com uma estranha serenidade. No centro daquele lugar havia um banco de madeira todo ornamentado com figuras da natureza, eram luas, sois, arvores, montanhas, mares e outras figuras e sinais que eu não conseguia entender direito, pareciam ser sinais árabes, e outros me pareciam irreconhecíveis, aquele banco era uma verdadeira obra de arte, muito bonito, nunca vira um banco tão detalhado. Nos direcionamos àquela obra que parecia ser uma das sete maravilhas do mundo, Ana sentou-se e deitei-me em seu colo como uma criança que pede descanso à mãe, fiquei maravilhado com um odor que inundava o lugar. Que seria aquilo? Ana falou-me que era uma planta cujo nome era Dama da noite, que deixava no ar um cheiro doce, que penetrando nas narinas dava-nos a impressão de queria dizer algo, parecia aquela planta estar ciente de nosso amor e como prova de demonstrar estar de acordo trazia-nos aquela singular fragrância. Minha cabeça afundava nas linhas que formavam seu vestido azul, suas mãos acariciavam meus cabelos ( que são curtos e negros. ). Olhamos para a abóbada celeste, as estrelas estavam dispostas em uma grande massa, e em alguns lugares estavam mais intensas, demonstrando um brilho muito forte, tentamos identificar estrelas e constelações ... o Cruzeiro do sul, as Três Marias, Siriús, Antares, Fênix, Órion, Capricórnio, Carena, Canopos, Alphard, Hidra, Sagitário, Peixe voador, Oitante, Popa, Vela, Triângulo austral, Tucano, Achernar, Índio, Grou, Formalhaut, Aquário, Coroa austral, Lobo e muitas outras... cada nome que citávamos trazia-nos uma lenda, um mundo diferente, eram nomes mágicos que traziam a antigüidade dos tempos gregos e românicos à borda de onde estávamos...Conversamos bastante, entre as palavras dizíamos coisas como: sou apaixonado por você, eres encantadora...Nos beijamos... o que durou muito tempo... não sei quanto... por um instante pensei Ter visto um gnomo brincando atrás de uma árvore. Não, aquilo só poderia ser imaginação minha... era pura ilusão criada talvez por meu coração apaixonado. A beijava, e a beijava com carinho. O gnomo apareceu novamente por entre as árvores, ficava pulando de uma árvore para outra parecia brincar comigo, escondia-se entre folhas e troncos. Pensei neste momento que minha imaginação era muito farta para poder criar um ser de tamanha realidade, entrei na brincadeira do gnomo ( que achava ser minha própria imaginação. ), e enquanto Ana não podia vê-lo ( pois estava de costas para ele, agora sentada em meu colo. ) entre os beijos eu dava pequenos sorrisos a este ser tão pequenino, respondendo às suas brincadeiras de esconder. O gnomo em uma brincadeira um tanto arriscada pegou de um saquinho que levava consigo um pó de cor branca e jogou no meio da clareira, no mesmo instante saiu correndo para dentro da densa floresta, sumindo de vez. Tomei um belo de um susto quando vi que o pó chegando bem perto de min se transformou em um passarinho amarelo, que pousou em meus ombros, e quando vi que se tratava de um pássaro verdadeiro dei um salto, e o pássaro insistiu em voltar para min.
Veja, um pássaro. ( disse Ana , que nem imaginava de onde viera aquela figura voadora. )
Mas... não poderia ser real!! ( disse eu meio confuso, tentando, sem sucesso, tirar o pássaro de meu ombro já que ele saindo sempre tornava a ficar em min como os papagaios ficam nos marinheiros. )
Parece que ele gostou de você.( disse ela com um tom de muita naturalidade, como se achasse aquilo a coisa mais normal do mundo. )
Se eu te contar você não acreditaria...
O que?!?( Fez-me uma cara forçosa de pergunta, como se fosse a última desenformada do mundo. )
Este pássaro não é normal.
Como assim não é normal?
Simplesmente... é... é que...
Pode falar, não é sua imaginação.
É o pássaro de um..
Gnomo! ( exclamou alegremente Ana tirando as palavras de minha boca. )
Então você também o viu?
Não exatamente...
Mas como é possível uma coisa destas?( Detalhe: o pássaro começou a cantar em meu ombro. )
Eu te falei Isa: Esta floresta é muito intrigante.)
Nunca imaginei que uma coisa destas fosse possível.
Ë verdade, também achava até ver neste mesmo lugar talvez o mesmo gnomo, . A realidade do homem é muito diferente da verdadeira realidade da natureza, pois se pensarmos ... há 1400 anos atrás Ptolomeu um filósofo grego disse que a terra era o centro do universo e não se movia, e somente, com a obra Sobre a revolução dos mundos celestes de Nicolau Copérnico em 1543 foram demonstrados os movimentos da terra, e com base nisto, os movimentos de outros corpos celestes. Copérnico desafiava a idéia de Ptolomeu mudava a realidade Suas descobertas ajudaram a Galileu Galilei descobrir o telescópio, também forneceu uma grande ajuda para que sir Isaac Newton formulasse a teoria da gravitação. Este grande polonês mudou a realidade não só de seu tempo mas como também de toda a posteridade. E assim a realidade do homem muda de tempos e tempos, cada descoberta ocorre ao seu momento preciso. E se hoje sua realidade ocorre devida às descobertas humanas amanhã você estará podendo viver em torno de uma outra realidade, mas tudo ao seu tempo...
Concordo com você Ana, pois se antes de Copérnico alguém dissesse que a terra se movimentasse, iria ser considerado como louco, pois o que parecia era que as estrelas que planavam no céu... e fazendo uma analogia creio que os gnomos ainda não são a realidade do homem, apesar de serem parte da realidade da natureza ( que é a verdadeira realidade.)
Também acho. ( disse docemente Ana, concordando com meu ponto de vista. )
O pássaro não havia saído de um ombro, tampouco parara de cantar. Haviam também outros ruídos da noite: eram grilos, cigarras, folhas que se balançavam com a brisa, e uma série de ruídos característicos de uma floresta. Ana falou para guardar em segredo estas coisas que havíamos visto ali, ficamos mais um tempo ali naquele banco em silêncio, somente pelo prazer que proporcionava aquele lugar místico, depois começamos a fazer o caminho de volta, mas acontece que quando nos levantamos do banco e nos distanciamos um pouco dele ouvimos um barulho muito esquisito, nos viramos para trás a ver o que era e vimos que o banco havia sumido, simplesmente não estava mais lá, como se nunca houvera existido, fiquei abismado com o que acabara de ver. Ana falou que estava tudo bem, e que aquilo era um fato normal ali. Tentei entender sem usar minha razão ( pois se a usasse com certeza não conseguiria entender.
Fomos seguindo o caminho das pedras em direção ao gramado, o pássaro vinha por cima voando de árvore em árvore, o que eu achei uma brincadeira muito estranha, lançar um pássaro vigilante para me seguir. Aconteceu que quando saímos da floresta ele parou de me seguir e voltou voando em direção ao centro da floresta, talvez estivesse voltando ao saquinho de onde saiu.( confesso que até fiquei um pouco satisfeito com isso, mas quero deixar muito claro também que apreciei a companhia de um ser mágico, e assim eu concluí que aquela floresta era realmente intrigante. )
Quando finalmente depois de uma longa caminhada chegamos à festa encontramos o Lião ( ainda com o gelo no olho. ) conversando com uma outra garota, perguntamos à ele se havia visto o resto da turma, e ele falou que todos haviam ido embora, e que somente ele tinha ficado lá. Concluímos que já estava demasiado tarde ( deveriam ser umas duas e meia da manhã. ) e que já iríamos embora.
Quer pegar uma carona com a gente ( perguntei eu a ele, pois não sabia como ele iria para casa sendo que o Marcão que estava de carro já tinha ido embora.)
Não...não ( contestou ele com aquele famoso ar de enrolador. ), pode deixar que depois eu arranjo um jeito para voltar... e ainda que aceitasse, estaria sendo inconveniente, por favor Isaião aceite minhas negações, te digo que estou falando com segurança... tenho certeza de que a situação está totalmente sob controle.
Tá bem... então até amanhã, a propósito, você vai amanhã na escola?
Claro, claro...amanhã nos vemos.
Nos despedimos e eu e Ana fomos ao carro, quando aí chegamos vi que a parte traseira do carro estava muito danificada pelas batidas, mas acho que estava com tanto sono que resolvi nem comentar isso com Ana, que provavelmente tinha o mesmo sono que eu, mas ainda se demonstrava muito desperta. Entramos no carro e nos fomos dali.
Chegando em casa a única coisa em que pensava era em dormir, e realmente: o sono era tanto que eu havia dormido no carro mesmo, Ana teve que me acordar ( se eu soubesse que ela iria me
acordar com beijos eu teria dormido mais vezes. ), para que eu descesse do carro. Nos despedimos sem grandes enrolações , o carro se afastou entre as luminárias das ruas, e Ana se foi.
Chegando em meu quarto não tive tempo de nada, simplesmente desabei na cama e dormi.

10 - Segunda feira: um belo dia porém uma má notícia...

despertador tocou , seis horas da manhã, acordei como acorda um recruta no exército, tomei um banho gelado para ver se despertava de uma vez. Funcionou. Eram os últimos dias de aula pois estávamos prestes a entrar para as férias de Julho...finalmente depois de tantos estudos íamos tirar férias.
Peguei o ônibus e comecei a pensar no que ocorreu ontem, teria sido um sonho?, É provável que sim... um gnomo para min somente existia no mundo da fantasia.
O problema da briga com certeza fora real, mas o que não sei ainda é como o Lião voltou para casa. Bem, isso não importa... as aulas estão na última semana e quero concluir bem este final de bimestre.
Realidade ou não eu havia gostado do fato do gnomo, e do banco ornamentado. Cheguei na escola e não haviam demasiadas coisas para fazer, geralmente os professores davam as notas e aproveitavam para corrigir os trabalhos...O pessoal todo havia comparecido, menos o Lião que faltou, e ninguém sabia o que havia acontecido com ele, pois ele ficara na festa.
Ligamos do orelhão para ver se descobríamos alguma coisa sobre ele.
Alô.
Oi. ( Disse ), o Elias está?
Não, ele está na escola.
Na escola? Pensei eu. Tínhamos certeza que ali ele não estava, e se também não estava em casa onde mais poderia estar? Não falei nada à mãe dele logicamente, mas depois que contei a todos que sua mãe havia pensado que ele estivesse na escola ficamos um tanto preocupados
Tudo bem disse o Marcão vamos procurá-lo de cabo a rabo em todos os lugares desta cidade, hei de encontrá-lo.
O que você tinha me falado Isaião?
Eu te falei que ele estava com uma outra garota no final da festa.
Que garota? ( perguntou Zezinho. )
Não sei... nunca havia visto ela antes.
Mas isto não impede que ela seja daqui mesmo do colégio. ( disse Fabião com um ar pensativo.)
Mas isto não soluciona o problema. ( concluí. )
Claro que sim, ( falou Marcão colocando um pedaço de papel na mesa do refeitório, e pegando uma caneta que estava quase perdida em sua mala. ), Você não se lembra exatamente como ela era?
Não muito... Estava muito escuro. Mas pelo que lembro tinha cabelos loiros muito vivos, e usava uma blusa que deixava sua pele queimada pelo sol à vista, usava no momento uma saínha, seus olhos deveriam ser pretos... mas não tenho muita certeza.
Era alta? ( perguntou Fabião antes de dar uma abocanhada em um beirute natural, enquanto Marcão ia anotando tudo que eu dizia naquele papel.)
Não... Alta ela não era.
O Fabião e eu demos sugestões de quem pudesse ser aquela garota, e logo fomos procurar pelo refeitório quem achávamos que era, perguntamos a umas quatro garotas se tinham ido à festa ou se conheciam nosso amigo, e todas elas deram respostas negativas, apesar de todas serem muito parecidas nos aspectos da descrição, uma Quinta garota falou-nos que havia ficado com ele. Bingo! Acabáramos de achar ela.
Então foi você que ficou com ele na festa até mais tarde? ( perguntou o Marcão com uma voz de delegado durão. )
É, ( disse ela, parecendo tímida. ), fiquei com ele ontem, mas depois aconteceu uma coisa horrível.
Como?!?
Um cara meio esquisito chegou perto da gente, ele era alto, e estava muito nervoso...
Só pode ser o namorado da Viviana. ( pensou em voz alta Marcão. )
Não sei...só sei que quando ele chegou bem perto da gente chegaram outros dois e o pegaram, amordaçaram-no e levaram-no embora no meio de uma confusão muito grande que estava ocorrendo por causa de uma música muito agitada, tentei gritar mas ninguém escutava, pois a música estava muito alta.
Você não têm mais nenhuma informação que nos possa ser útil?( falou o Fabião pondo suas mãos no queixo como se fosse segurar um cachimbo, como querendo imitar grandes detetives.)
Tenho, tenho... aí então eu decidi seguir os três para saber onde levariam-no, então me pareceu que entraram por uma porta muito pequena, que ficava escondida atrás de um dos amplificadores posteriores, abri aquela porta, e havia uma passagem igualmente muito apertada, segui pela passagem até que a saída era em um estacionamento gigantesco, a única coisa que tive tempo de ver foi que aqueles caras esquisitos colocaram o Lião dentro de um furgão preto.
E a placa? ( Zezinho queria envolver-se na trama de qualquer jeito. )
A placa eu não consegui ver, mas pelo que me lembro era um daqueles furgões de propaganda, pois nas laterais haviam propagandas de chicletes, daqueles que não têm açúcar.
Bem se você ficar sabendo de mais alguma coisa pode nos chamar, somos do segundo ano, e o meu nome é Marcão, pode falar comigo, pois estou comandando as investigações neste caso. ( a voz dele estava grossa como se fosse um general no comando de uma guerra. )
Tá bom, eu sou do terceiro, meu nome é Catharina, se eu desconfiar de algo pode deixar que eu vou falar com vocês.
Então tá.
Nos despedimos da garota e começamos a conversar entre nós mesmos.
Se tudo que ela falou é verdade estamos fritos, que cê acha Isaião?
Calma Zezinho... a gente têm que pensar direito para resolver isso, vejamos: sabemos que o Lião tinha ficado com aquela amiga da Ana que já tinha namorado, seu nome é Viviana, depois aconteceu aquela confusão e o nosso querido amigo aqui presente ( dei umas palmadas no ombro do Fabião, que acabava de comer seu beirute natural. ) denfedeu honrosamente o Lião lutando contra aquele cara.
É Isaião, e agora este é nosso principal suspeito, pois ele ficando com raiva do Lião por Ter apanhado de você ( Marcão falou apontando o dedo para Fabião.), deve Ter tramado uma emboscada e raptado ele.)
Que fazemos então? ( Falou Zezinho com remorso do ocorrido. )
Nossa única saída ( sugeri com uma luz no pensamento) interrogar Ana, pois ela sim poderia nos dar informações sobre Viviane...
E esta sobre seu namorado malvado... ( completou Zezinho.)
Isso mesmo.
No mesmo instante fomos à procura de Ana, que estava sentada em um dos bancos do pátio conversando com suas amigas ( entre elas a famosa Maria. ), falamos às outras amigas que queríamos falar com Ana em particular, elas pareceram levemente contrariadas, mas de todo jeito cederam a amiga por alguns instantes.
Ana, ( disse eu utilizando um tom de voz sério. ) precisamos Ter uma conversa séria com você.
O que foi?!?
Nós queremos conversar com você.
Isso eu já percebi, mas eu somente não entendo por que tanto segredo assim, parece que estamos tratando de um assunto da KGB ou do FBI, não vai me dizer que é isso mesmo... ( disse ela soltando um sorrizinho enigmático que me deixou, por incrível que pareça ainda mais curioso sobre sua verdadeira personalidade, era como se cada vez que ela falasse abria-se uma caixinha de surpresas, esta caixinha me dava uma vaga idéia de sua alma. )
Não, ( respondi.), não é isso, mas te digo que é quase isso. O problema é que precisamos urgentemente de informações sobre Viviane...
Credo, o que vocês estão pensando?
Fiquei meio sem saber o que dizer, por incrível que pareça eu não tinha vontade alguma de envolve-la neste problemão, mas logo vi que não envolve-la seria impossível, todos silenciaram, pois sabiam que era eu quem tinha mais intimidade com Ana, eu a conhecia mais que qualquer um de meus amigos, por isso instintivamente deixaram que eu retomasse a palavra. Me parece que eles também não queriam dizer nada, se sentiriam mal se dissessem algo que eu não quisesse que Ana ouvisse, aquilo parecia um jogo, um jogo onde eram demonstrados o respeito e quem sabe até um pouco de medo, medo...não sei porque...pelo menos da minha parte, sei lá, não sei qual seria a reação dela diante do que eu queria dizer, tentei:
Ana, parece que o namorado, err.. ex-namorado da sua amiga pegou o Lião.
Pegou? Bateu nele?
Não ele seqüestrou.
Seqüestro!?!( Gritou Ana) Como pode ser uma coisa destas? Será que ele teria capacidade de fazer uma coisa destas?
Pelo que estamos vendo é exatamente isso.
Ana ficou de boca aberta, não acreditava no que ouvia, o que é absolutamente normal, eu também não queria acreditar nesta idéia.
Temos que chamar a polícia. ( recompondo-se Ana deu esta sugestão.)
Não (disse o Marcão como se tivesse acordado de um sono profundo no momento em que ouviu a palavra polícia. ), de maneira alguma, se chamar-mos a polícia estamos ferrados, parece que você esqueceu o que aconteceu ontem mesmo...aquele policial pode lembrar de nossos rostos... e aí já era... sabe. Iriam tomar os carros e então seria um problema atrás do outro.
É verdade ( Ana disse já se ligando na realidade em que estávamos envolvidos.), À delegacia não podemos ir, mas ainda assim temos que fazer alguma coisa.
Temos não. ( enfatizei eu extremamente contrariado com as palavras de Ana), Quem vai fazer alguma coisa aqui somos nós e não você, não quero que você entre nesta encrenca toda.
O quê??( pronto... aumentara a lenha da fogueira. ), então quer dizer que você é machista?
Não.. calma..., não era isso que eu queria dizer, é que me importo com você...
Calma gente ( se intrometeu o Zezinho. ), agora não é hora para confissões.
Por incrível que pareça( comentou o Fabião. ) o Zezinho têm razão, acho que em minha vida toda nunca ouvi este nosso colega ( dava uns tapas nas costas do Zezinho. ) dizer algo tão inteligente, estamos em uma situação difícil: temos um amigo seqüestrado, e não podemos Ter ajuda da força policial, pois nós perdemos nossas posturas no momento em que passamos dos cem por hora ontem...Temos que Ter um plano, uma estratégia, qualquer coisa assim. ( parou um pouco para pensar e depois de um breve período de reflexão filosófica perguntou a Ana:
Ana: De onde você conhece a Viviana? Ela é daqui da escola?
Não, eu conheço ela do cursinho...
Têm o endereço dela?
Não, mas eu tenho o telefone.
Nosso detetive Sherlok Homes ( O Fabião lógico. ) olhou brevemente à uma arvore que estava diante de todos e como se aquele Ipê tivesse dito algo à ele voltou a perguntar:
Não... não nos interessa o telefone...Qual é o cursinho que vocês fazem?
Nos estamos no We understand the world.
Aquele novo que fica na rua Candindad?
É esse aí. Por quê? Vocês estão pensando em ir investigar por conta própria?
É ( disse eu, ainda insistindo em minha idéia de proteger aquela garota. ), a gente vai resolver isso, mas por favor Ana, eu te imploro ( me ajoelhei e juntei minhas mãos como se estivesse rezando, e olhando firmemente em seus olhos, como se a única coisa que existisse neste momento fosse a aurora daqueles olhos que mais pareciam um mar querendo que todos sentissem suas ondas, seu movimento, sua vida. Como se dentro de seus olhos eu pudesse ver lá no fundo os peixes, um mais colorido que o outro.. ) não se envolva nisso conosco, é que pode sair alguma coisa errada e eu só quero a sua segurança, sua felicidade...
Ana me pareceu contrariada, mas creio que sentindo a sinceridade de meu discurso abaixou-se e me abraçou bem forte, na frente de todos, na frente até de suas amigas que deviam estar ali perto em algum canto, parece que neste momento um sentimento muito forte havia tomado nossas mentes, meus três amigos se foram ( já que não deveriam ficar ali segurando vela. ), nada mais ocorreu, nem daria tempo, pois o sinal do final do intervalo acabara de sonhar, ouvimos aquele som de despertador antigo ( daqueles do tempo do tataravô. ) e nem nos despedimos, antes que eu pensasse qualquer coisa Ana segurou meus braços e rapidamente deslizou os seus em direção oposta, e logo já estava correndo atrás de suas amigas que iam em direção à classe, por um tempo fiquei ali, sentado naquele gramado, diante de um Ipê, ao lado de um banco, em estado de graça, mas pensando como estaria o Isaião neste momento. Amordaçado? Onde estaria agora? O que estariam dando para ele comer?( isso se estivessem dando alguma coisa.).

11 - Mundo real ou mundo fantástico???

- Hey man...Are you crazy?
- Louco? Eu? Quem é você?( por um momento eu não havia reconhecido Ana, pelo fato de ela estar vestida com um vestido de época, era um vestido branco muito detalhado em bordados, e seus cabelos estavam presos por dois paus, estava muito diferente, era impressionante.)
My name is Ana... you know me.
Era a Ana, e estávamos sentados em frente a uma linda casa toda branca com umas roseiras que delimitavam o território entre uma casa e outra, nos sentávamos ali mesmo, no gramado. A casa na qual sentávamos no jardim era lindíssima, mas eu não a reconhecia, parecia ser de um estilo de construção muito diferente ao que eu estava acostumado a ver, e ainda por cima não havia nenhum portãozinho, muro, mureta, grade ou outra coisa para separar a calçada do jardim. Parecia mais que eu estava em um daqueles lugares que passam nos filmes... talvez estivesse no Canadá ou nos EUA, é... certamente isso fazia sentido, sendo que Ana ao invés de falar em português falava somente em inglês. Era muito esquisito, a roupa com a qual ela se vestia, aquele jardim com rosas, aquela casa tão diferente, a simetria da rua, o sol...é verdade, aquele sol estava maravilhoso, se punha atrás de umas outras casas lindíssimas, e formava no céu um conjunto de cores fantásticas, rosáceas e avermelhadas. Ana pegou uma prancheta que estava ao seu lado, e em uma folha que estava sobreposta sobre a prancheta começou a fazer uns desenhos. Ela desenhava com grande facilidade com uma caneta daquelas do tipo solta tinta, era muito hábil, formavam-se figuras muito intrigantes...primeiramente vi que aquilo parecia uma imagem de um animal com chifres grandíssimos, mas depois percebi que tratava-se de um homem touro, que tinha a face muito parecida com a de um animal enfurecido, seus braços e pernas eram completamente normais, como os de um ser humano, mas eram muito mais fortes, como do Connan. O desenho acabava e misturava-se com um outro que ela fazia agora, na verdade era um gnomo, ou melhor, me parecia a sombra de um gnomo, como se a sombra daquele homem transmorfo fosse aquela, era um desenho muito intrigante: O homem touro estava coo seus braços abertos, punhos fechados, e sua face demonstrava grande fúria, sua sombra que era constituída pelo gnomo estava igualmente de braços abertos na qual em uma de suas mãos estava o seu gorro, o que poderia dizer aquilo tudo? Será uma charada? Se for uma acho que é uma das mais enigmáticas que já vi na minha vida.
Ana acabou de fazer o desenho, olhou em meus olhos, deixou à mostra seus lindos lábios, nos abraçamos fortemente.
I love you.( disse ela com uma voz suave. )
Eu também, gosto muito de você...
Neste momento um pássaro pousou em uma das roseiras e vagarosamente se aproximou de nós, vinha devagarinho , dando tímidos saltos pela grama, gostei daquilo e achei graça. Mas vi que o pássaro era amarelo, amarelo e exatamente igual àquele outro que vi naquele círculo místico naquela floresta...Voou para meu ombro, acho que Ana não o viu pois estava encostada em meu outro ombro, tive o ímpeto de tirá-lo de min, mas antes que isso ocorresse, como se tivesse lido meus pensamentos Ana o pegou e o pôs em minhas mãos, não entendi muito, mas segurei aquele pássaro.


Toca o despertador, um sonho...somente um sonho. Somente um sonho? Será? Terça feira... olho no despertador, são seis horas, melhor é ir tomar um banho para acordar direito.
Que sonho! Caramba, tive um sonho fantástico. Os sonhos são muito intrigantes, pelo que sei são constituídos pelas nossas vontades, medos, sentimentos, pensamentos e pela própria imaginação.
Mas então este seria o sonho mais vivo que eu já havia tido, foi um abraço tão real...E o gnomo do desenho? E o Homem touro? O que queria dizer aquilo? E porque Ana fizera estes desenhos? Será que os sonhos podem nos trazer alguma mensagem? Têm gente que acredita que é possível fazer viagens espirituais enquanto se dorme, e essas são as famosas viagens astrais, em que acredita-se que nossos espíritos saem de nossos corpos à noite e podem fazer viagens ao encontro de outros espíritos conhecidos, mas eu não acredito numa coisa destas, pois se fosse assim os cientistas deveriam comprovar que além de estarmos constituídos de corpo somos também espirito. E porque eles não comprovam logo e dizem ao mundo inteiro que somos feitos de espírito e matéria? E ainda assim os religiosos de diversas ordens acreditam que depois que morremos vamos viver no mundo dos espíritos. Onde está este mundo? Onde foi parar a vó da Ana? E eu acho que se é que estes espíritos existem, por que é que eles não nos dizem nada depois que morrem? Por que não nos dizem que ainda estão vivos? Que ainda existem? Poderiam até nos falar como é esse tal mundo que vamos depois de morrer. A cultura ocidental nos impõe que vamos ao céu, viver com os anjos, e ficar tocando arpa e dormindo nas nuvens...se é assim eu preferiria ficar aqui mesmo na terra, em meu mundo, pois acho que não iria me acostumar a ficar olhando aqui para baixo vendo todos se divertindo enquanto eu lá em cima curtia uma harpa.
Não, eu nunca acreditaria numa coisa destas. É impossível. Mas porque será então que no decorrer da história da humanidade existiram e existem tantas religiões, tantos fanáticos e tantas seitas? Seriam estas coisas saídas que as pessoas encontram para seus problemas e coisas nas quais as pessoas precisam acreditar para se sentir melhores? E estas viagens astrais seriam talvez meras decorrências desta outra realidade na qual estaríamos incluídos.
Neste caso ( apesar de eu estar filosoficamente contrariado. ) eu teria feito uma viagem astral, e Ana queria me dizer alguma coisa quando fês o desenho, poderia ser a representação do bem e do mal através do homem touro e do gnomo. Mas porque isso? E o pássaro? Este pássaro me perseguia até nos sonhos!


12 - Na escola algo já previsto.

Foi legal ficar pensando sobre este sonho, e quando cheguei na escola deu-me vontade de ir correndo até a classe da Ana e perguntar a ela o que ela queria dizer com aquele desenho tão contraditório. Seria loucura.
Encontrei-me com meus amigos, os de sempre menos o Lião logicamente , o Marcão estava nervoso e disse que a mãe do Lião estava na escola conversando com a diretora. Antes que começassem as aulas fomos até um lugar que ficava perto da diretoria, e ali podíamos ver claramente que uma senhora conversava com a diretora, sem dúvidas ela era a mãe do Lião, ficamos ali um tempo e pensamos o quão preocupada ela deveria estar neste momento.
- Não vamos deixar a situação assim ( disse o Marcão batendo com as mãos no peito repetidamente, muito nervoso agora. )
- Claro que não ( disse o Fabião. ), nós vamos hoje mesmo ao cursinho da Ana e da Viviana perguntar sobre aquele cara, e quando encontrarmos ele vamos...
Acabar com a raça dele! ( Cortou o Marcão furiosamente. )
Calma Marcão ( disse eu, sentindo o ardor de sua vontade. ), não precisa ser tão sanguinolento, pode até ser que a polícia resolva isso.
Ah! É? Cê acha que a polícia vai querer fazer alguma coisa, eles vão falar que tudo isso não passa de um simples sumiço, e que nada farão enquanto não durar por uns cinco dias.
Não precisa exagerar ( disse o Fabião. ), mas mesmo assim eu tenho a intuição de que é melhor a gente mesmo tentar resolver isso, é melhor assim.
Todos concordaram, e combinamos de depois das aulas nos encontrarmos na saída da escola, o Zezinho falou que não poderia ir pois tinha que estar em casa uma hora.
Tudo bem, depois das aulas estávamos todos ali reunidos na saída da escola: eu, o Marcão e o Fabião, Fomos ao cursinho. Chegando lá na rua eu e o Fabião já pensávamos em segurar o Marcão, que segundo nossas proposições iria explodir de raiva quando encontrasse aquele cara.
Era um prédio baixo e largo de formato retangular, construído em tijolos vermelhos, na frente apresentava-se uma escadaria branca, e um pouco mais a frente a porta de vidro e madeira ( era muito parecida com aquelas portas de cabinas telefônicas antigas norte americanas sendo que um pouco acima da porta havia um letreiro luminosíssimo ( daqueles que chamam a atenção de até uma minhoca que esteja a cinco quilômetros abaixo do solo.) onde se lia: We understand the world, as letras estavam intercaladas entre as cores amarelo fosforescente, azul e um verde abacate fortíssimo que quase cegava, em pleno dia deixavam aquilo piscando continuamente, parecia mais um bingo ou então aqueles grandes cassinos lá de Las Vegas na Califórnia, ao lado deste edifício era possível avistar uma casa ( que sem dúvida me chamara muitíssimo a atenção. ). Esta casa parecia não fazer parte do local do cursinho, era uma casa muito grande branca, onde alguns troncos sobrepostos davam uma harmonia lindíssima às suas paredes. Era uma casa típica alemã. Mas não me abstive muito nesta visão, pois quando me dei conta já estava dentro do prédio, perguntamos à recepcionista onde ficava a classe da Viviana, ela perguntou que Viviana...no final tudo ficou esclarecido. Fomos até a classe de escadas ( pelo fato de não haver elevadores no prédio. ), olhamos pelo vidro da porta e lá estava Viviana, que logo reconheci por seus cabelos curtos e seus atentos olhos cor de mel que prestavam muita atenção no professor. Voltamos à escadaria e decidimos esperar...
Após umas duas horas ( havíamos tomado um verdadeiro chá de cadeira. ) todos os estudantes começaram a descer pelas escadas, encontramos Viviane e fomos rapidamente ao seu encontro parecia não saber de nada que houvera ocorrido, pedimos o endereço de seu namorado ou ex-namorado ( isso não importava no momento. ), ela nos deu sem se importar quais eram os motivos que nos levaram a querer saber isso, provavelmente estaria pensando que daríamos uma sova nele ( o que até poderia acontecer se tudo dependesse do Marcão. ), o importante agora é que sabíamos onde ele morava. Quando olhei o papel que a garota escrevera o endereço do cara quase tomei um susto ( melhor é dizer que tomei um susto enorme. ) pois se tratava da mesma rua em que estávamos. Nos despedimos gentilmente daquela menina que acabara de dar uma pista muito importante para nosso problema. Agora parecia que estávamos no exército, e o general logicamente era o Marcão. Fomos à rua e lendo no papel que a casa era número 638, não precisou de muito tempo para encontrar a casa, pois o número 638 era o número vizinho ao do cursinho.
Meu deus!! ( exclamou Fabião arregalando os olhos.)
Então esta é a casa do impostor. ( disse o Marcão grunhindo umas palavras que não conseguíamos entender direito.)
Este cara ( disse eu) deve ser muito rico, pois uma casa destas não é para qualquer um.
Será que ela nos enganou passando o endereço errado?( perguntou o Fabião com um ar verdadeiramente questionativo.)
Sei lá ( disse eu com uma incerteza tão grande quanto a de meus amigos.), pode ser que para proteger ele ela tenha nos passado o endereço errado, porque apesar de tudo, acredito que ainda exista a possibilidade de ela gostar dele, não conhecemos qual é a verdadeira personalidade desta garota, e por isso acho que não podemos dar tanta confiança a ela.
Tudo bem( falou o Marcão, tão calmo que não acreditávamos. ), mas mesmo assim eu acho que deveríamos entrar na casa e ver se realmente é lá que ele mora.
Não!( disse o Fabião. ), acho que é melhor termos certeza antes, pois existem pessoas que conhecendo muito bem a natureza dos sentimentos humanos podem Ter o domínio da situação, como por exemplo esta Viviana, que é possível que tenha dominado a situação de tal forma que pudesse até nos enganar. Vejam bem...não sei se estou viajando, mas para exemplificar posso simplesmente dizer que uma vez conheci uma garota que mostrou-se muito alegre, e muito interessada em min, no mesmo dia peguei o telefone dessa garota, ela era linda, era alta e tinha uns olhos lindíssimos, fiquei perdido por ela, naquele momento eu nem acreditava que conseguira pegar seu telefone. A alegria era muito grande, e ainda mais porque fui eu quem tinha dado a sugestão para sairmos aquela noite e foi justamente por isso que eu peguei seu telefone. Na mesma noite me aprontei todo, tomei um banho bem quente, daqueles que se toma para relaxar bem os músculos, após o banho coloquei uma calça jeans mais legal que tinha...
Não têm nada a ver com isso.( disse o Marcão contrariado com aquela história.)
Calma Marcão, você não vê que estamos conversando sobre aspectos importantes da personalidade humana, e que isso pode ser até importante para o que estamos vendo agora?
Pode continuar. ( falei eu dando total razão ao que falava Fabião.)
Bem, então fiquei eu lá no meu quarto sozinho sem camisa me preparando para ligar para ela, aí eu liguei um som bem legal para me dar uma agitação e me animar, peguei no telefone e o papelzinho que ela havia me dado seu telefone. O que pegou depois foi que eu liguei para ela e conversamos sobre a descendência das nacionalidades e da importância de os costumes e as tradições serem passadas de pai para filho e assim por diante, o papo estava legal...comecei a fazer uma voz mais dengosa...
E então? (Perguntou o Marcão), Cê ficou com ela ou não?
Calma...primeiro a gente ficou ali naquele esquema de elogios com vozes de românticos, o que me deixou muito impressionado comigo mesmo, pois nunca acreditei que algo pudesse dar tão certo assim na minha vida, depois ela falou que teria que esperar o pai dela chegar do serviço porque queria me pegar de carro em minha casa, e assim aconteceu: ela me pediu que ligasse a ela um pouco mais tarde, falei a ela bem baixinho no telefone que iria ficar chorando por ela até ouvir novamente a voz dela, ela gostou disso...nos despedimos ainda com muitos elogios um ao outro. Quando desliguei comecei a saltitar de alegria na cama, aumentei o som da música e fiquei extasiado com minha própria sorte. Que ingenuidade a minha...Depois ela falou que seu pai ainda não havia chegado, e então eu pensei que havia voltado ao mesmo problema, a questão é : Eu falei que a buscaria de taxi e depois de irmos a qualquer lugar que ela desejasse a deixaria em casa também de taxi, tudo bem até aí...ela não quis, e dizia que eu era louco de tentar fazer isso, o que eu não entendi era porque isso poderia ser considerado uma loucura sendo que por ela eu poderia até levantar uma montanha, pois minha vontade de sair com ela era muito grande. Vocês me entendem amigos? É isso um crime? Claro que não. Talvez ela tenha brincado com meus sentimentos...tenha feito com que eu me sentisse alegre por uma ilusão...uma mentira...Acho que aquele tempo todo ela estava me enrolando, pois se ela quisesse realmente sair comigo ela teria aceitado a minha proposta do táxi...mas então...então porque ela me fizera tantos elogios? Por que me sentira tão bem ouvindo sua voz? Me senti neste momento enganado...traído sem nem mesmo a Ter conhecido de coração...Achei que ela tinha mentido sobre a história de esperar o pai dela, acabei não saindo com ela, e terminei meu romance sem tê-lo começado. Que legal...ela era linda...linda...mas isso não importa agora, acho que vou me recuperar desta situação pela qual passei.
Calma Fabião ( falei a ele tentando levantar mais o ânimo.), desencana meu, pode até ser verdade a história do carro, mas as mulheres às vezes são imprevisíveis, acho que isso que acabei de falar é errado, o que é imprevisível é o futuro...este sim é o mais imprevisível dos imprevisíveis. Mas mesmo assim acho que você falou uma coisa muito importante para desvendar uma coisa: qual seria a verdadeira personalidade da Viviana? Ela até poderia estar fingindo estar falando a verdade quando deu-nos este endereço, como poderia estar sendo também a garota que você conheceu, mas isso é impossível de descobrir, acho que até se pode descobrir, mas a fantasia iria embora e teria lugar uma conversa chata mas real, é melhor estar triste na realidade ou alegre na fantasia? Essa é a pergunta( concluí dando valor às minhas palavras que eram mecanicamente corretas. ) Essa é a pergunta que devemos questionar no seu caso meu caro amigo Fabião, e vou repetir para ficar bem claro: Ficar alegre na fantasia ou triste na realidade? E por incrível que parece não existe resposta certa, existem pessoas que preferem alegria na fantasia e outras a tristeza real. As duas faces são erradas o certo é tentar ser alegre na realidade, o que é a alternativa mais difícil...
Tudo bem( disse o Marcão.), mas então nos fale qual é a pergunta que deveríamos usar no caso em que estamos metidos?
A pergunta é exatamente: Quem é Viviana? Falo isso levando em consideração a sua verdadeira personalidade, e pelo que temos até agora é uma pessoa sincera, apesar de Ter traído seu namorado na festa.
Neste aspecto não concordo com você ( disse o Fabião. ), pois ela traindo seu namorado estaria já mostrando um dos aspectos de sua personalidade, ou seja é aquela pessoa que não pensa, ou pensa erradamente sobre os outros...eu quero dizer que no momento em que ela ficou com o Isaias não pensou nele ou então não se mostrou sincera com ele, e digo mais: estaria ela sendo sincera com a gente? Pois quem faz uma nascente pode ver um rio depois.
É verdade. ( falou o Marcão. ) Eu até que estou concordando com vocês, mas apesar de toda esta questão filosófica eu ainda acho que devemos entrar logo nesta casa, para ver se esta é realmente a casa do dito cujo.
Demos um molhada para ver como poderíamos entrar na casa, tocar a campainha iria ser a última coisa que iríamos pensar em fazer, pois segundo o Marcão deveríamos pegar ele de surpresa. A rua estava infestada de estudantes que saíam do cursinho e iam direto aos bares festejar não sei o quê, outros ainda se amontoavam nos pontos de ônibus. O muro que cercava a casa era alto, muito difícil de ser pulado mas havia um pedaço da calçada em que cresciam árvores e arbustos, e estes além de ocultar quem pulasse o muro também ajudava a pular, pelo portão seria impossível pois daria na cara.
Fomos até aquele lugar, e lá em meio às arvores e todo aquele mato pulamos furtivamente o muro. Parecíamos profissionais da arte de roubar, o único problema seria se houvesse lá algum cachorro daqueles bem nervosos. Caímos do outro lado, e vimos que estávamos no meio de uma plantação de uva, o que de certa forma nos ajudou, pois parecia mais um labirinto natural que qualquer outra coisa, somente digo que nos ajudou porque assim não ficávamos visíveis, andamos bastante pelo labirinto, e de vez enquanto até comíamos algumas uvas, e estavam realmente deliciosas.
Entramos na casa por uma porta que ficava atrás da casa, já dentro vimos que aquele lugar era uma espécie de depósito, havia de tudo: sacos de arroz empilhados, vassouras panos jogados em um grande recipiente, caixas de ferramentas, garrafas de vinho aos montes todas postas em uma armação especial feita de madeira, em um canto haviam muitos galões de água de plástico, e logo acima havia uma cela pendurada no teto, algumas estantes cheias de livros velhos estavam em uma das paredes laterais. O lugar era iluminado pela luz do sol que passava pelas pequenas janelas, e estas eram altas. Havia somente uma porta além daquela pela qual entráramos.
Vamos lá.
Calma Marcão, ninguém pode descobrir que estamos aqui.
Tudo bem Fabião, então quer dizer que você que voltar.
Não é isso, o negócio é que temos que agir com calma.
Só falta cê mijar nas calças.
Derrepente ouvimos o som da porta que queríamos entrar ranger, pulamos todos no mesmo momento para trás daqueles sacos de arroz que se amontoavam formando assim uma barreira alta até a cintura de qualquer pessoa, uma claridade entrou na dispensa, me arrisquei a enfiar minha cabeça por um dos cantos para visualizar, Era um homem velho. Velho mas forte, altura mediana, bigodes de português embranquecidos, usava um chapéu de peão de boiadeiro calça jeans desgastada e uma bota de couro. Sem dúvida naquele momento fiquei com medo que ele nos descobrisse, mas ele não foi para o canto em que estávamos escondidos, apenas pegou algumas coisas que não pude distinguir direito e foi para fora pela porta em que entramos.
Puta meu, essa foi por pouco.
É, se você pelo menos falasse um pouco mais baixo estaríamos mais seguros.
Relaxa cara, não precisa ser tão cag...
Pô Marcão, vai com calma, e vê se deixa o Fabião.
Calma gente...estamos todos nervosos.
O homem tinha sumido em meio à plantação de uva, e nós aproveitamos para entrar pela porta que ele tinha deixado aberta.
Logo quando passamos pela porta demos de cara com um longo corredor, estreito e com o teto baixo, iluminado por lâmpadas laterais. Seguimos pelo caminho, aquilo me dava uma certa insegurança pois a medida que caminhávamos menor ficava a porta lá de trás. Achei uma coisa muito estranha um corredor daquela distância, está certo que não sou nenhum técnico em arquitetura, mas mesmo assim já fazia um bom tempo que estávamos andando, e , a esta altura não se via mas a porta pela qual havíamos passado, aquelas lamparinas às vezes eram fracas e outras vezes ficavam piscando como se quisessem apagar. E se apagassem? A verdade é que se isso ocorresse estaríamos perdidos, tudo ficaria em total escuridão sendo que ali não havia nenhuma janela. Era incrível, parecia que estávamos dentro de uma das pirâmides do Egito, também haviam ali muitas escadas que desciam no mesmo sentido do corredor, desciam e logo davam lugar novamente ao corredor, e mais adiante estava outra escada que descia um outro tanto, ( Acho que nunca desci tantas escadas assim na minha vida, pois somando todas as escadas acho que chegaria à conclusão de que havia decido um Empire State ou o Edifício Itália.) o chão era composto por pedras grandes e estas já estavam esverdeadas pelo lodo que se acumulava em suas facções, as paredes eram extremamente envelhecidas e possuíam uma cor bege escuro sendo que em alguns lugares em que haviam camadas de parede destruídas víamos também uns tijolos cinzas que pareciam compor uma antiga construção, como se o lugar fosse mais antigo do que pensávamos.
Caramba! , esse corredor não acaba nunca!
Calma Marcão, logo isso têm que dar em algum lugar, que é que você acha Isaião?
Acho que esse negócio está muito estranho, nunca vi um corredor tão largo assim.
Bem ( amenizou Fabião.), o melhor que podemos fazer é seguir em frente, pois se voltarmos para trás é capaz de encontrarmos com aquele velho esquisito.
Mas na minha opinião ainda acho que se estamos aqui neste ponto já não temos nada a perder.
Isso eu sei Fabião, estamos de acordo, o negócio é seguir adiante.
Foi isso mesmo que aconteceu, seguimos em frente, e depois de mais ou menos uma meia hora apareceu uma escada parcialmente destruída que descia, uma descida não muito inclinada, e de acordo com que descíamos a escada se tornava mais larga, até que se abriu em forma de leque tendo um grande salão como saída. O lugar era igualmente ( como o corredor. ) iluminado por luminárias, Havia no meio do salão uma mesa de madeira velha de formato retangular, e nas paredes estantes repletas de livros, além disso somente via-se uma outra escada localizada no sentido oposto ao que estávamos. Descemos a escada que estávamos e curiosos que estávamos fomos dar um molhada nas estantes de livros, peguei um livro que estava mal colocado na estante e que por isso provavelmente fora usado não fazia muito tempo, era um livro grande, coloquei-o em cima daquela mesa sua capa mostrava algumas palavras inintendíveis:


Asgae murlot ita Glantaris

Ucra ninfis platic irb Astreireg.


Era uma coisa muito interessante, me lembrava vagamente o latim, pois tivera algumas aulas básicas desta maravilhosa língua mãe, mas sendo latim ou não eu nada entendia, era uma capa dura e negra estas palavras estavam escritas em cor branca com letras super bem detalhadas, principalmente o primeiro a que parecia mais uma cobra pronta para dar o bote, o u de ucra era composto por duas lanças sobrepostas em uma espécie de uma mão, ou seja, era um punho totalmente fechado sendo que somente o polegar e o indicador formavam a letra u, e ainda as duas lanças davam a impressão de estarem surgindo detrás dos dedos, além disso, uma coisa que me chamou muito a atenção foi que a letra g de Glantaris estava em maiúscula apesar de não iniciar a frase, assim como a letra a de Astreireg. O que significariam estas duas palavras? Seriam nomes de pessoas? Que pessoas seriam estas? Era uma coisa muito artística, mas que ao mesmo tempo dava mais vontade de abrir o livro.
Meus amigos pareciam igualmente estarem interessados por outros livros, virei a capa daquele livro, quando me deparei com o desenho de uma imensa serpente enrolada em uma vela acesa, a serpente estava quase abocanhando a chama, me impressionei com a riqueza de detalhes naquele magnífico desenho. Virei esta página e lá estava uma outra folha com os mesmos dizeres indecifráveis da capa, mais uma e uma imagem de um dragão azul escuro, ao redor deste dragão haviam muitas frases de um idioma que para min era totalmente desconhecido, não era árabe porque este eu poderia, apesar de não entender, reconhecer com facilidade, nem japonês nem chinês, as letras usadas eram as mesmas que são usadas nos idiomas derivados do latim, de vez em quando surgiam algumas letras que eu jamais havia visto, e estas estavam misturadas a outras normais.
Dei mais uma folheada neste livro, e em cada página que virava havia uma figura, desenhada em preto e branco, diferente misturada a textos indecifráveis eram anões feiosos, luas cheias e outras minguantes, pirâmides que formavam cruzes, pitedodacteos com suas asas totalmente abertas, e outras. Mas uma figura que me chamou muito a atenção era a imagem de um homem semi nu cheio de flechas cravadas por todo o corpo, inclusive havia uma que atravessava a sua cabeça, sua expressão era de total tristeza . Isso me deixou pasmado. Fechei o livro meio entorpecido pelas figuras que havia visto.
Olha só esse livro. ( falei puxando os dois, que estavam lendo outros livros, pelos ombros. )
Que horrível! ( disse Fabião fazendo uma cara de tremendo espanto. )
Nunca vi um desenho tão maquiavélico assim. ( falou Marcão, demonstrando que tinha lá no fundo de sua consciência uma brecha de inteligência.)
Parece com um livro de magias.
Isso eu também percebi Fabião, mas é totalmente indecifrável, veja bem estas outras páginas. ( falei isso folheando o livro, passando pelas páginas que já havia visto.
Deixa eu ver. ( falou o Marcão arrancando bruscamente, com o risco de até desfazer algumas páginas sendo que elas eram sensíveis.)
No momento em que o Marcão puxou o livro caiu alguma coisa de dentro do livro, era um papel velho, tão velho quanto o livro.
Marcão,( eu disse cumprimentando ele.) você é um gênio!
Peguei aquele papel desgastado pelas traças, e o coloquei em cima da mesa, comecei a desdobra-lo e quando terminei quase levei um susto, aquilo era um mapa, um mapa gigantesco, mas nós não sabíamos de onde, parecia com aqueles mapas que eram feitos antigamente, feito com penas e antigos instrumentos de orientação, começamos a examinar mais detalhadamente, e os nomes tampouco nos lembravam qualquer coisa que já tivéssemos visto.
Os nomes pareciam estar escritos naquela mesma linguagem do livro.
Peraí!!! ( exclamei eu quando me deparei com um dos nomes que ali estava. )
Que foi? ( perguntaram ambos em uma só voz.)
Veja essa cidade. ( disse eu apontando para uma das cidades que se localizava ao lado de um riu, dentro de uma zona que parecia muito montanhosa, isso devido aos desenhos de muitas montanhas que se destacavam atrás do ponto que indicava a cidade. )
O que é que têm? ( perguntou Marcão indiferente.)
É esse nome.
O que? Glantaris?
Exatamente!
Porque você acha isso importante?
Veja bem... ( peguei o livro que já estava debaixo do mapa e mostrei-lhes o título, onde ali estava: Asgae murlot ita Glantaris pub irb... )
É isso mesmo,( disse eu apontando para o título) sabemos que este Glantaris é o nome de uma cidade, ao contrario do que eu pensava.
O que você pensava? ( Perguntou Marcão interessado.)
Pensava que isso era o nome de alguma pessoa.
E esse Astreireg? ( Questionou Fabião. ) Vocês também não acham que este pode ser o nome de uma outra cidade?
De uma cidade não, mas sim de um país, e isso não foi difícil de descobrir, pois era o país em que estava Glantaris, e sendo um país estava escrito em letras grandes e largas, semitransparentes e fáceis de bater o olho. Justamente por isso vimos Astreireg com muita facilidade.
Vamos guardar esse mapa antes que aquele velho venha aqui e nos descubra com a mão na massa. ( disse o Marcão já tentando dobrar o mapa de forma errada.)
Calma meu! Cê tá fazendo tudo errado (disse eu. ), vai com calma.
Calma? Se aquele cara vier aqui estamos ferrados. Ele vai transformar a gente em sapo e nunca mais vamos poder jogar futebol.
Tá bom ( disse Fabião ajudando a dobrar aquele mapa colossal. ), vamos dobrar esse negócio logo. Se o velho vier não sei o que vai ser da gente.
Vamos viver o resto de nossas vidas em uma lagoa. ( falou o Marcão.)
É nada, vamos ficar guardados em um recipiente esperando o bruxo usar-nos para suas receitas macabras. ( disse eu atiçando ainda mais o Marcão.)
Guardamos o mapa dentro do livro e tentamos colocar os livros da mesma forma que estavam, não coloquei aquele livro inteiramente pois m lembrei a tempo que estava um pouco para fora.
Bem. E agora? ( Perguntei eu, já querendo ir embora daquele lugar estranho. )
Agora vamos subir aquela outra escada. ( Este era o Fabião sem medo e aventureiro já querendo se infiltrar ainda mais na casa.)
Neste exato momento enquanto subíamos a escada, que como a outra também estava desgastadíssima e semi-destruída, o Marcão resolveu fazer um comentário que eu até achei bem interessante:
Se o cara que estamos procurando mora aqui ele deve ser filho do velho, ou melhor deve até ser neto. E além do mais eu diria que o velho é bruxo, é bruxo disfarçado, e neto de bruxo bruxo é.
Isso eu não sei, ( disse o Fabião. ) mas que ele é seqüestrador ele é.
Em todo o caso ( falei.) as duas forças são malignas, e não possuem uma boa intenção.
A escada dava em um outro corredor, igual ao outro: estreito e apertado, iluminado por luzes fracas que se dispunham lateralmente, não andamos muito e chegamos a um lugar onde estava uma porta de pedra, e esta não conseguiríamos remover nem se usássemos toda a força de que dispúnhamos, e devemos ( quando falamos em força. ) considerar que o Marcão possuía uma força descomunal, ele sempre nos dizia que sempre fizera musculação, e que tomava uma tal de Taurina, que nem ele sabia direito o que era, mas falava que aquilo aumentava sua força. A porta era muito detalhada em desenhos em alto relevo, haviam quatro luas minguantes, uma em cada ângulo da porta, feitas em auto relevo. Na parte central haviam muitos desenhos místicos, eram muito parecidos com os desenhos que havíamos visto naquele livro, mas um desenho estava mais relevado que os outros, era uma espécie de um homem touro. Quando vi este desenho petrificado na porta tomei um susto muito grande, pois instantaneamente lembrei daquele sonho que tivera, era muito parecido, era na verdade igual, com a única diferença de que não havia gnomo nenhum, era somente aquele homem touro com a face assustadora, braços abertos e punhos cerrados.
Puta velho...( Balbuciei com um pouco de medo não sei de quê.)
Quê foi Isaião? ( Perguntou o Marcão preocupado )
Hesitei um pouco, pois eu mesmo agora já estava com muito medo do sonho que havia tido.
Tive um sonho exatamente igual...
Igual a quê? ( Perguntou o Fabião)
Igual a esta figura deste homem touro, Ana estava desenhando um homem touro exatamente igual a este.
Sério? ( perguntou Marcão, como se não tivesse ouvido as palavras que haviam sido ditas.)
É.
Todos estávamos mais que pasmados com aquela situação, já não podíamos esperar mais nada de surpreendente daquele lugar, na realidade estávamos todos muito assustados, derrepente o Fabião olhou para cima e quase babou quando disse:
Olha só isso...eu não acredito.
Olhamos para cima e lá estava escrito uma frase com letras feitas de pedra:

Asgae murlot ita Glantaris

Caracas!! O que quer dizer isso?
Sei lá Marcão, só sei que Glantaris é aquela cidade que a gente tinha achado lá no mapa.
Vamos logo! ( Falou Fabião, como se tivesse pressentindo alguma coisa de ruim.) Não têm nada mais para fazer aqui.
Vambora.
Saímos dali como quem sai de uma caverna de Alquimistas, quando chegamos lá naquele depósito olhamos com cautela para fora. E o velho? Aonde havia ido? Isso a gente não sabia, derrepente escutei uns passos de alguém que estava vindo diretamente na nossa direção, nos somente estávamos na espreita.
Rápido! É o velho.
Nos escondemos atrás de uma estante de livros que havia naquele depósito.
Realmente, era o velho, e estava trazendo uma cesta cheia de uvas e outros arbustos, foi por pouco, pois a estante não era lá essas coisas, pegou algumas ferramentas colocou juntamente na cesta, agora não vi direito o que ele tinha pegado, só percebi quando essa coisa reluziu fortemente ao se encontrar com a luz do sol que entrava pelas janelas: era uma faca, o velho começou a afiar a faca. Aquele ruído do ferro com a pedra me deu medo, era um ruído abrasador para alguém que estava como nós naquela maldita situação. Eu nem respirava direito para não fazer barulho, ao contrário do Marcão que começou a suar frio e respirar ofegante.
Calma Marcão. ( Cochichei tão baixo que não sei nem se o próprio Marcão escutou.)
Não sei direito por quanto tempo o velho ficou afiando a faca, só sei que aquilo me pareceu uma eternidade. Este sofrimento durou ainda mais, pois além de afiar a faca ele ficou cortando uns ramos de arbustos, me parecia que ele estava separando os melhores ramos e colocando em uma caixa pequena de madeira. Não foi só isso: Após colocar uns tantos ramos naquela caixa o velho passou triscando pela gente, tivemos sorte de ele não Ter olhado para baixo, pois estávamos todos escondidos na parte de baixo da estante, pegou um livro e começou a ler, leu bastante, depois foi até o lugar em que estava a cesta( mais ou menos perto da porta. ) e continuou a ler, leu um outro tanto, depois me pareceu que ele ficou nervoso, achei que ele tinha nos descoberto, mas isso não era porque seus olhos estavam fixos no livro, soltou um berro que não se conseguia entender.
Escarrrefg! Opaif! Kuis! Dasguiter!
Só consegui entender quando um pouco depois disso ele gritou como um animal:
Glantaris angulum! Glantaris angulum! Glantaris angulum!
Furiosamente atirou o livro contra a janela quebrando os vidros que a compunham. Fazendo com isso um barulhão, os estilhaços chegaram até onde estávamos. No mesmo instante em que atirou o livro fincou a faca que já estava entre suas mãos em um dos sacos de arroz, este por sua vez começou a murchar deixando centenas de grãos vazar, foi correndo em direção daquele sinistro corredor.
Mais que instantaneamente aproveitamos a deixa para cair fora, não demorou nem meio milésimo de segundo e já estávamos no meio da plantação de uva, acho que neste momento deveríamos até Ter quebrado o recorde mundial de velocidade, tamanho era nosso medo neste momento.
Pulamos o muro como se tivéssemos molas nos pés, acho que havia tanta adrenalina em nossos sangues que deveríamos estar com os sentidos e com a força triplicados.
Quando eu já estava descendo do muro olhei instintivamente para a casa, e vi um cara entrado correndo no armazém, era o mesmo cara da festa, ele era alto e magro, muito branco, com cabelos loiros muito curtos, aparentava Ter uns dezessete ou dezoito anos, consegui ainda ver que ele tinha uma coisa preta muito grande nas costas, com certeza aquilo não era sujeira, deveria ser uma tatuagem.
Estávamos tão empolgados que continuamos correndo até chegar na rua em que eu e o Marcão morávamos, entramos todos na minha casa.
O que é isso filho? Parece que vocês estão chegando de uma guerra. ( falou minha mãe que estava aguando os dentes de leão dos vazinhos ao lado da porta.
Não mãe, uma guerra não foi, mas quase isso.
Entramos em casa tomamos uma água e subimos ao meu quarto. Lá sim podíamos discutir com mais calma e segurança sobre o ocorrido. Logo que chegamos sentamos no chão onde estava o tapete Inca herdado de meu tataravô, e este não sei como conseguira um tapete destes, que dava ao quarto um ar indígena.
Bem...( Falou Fabião esfregando uma mão contra a outra.) O que podemos concluir disso tudo?
Simplesmente que o velho é um louco varrido. ( Falou o Marcão olhando para o livro mil e uma noites que eu havia deixado sobre a cama. )
Louco não, a designação mais adequada para ele seria bruxo. Se bem que também poderíamos chama-lo de mago ou feiticeiro.
É Fabião, concordo plenamente com você, e ainda diria que nós entramos justamente na cova do leão, pois se demorássemos um minuto a mais naquele lugar estaríamos perdidos, e ainda devemos agradecer ao Marcão que era o mais apressado. Marcão ( Ajoelhei e abaixei meu tronco em sua direção como fazem os mulsumanos em direção a Meca. ), se você não quisesse fechar aquele mapa no momento exato, neste momento estaríamos sendo presas das supostas artes malignas daquele bruxo louco.
O cara é louco mesmo ( comentou Marcão. ) cêis viram o que ele fês? Jogou o livro pela janela e foi correndo lá pra dentro.
É. (disse Fabião.) Começou a gritar que nem um desesperado e meteu a faca no saco de arroz, nesse momento eu pensei que ele tinha descoberto alguma coisa sobre a gente.
E não foi isso? ( falei já sabendo que todos sabiam o que eu ia dizer. ), é claro que foi isso. O velho descobriu de alguma maneira que nós entramos no seu santuário, e foi aí então que ele ficou revoltado, e ainda correu pra lá para ver se estava tudo em ordem.
Sei não...( falou Marcão indeciso.). E agora?
Agora? ( perguntou Fabião ironicamente.), agora nós vamos voltar lá, mas desta vez será pela porta da frente.
Quando? ( perguntei.)
Não sei...talvez seja melhor a gente dar uns dias para ver se o velho dá uma apaziguada e esquece o caso.
É. ( falei.) Ainda que depois que eu já estava descendo do muro vi o namorado da Viviana correndo em direção ao depósito.
Sério!? ( Gritou Fabião, sem esperar que eu dissesse aquilo.), Têm certeza?
Era ele mesmo. Era alto e meio magro.
Era loiro?( Perguntou Fabião.)
Exatamente: loiro. Tenho certeza.
Então era ele mesmo. ( Concluiu Fabião com um sorriso nos lábios), Agora sim, nós temos absoluta certeza de que ele mora lá mesmo. Mas a única coisa que não sabíamos é que lá é um centro de bruxarias.
Agora sabemos. ( Falou Marcão.)
É, Isso sabemos, e sabemos também que algo de estranho acontece naquela rua, mais especificadamente naquela casa.
Exatamente Isaião a rua Candidad é a rua em que deveremos ficar de guarda vigiando aquela casa, que em um primeiro momento até parece normal, ou seja: uma simples casinha típica européia. Mas que se formos analisar veremos que há ali uma parte subterrânea muito grande.( Falou Fabião destacando o que qualquer um não imaginaria ao passar pela frente da casa. )
Pessoal, ( Falei seriamente aos dois.), Uma coisa que me deixou abismado foi que eu sonhei com aquele homem touro lá daquela porta de pedra.
Como foi o sonho? ( Perguntou Marcão.)
Eu sonhei que a Ana estava desenhando no papel um ser completamente igual, inclusive os punhos cerrados e braços abertos.
Puxa vida meu. ( disse o Marcão numa simplicidade muito bonita.), às vezes os sonhos são tão esquisitos que nem a gente mesmo entende eles.
É verdade Marcão ( disse Fabião já com suas explicações mais técnicas.), os sonhos hoje em dia ainda são uma coisa muito discutida, saibam vocês que um dia a mais ou menos um ano e meio eu sonhei que estava em uma espécie de uma loja, mas não era uma loja como as que existem hoje em dia, era uma lojinha muito antiga, e que parecia ser feita toda em madeira, havia um balcão e dois serventes que prestavam serviços atrás do balcão, inicialmente me vi dentro da loja, querendo comprar alguma coisa, ainda que eu nem soubesse o que era. Um outro homem entrou na loja, e se postou ao meu lado o homem era um pouco mais alto que eu, vestia trajes andinos, aquelas roupas todas coloridas que os índios bolivianos vestem, era um poncho, estava sério e demonstrava grande serenidade. Seus cabelos eram muito compridos, e estavam unidos em uma trança impressionante, digo que a trança era impressionante porque era a trança mais detalhada que eu já vira em minha vida. Aquela trança me impressionara de tal forma que só por causa disso resolvi puxar assunto com aquela figura, falei a ele que gostaria muito de Ter umas tranças como as dele, ele então continuando a conversa disse que era um peregrino e que constantemente viajava por toda a América, conhecia incrivelmente as três Américas, do sul , central e do norte. Mas na verdade nascera na parte andina da divisa do Peru com o Equador. Mas o que quero dizer de todo este sonho, é que isso tudo não passou de uma imagem que eu viveria no futuro, por incrível que pareça no outro dia casualmente encontrei na rua um Chileno vestido com a mesmas vestes, e com ele fiz amizade, me falou muitas coisas sobre seu país, ademais: falou que era um andarilho, e que por isso conhecia muito bem a parte amazônica da Colômbia, e por isso digo: os sonhos ainda possuem muitos segredos a serem desvendados. Tudo pode ser coincidência, mas a pergunta certa seria: E se não for? Tudo indica que não seja esta situação um mero acaso.
É isso mesmo que estou querendo dizer ( falei pulando na cama, extasiado com a grande e valorosa explanação do Fabião), como poderia acontecer uma coincidência tão grande como estas? Se fossemos analisar chegaríamos a conclusão de que é praticamente impossível acontecer uma coincidência tão grande. Mas com isso poderíamos até estar tirando o valor do signo coincidência, classificaríamos elas em dois tipos para facilitar: as fáceis e as difíceis.
E são justamente as difíceis que são suscetíveis às dúvidas ( completou Fabião dando continuidade ao pensamento.), dúvidas de serem consideradas coincidências.
Porque elas poderiam até não ser coincidências( enfatizei.), e serem sim alguma outra coisa desconhecida.
Como magia feita por um velho louco? ( Perguntou Marcão seriamente.)
É...pode até ser que o Isaião tenha sido submetido a coisas desconhecidas feitas pelo velho, pois devemos considerar que esta é uma coincidência do tipo das difíceis, daquelas que são colocadas em dúvida, é um sonho muito duvidoso.
É.( Como o Isaião iria adivinhar que ali naquela porta haveria um homem touro sem mesmo Ter visto ele?
Isso é o que acabamos de descobrir invadindo aquela casa.




13 - Astreireg e Glantaris: onde ficariam estes dois lugares?




À noite, depois que Marcão e Fabião foram embora fiquei pensando em tudo o que havíamos feito neste dia que passou, em Viviana e não pude deixar de pensar naquela casa. Viviana realmente havia sido justa conosco, e nós que tínhamos duvidado de sua palavra. Derrepente me vi dentro daquele salão onde tínhamos todos inspecionado o livro do mapa, estava lá, e agora não sabia mais se aquilo era sonho ou realidade, fiquei assustado, o salão estava ainda iluminado pelas luzes laterais, mas mesmo assim ficava parcialmente obscuro, o que me dava uma sensação não boa. Instintivamente olhei para os lados para ver se havia alguém ali. Ninguém. Fui até as estantes, exatamente onde havia deixado o livro que pegara. Não estava mais lá. Virei meu corpo como se estivesse sentindo alguém me observando pelas costas, mas não havia ninguém para minha sorte, neste momento me deparei com um livro podre em cima da mesa. Me aproximei para ver mais definidamente, pois aquele lugar parecia estar mais escuro que na outra vez, as luzes ficavam piscando e o cheiro de mofo estava mais forte, vi que haviam umas traças andando pelo livro, e este
possuía muitos buracos feitos por elas, era escrito em meu idioma , portanto eu lia com grande facilidade apesar de partes extremamente apodrecidas:



Astreireg, um país considerado normal mediante nosso rei, que domina além de nosso país todas as nossas terras, gente nossa, não aceiteis o domínio de tal rei, não aceiteis tal dominação...Glantaris, cidade nossa, vida nossa, morte nossa, lugar nosso, lá a magia negra impera, e lá nós mandamos, mas de um homem precisamos... de um homem que seja novo, mas que seu ventre já seja fértil, pois se assim não for a magia não se concretizará, a magia negra não será feita, e por isso desejamos que seja assim, que ele em seu mundo tenha vontades maléficas, e destas vontades nós faremos proveitos, para que elas cresçam e proliferem até que então depois as cidades de que vivemos serão muitas e muitas serão nossas vidas e nossas mortes...que este homem venha a nós, com grande vontade iremos até ele...



Estava lendo estas frases reveladoras quando derrepente um grande barulho veio do corredor, parecia que alguém estava vindo, desvirei as páginas que havia virado às pressas deixando o livro como havia encontrado e rapidamente tentei achar um lugar para me esconder, a pessoa quem quer que seja estava vindo, me enfiei debaixo da mesa como um felino. E nem precisei esperar muito para logo ver que uma sombra projetava-se para o lado oposto da parede, não vi nada desta pessoa da cintura para cima, vestia um paramento muito largo que se arrastava no chão, ficou diante da mesa, com certeza estava lendo aquele livro, depois foi em direção ao outro corredor, onde estava aquela intransponível porta de pedra. Não sei o que me deu, mas a única coisa que eu queria neste momento era estar longe dali, dei um tempo, mas depois sem hesitar saí correndo desesperadamente para a saída, mas quando cheguei no lugar em que se entrava no armazém me ferrei. A porta estava fechada, a única coisa que pensei foi em arrombar. Olhei para todos os lados em procura de algo que pudesse usar para abrir a porta, mas tudo inutilmente, pois não havia nada a não ser aquele sinistro corredor, derrepente apareceu o gnomo que me jogando um pó esquisitão fez com que eu m tornasse brilhante...estava ficando cada vez mais brilhante, o gnomo porém não falou nada, simplesmente me indicou a porta e atravessando ela fez sinal para que eu fizesse o mesmo. Olhei para min e vi que aquele brilho tinha uma tonalidade de azul muito bonita, me impressionei, queria passar a mão em min mesmo, mas quando fui fazer isso atravessei minha mão em meu peito, num primeiro momento assustei-me, derrepente vi somente o braço daquele gnomo encantador me chamando, tomei coragem e vagarosamente fui atravessando a porta, logo depois me vi juntamente com o gnomo dentro do depósito. Realmente havíamos atravessado a porta, sem que eu esperasse o gnomo foi correndo em direção à porta de saída e a atravessou, fui atrás dele e passei a porta, mas não o vi mais, talvez já tivesse se enfiado no meio da plantação de uva.



14 - Um novo dia.



Acordei extremamente aturdido com aquilo que mais parecera uma realidade e não um sonho, confesso que estava até cansado, apesar de tudo era uma quarta feira portanto a escola me chamava, eu sempre vou de ônibus à escola, e no caminho para o ponto de ônibus geralmente me encontro com Marcão e vamos juntos, isso de fato aconteceu, com a única diferença de que agora estávamos em silêncio, sabíamos de muitas coisas que estavam acontecendo, mas outras coisas não conseguíamos entender, como a história dos sonhos.
O ônibus havia chegado, fomos até a escola naquele mesmo silêncio cúmplice, quando chegamos lá logo encontramos com Zezinho que queria saber de tudo o que havia acontecido com a gente lá no cursinho We understand the world, fiz um sinal furtivo com as mãos por detrás do Zezinho para que ele não contasse o que tinha acontecido com a gente, achei melhor assim, depois a gente contava, pois se contássemos agora o Zezinho ia ficar muito eufórico, então o Marcão disse que tínhamos visto Viviana lá mas que não tinha ocorrido nada de mais.
As férias estavam chegando, e a escola já estava até meio vazia, mas a nossa trupe sempre vinha até que se esgotasse totalmente o período letivo, para ficar zoando. Fizemos todas as aulas do dia e logicamente tivemos que ouvir toda aquela ladainha dos professores de que haviam ainda muitos trabalhos para fazermos nas férias, mas nisso é que eu não conseguia pensar, estava totalmente enfunilado em meus pensamentos filosóficos sobre o Lião...e também sobre a corrida de bicicleta que eu deveria ir lá em Águas de Lindóia, seria uma oportunidade muito boa para estas férias a corrida dos sete anos, e ainda mais que Ana queria ir junto comigo, aí sim que eu ficava filosofando mais que Platão, Sócrates e Aristóteles juntos, esta corrida iria ser no dia vinte de julho, e até lá eu deveria treinar cada vez mais, o pentelho do professor de educação física, digo pentelho mas no fundo o cara é muito bacana, que tinha me chamado para ir na corrida dos sete anos. E se iríamos em uma Kombi junto com mais dois ciclistas. Como iria levar Ana junto? Isso eu não sabia. Mas minha primeira preocupação era o fato de o Lião Ter sido pego pela família macabra do velho bruxo, já tive uma idéia: iria ler todos os livros referentes à magia como por exemplo Monte cinco do Paulo coelho, uma vez eu estava passeando no Shopping e vi lá uma destas lojas que só vendem livros místicos, haviam também velas incensos e CDs de músicas calmas e sons da natureza, a verdade é que eu gostaria de entender muito mais de misticismo do que eu entendo, para ver se salvava meu amigo de uma vez. Hoje em dia o misticismo está muito difundido no mundo inteiro, isso é uma verdade mais que absoluta, pois em livrarias e bibliotecas vemos coisas de todos os tipos relativas a magos e etc...Todas estas coisas se juntam e formam uma grande empresa pelas quais se interessam muitas pessoas.
Bem...depois que acabaram-se todos os nossos compromissos relativos às aulas, ficamos eu, o Marcão, o Zezinho e o Fabião em um dos bancos do arborizado pátio, justamente para conversar sobre as coisas que tinham ocorrido no momento em que fomos para o We understand the world, acabamos contando tudo para o Zezinho, e este, quanto mais ouvia mais pasmava. Ao final do relato Zezinho tombou da cadeira forçando um desmaio mais que mentiroso, e no chão , no meio das margaridas que tentavam viver sossegadas ali naquele canteiro, simplesmente disse que não acreditava no que ouvia.
Pois então trate de acreditar .( Falou Marcão.) Porque tudo isso que estamos falando é verdade, e ainda por cima, quero ver se você iria agüentar ficar ao lado daquele velho louco.
Mas Marcão, esse negócio de alquimia já era! É coisa da idade média, sei lá, deve ser uma mania que surgiu lá pelo ano mil, ou então mil e quatrocentos, isso já não tá mais no calendário.
Ah é? Então cê não acredita que a magia ainda não persiste? ( Soltou Marcão desafiando-o. )
É mesmo. Como vocês acham que existem ainda velhos que vivam em esconderijos subterrâneos fazendo mandingas com livros estrondosamente apavorantes?
Nós não achamos.( disse eu.) Simplesmente vimos. ( Dei-lhe a mão e ele agarrou-me levantando-se todo cheio de carrapichos do mato.)
É uma história muito difícil de acreditar. Isso eu juro ( Disse Zezinho enquanto sentava-se novamente no banco.) Principalmente a parte do sonho do Isaião. Como pode ser possível uma coisa dessas?
Pode ser porque pode ser. (disse o Marcão constrangido com a falta de elasticidade de opinião, do Zezinho.
Não Marcão( Repetiu Zezinho.) Ainda assim não consigo acreditar numa história de previsões através de sonhos.). E vou falar, é humanamente possível que exista um museu sobre cavernas misteriosas da idade média, mas não em uma casa normal no meio de uma cidade como a nossa.
Olha Zezinho...( Tentou reverter a situação Fabião.) A gente já conversou sobre tudo isso lá na casa do Isaião, e chegamos à conclusão de que é naturalmente possível existirem sonhos do tipo de previsões proféticas, já aconteceu comigo, e garanto à você que boa parte da população já teve tais sonhos, mas muitas destas pessoas acabam até esquecendo este sonho depois de pouco tempo, por não darem importância ao fato, ou mesmo por acreditarem que estes sonhos não passam de simples coincidências. Mas eu juro que meu sonho profético ficou muito bem registrado na minha memória, assim como o amigo que conheci através da previsão deste sonho, um chileno muito gente fina.
Comecei a lembrar novamente do sonho que tivera a noite passada, e lembrei com tanta perfeição que parecia que estava sonhando-o novamente.
Que foi Isaião?!? Cê tá viajando meu.
Hãn? Quê?
Acorda meu! ( Era o Marcão.)
Ah. Não é nada não.
Como nada? Vai me dizer que cê tava pensando na Ana de novo? ( Insistiu Marcão.)
Não, não era na Ana não.
Então que é que era?
Pô meu, sei lá Marcão, deixa de ser inxerido. ( Confesso que fiquei um pouco de saco cheio com ele.)
Epa! Pra quê tanta violência. Aí têm coisa. ( Desse jeito nem parecia o Marcão falando.)
Tá bom meu, eu falo, é só não ficar pegando tanto no pé.
Vamos meu desembucha! ( Essa como já foi explicada era a frase mais típica do Marcão, creio que o leitor esperto já deve Ter adivinhado o que iria dizer Marcão no exato momento em que falou.)
Tive um outro sonho daqueles.
Oooooooooooooutro sooooooooooonho?!? ( Ironizou Zezinho sem se preocupar com a gravidade do caso e dando grande ênfase às vogais ós.)
Aí o Marcão com a sua leveza de movimentos pegou o Zezinho pelo pescoço, e o coitado ficando vermelho pela chave de braço não sabia o que fazer.
Repete.( Disse Marcão enquanto enforcava Zezinho.)
Desculpa ...eu...foi mal. Foi mal.
Soltando Zezinho Marcão sentou-se novamente onde estava: no chão em frente ao banco no qual estávamos eu, Fabião e Zezinho. Contei o sonho para eles, e fiquei mais uma vez impressionado com a clareza dos detalhes, conseguia lembrar completamente tudo, inclusive as palavras que lera naquele livro semi-apodrecido, lembrava com uma exatidão incrível, nunca havia conseguido lembrar de um sonho como lembrara este, nos outros sonhos sempre me borravam as imagens e os acontecimentos. Quando comecei a dizer as palavras que estava, naquele livro o Fabião avidamente pegou seu caderno de filosofia e abrindo-o pelo final, com uma caneta esferográfica começou a transcrever aquelas palavras que eu tinha lido no livro do sonho.
Quando acabei de contar-lhes o sonho, vi que Marcão e Fabião tinham sentido firmeza nas minhas palavras, somente Zezinho se mostrava extremamente desconfiado. Só não tirava mais sarro porque sabia que Marcão levava tudo isso muito à sério. Fabião começou a reler o trecho do livro, algo nos dizia que aquele livro realmente existia.
Astreireg, um país considerado normal mediante nosso rei. Que rei pode ser esse? E que país?
Não existem ( disse Zezinho.) São pura fantasia da cabeça do Isaião.
Como não existem?( falou Fabião com suas sinceras explicações científicas) Veja esta parte: Não aceiteis o domínio de tal rei. Isso demonstra , se o que estou pensando for válido, que tudo se trata de uma revolta. E podemos claramente ver nesta parte: Glantaris, cidade nossa...lá a magia negra impera. Podemos ver com transparência que seu sonho condiz com o que vimos no mapa. De fato, existem um país e uma cidade exatamente com estes nomes, Glantaris talvez seja povoada por um grupo étnico social que tenha princípios adversos aos do rei. E por isso estão contra ele, mas eu acho que esses princípios não são lá os mais agradáveis que existam, pois trata-se de magia negra. Escutem só isso aqui: ...mas de um homem precisamos...pois se assim não for a magia não se concretizará. Será isso uma espécie de sacrifício? Pode ser que sim.
Continue a ler. ( falou Zezinho sentindo a importância que dávamos ao sonho.)
Que ele em seu mundo tenha vontades maléficas. Bem... a parte de vontades maléficas nem precisamos discutir, pois sabemos muito bem que se falamos de magia negra estamos colocando em questão coisas más, mas o começo desta frase é realmente muito intrigante: Que ele em seu mundo...seu mundo...isso me dá uma pista muito provável: está havendo aqui uma diferenciação de mundos, portanto existem aqui varias dimensões que podem estar neste caso sendo chamadas de mundos.
É uma hipótese muito boa. ( falei empolgado)
Sim claro. ( Disse Fabião orgulhoso.) Vejam como acaba: Que este homem venha a nós, com grande vontade iremos até ele...
Puta meu!! ( exclamou Zezinho já intrigado com a coisa.) Quer dizer que os caras vão sair da dimensão deles para buscar um outro cara em outro mundo?
É mais ou menos isso( Falou Fabião.), não podemos esquecer que estas são apenas hipóteses.
O dia estava quente, apesar de estarmos no final do mês de julho e estarmos assim em pleno inverno, o negócio é que nós vivíamos na cidade de Fincas de Mulicintra, que de fato é uma cidade muitíssimo parecida com São Paulo, onde o clima às vezes parece estar contrariando as regras. Já deveria ser mais ou menos uma hora da tarde, ao nosso redor os pássaros cantavam enquanto um silêncio se criava, parece que todos por um momento pararam para pensar no que havia sido dito.
Fomos todos diretamente para a lanchonete que ficava em frente a escola, lá ouvimos Marcão, queria formular uma espécie de um plano, segundo sua vontade após tomarmos um lanche fomos todos à sua casa. Chegando lá Marcão falou para subirmos no quarto dos fundos, que ficava depois de uma pequena horta que ele tinha no quintal, e assim fomos ao quarto dos fundos, chegando lá vimos que tudo estava uma verdadeira zona, haviam dois sofás velhos em um deles um cachorro vira lata roía um osso, o outro estava ocupado com um monte de bugigangas, sendo que também nem conseguíamos ver o chão direito, pois era no chão que se depositavam coisas de todos os tipos como: Caixas de adubo para plantações, tapetes enrolados, pneus de carro ( inclusive uns três eram de trator.), madeira para construção, alguns tijolos baianos, panos velhos e outros trastes. Marcão entrando expulsou o cachorro que saiu correndo dali do sofá com seu osso entre os dentes e jogou as coisas que estavam no outro sofá no chão, e todo empolgado com a idéia que havia tido falou que podíamos esperar no sofá que ele já vinha.
Tentamos com muito esforço chegar até o local onde estava o sofá, aquele quartinho parecia mais um depósito de lixo que qualquer outra coisa. Sentamos no sofá, particularmente senti um forte cheiro de produtos de limpeza, procurei e achei atrás do sofá um mundo de coisas de limpeza.
Que quartinho hein? ( Falou Zezinho enquanto fuçava nas coisas que estavam jogadas no chão.)
E que cheiro mais forte ( Falei saindo fora para tomar um ar dotado de oxigênio) Melhor é esperar lá fora.
Os outros ficaram lá dentro, fiquei na frente da porta, não via o Marcão, devia Ter entrado lá na casa. Fiquei olhando aquela paisagem natural: A horta , pelo que eu conseguia perceber, tinha pés de alface, mandioca e rabanete.
Chegou o Marcão com três walk talks e disse que tinha um plano.
...e então enquanto eu e o Zezinho ficamos aqui com um dos Walk talks vocês dois vão lá na casa do velho ver se acham o Lião, que provavelmente segundo minhas presunções deve estar na parte de baixo e não em cima.
Isso é a coisa mais provável ( Falou Fabião tirando novamente seu caderno de filosofia da mala.), se ele está nesta casa deve estar em uma parte não usual da casa.
Essa é uma idéia muito legal Marcão...Mas porque eu tenho que ficar aqui na casa com você e não posso ir junto com eles lá na casa?
Isso ( Falou Fabião demonstrando assim que tinha gostado da idéia do Marcão. ) primeiramente porque nós só temos três walk talks, e é extremamente importante que quem esteja dentro da casa tenha comunicação no caso de uma emergência ou qualquer outra coisa que venha a ser importante, levando em consideração que estas duas pessoas podem se separar . Em segundo lugar eu diria que é muito perigoso, pois estamos lidando com bruxaria e não sei se você iria agüentar entrar ali.
Todos concordaram com o plano do Marcão e decidimos entrar em ação mas antes disso Marcão tinha outras idéias guardadas.
Calma aí pessoal.
Que foi meu?
Ainda faltam alguns detalhes.
Marcão começou a vasculhar por todos os lugares dali jogando algumas parafernálias para o alto, e estas caíam em um monte, onde se acumulavam coisas de todos os tipos.
Que é que cê tá procurando agora?
Isso!!! ( Gritou ele quando encontrou uma caixa de madeira velha, onde encontramos dentro quando ele abriu um conjunto de facas cada qual com a sua bainha.)
Veja: acho que vocês talvez venham a precisar usar estas facas. ( Falou Marcão todo agitado com a idéia quase revolucionária.)
Peguei uma, e o Fabião pegou outra, deixamos nosso material escolar lá na casa do Marcão e depois de fazer alguns testes com os walk talks ( os quais deram bons resultados.) Fomos em direção à casa esquisita.
Chegando lá fizemos exatamente o mês mo que havíamos feito da outra vez, pulamos o muro pela mesma parte e entramos na plantação de uva, vimos que a porta do armazém estava aberta, e cautelosamente nos aproximamos, não vimos ninguém portanto entramos no armazém sem grandes problemas, lá o sol das três horas entrava pelas janelas, e vimos que uma das janelas ainda estava quebrada pelo livro que havia sido atirado.
O livro!!! ( Exclamei eu como se acabara de Ter sido curado da mudez.)
Que livro? ( Perguntou Fabião meio desorientado.)
O que o velho atirou.
Não esperei nem mais um segundo, dei a volta na parte de fora do armazém de modo que eu ficasse exatamente na parte de fora da janela quebrada, muito mato, era um verdadeiro matagal, me enfiei entre aquelas folhas e comecei a procurar. Segui o ângulo de direção no qual o velho atirou o livro, e de fato, lá estava o livro. Achei! Peguei o livro como se fosse um tesouro, era um livro de tamanho médio, capa preta e suas folhas já estavam todas amareladas também comidas pelas traças. Até então tudo bem, mas quando abri o livro em uma página casual encontrei exatamente os dizeres que havia encontrado em meu sonho. Isso! Era o livro de meu sonho. Peguei o livro e o guardei comigo.
Quando voltei para dentro da dispensa encontrei Fabião fuçando em uma caixa cheia de pedras esquisitas, cada pedra mostrava uma figura mitológica diferente, até que encontramos uma que se parecia muitíssimo com aquela figura do homem touro. Quando estávamos colocando as pedras no lugar sentimos que alguém se aproximava pela porta que ia ao corredor, no mesmo instante paramos o que estávamos fazendo e nos escondemos atrás dos sacos de arroz.
Era um monge, e estava com umas vestimentas todas pretas, com o gorro colocado de uma forma que não podíamos ver seu rosto, somente víamos uma sombra, passou reto e foi para fora, tinha um biotipo de alguém alto, se bem que não acreditávamos que pudesse ser o cara que namorava a Viviana, era mais alto que o velho. Dei o sinal para o Marcão que nos escutava atentamente na sua casa ( inclusive estava cheio dos esquemas, como folhas e canetas para transcrever alguma coisa, e outros esquemas mais que não vale muito a pena escrever devido a quantidade de bugigangas que ele juntou.)
Marcão bzz bzz..., aqui é o Isaião bzz estamos entrando no corredor que vai para a sala macabra.
Ok. Tudo bem?
Tudo... bzz sem mais detalhes desligo.
Entramos no corredor e seguimos por ele descendo todas aquelas escadas incríveis, parecia que iam nos levar ao centro do mundo ( como eu havia lido no livro Viagem ao centro da terra, do Júlio Verne.), até encontrarmos aquela outra sala onde vimos que não estava mais como havíamos encontrado da outra vez, todas as luzes que a iluminavam estavam apagadas, e na mesa estavam postas em forma de uma estrela de quatro pontas velas brancas acesas, entramos com cuidado na sala, o cheiro de vela queimada infestava o lugar, além disso o teto que não era muito alto estava com muito negrume provocado também pelas velas.
É melhor a gente sair daqui, aquele monge deve estar vindo pra cá. Ou você acha que ele deixaria estas velas acesas? ( Falei eu preocupado com aquela figura que havia saído pela porta do armazém.)
Sei lá meu, acho que isso é uma espécie de ritual que fazem estes místicos.
Tudo bem que seja um ritual. Mas o que é não importa, importa sim que saiamos logo daqui.
É melhor a gente não voltar, pois se fizermos isso provavelmente vamos dar de cara com ele.
Tá. Tudo bem. Então o que você acha que devemos fazer? Esconder-nos?
Não meu, vamos seguir pelo outro corredor, aqui não há nenhum lugar no qual possamos nos esconder.
Entre passos medrosos e super silenciosos seguimos, digo que eram passos medrosos porque aquele outro corredor se encontrava inteiramente escuro, tivemos que adaptar nossos olhos à escuridão, seguíamos tateando as paredes, de mão dadas para não nos separarmos, uma claridade mais à frente começamos a ver, a claridade foi aumentando pouco a pouco, até que tudo estava muito bem iluminado. Assustamo-nos quando vimos no chão em meio a toda aquela claridade, a pedra que no outro dia impedira a nossa passagem tombada tombada no chão, aquela luz quase cegante vinha justamente do lugar que ficava depois da pedra do desenho do homem touro.
Fabião fez sinal de que queria voltar e sair dali, mas então não aceitei, agora sim que esta tinha sido nossa oportunidade única de ver o que realmente se escondia detrás daquela porta, minha vontade de voltar era muito grande confesso, mas a curiosidade de ver o que se escondia nos lugares ocultos desta casa era muito maior.
Colocamos nossos rostos então diante daquela porta, ficamos mais que admirados com o que vimos do outro lado: ficamos extasiados, quase que hipnotizados. Lá estava diante de nossos olhos um campo... era um campo onde haviam vastas plantações, era uma coisa tão grande que nem conseguíamos ver o horizonte, e o mais incrível de tudo é que não havia céu, no lugar do céu estavam os mesmos tijolos que cobriam o corredor, ainda assim o lugar era claro, claro como qualquer outro lugar iluminado pelo sol, mais à frente, muito mais à frente víamos uma espécie de um castelo circundado por uma cidade. Seria realidade aquilo que estávamos vendo? Não poderia ser imaginação nossa? Não, isso não era, mas poderia até ser uma ilusão. Não sei direito o que pensei quando vi isso, pois um campo tão vasto assim como este em um lugar subterrâneo de uma casa considerada simples perante a sociedade é uma coisa mais que impossível, contrariava todos os princípios que eu havia levado à sério até agora em toda minha existência.
Puta meu! Têm certeza que eu não estou sonhando.
É Fabião...parece que a gente tá dentro de uma realidade da qual quase nada conhecemos.
Então vamos conhecer!!
Quer entrar aí? Têm certeza?
Claro. Para que mais nós viemos aqui senão para isso?
Começamos então a andar por aquele campo, nos distanciando assim da porta que dava para o corredor, à medida que andávamos e olhávamos para cima, aqueles tijolos que compunham o teto pareciam sumir magicamente, e em seu lugar um céu se formava, um céu cheio de nuvens. Aquele lugar estava ficando cada vez mais surpreendente.
Nos aproximamos vagarosamente daquela cidade, e vimos que além de haver aquela grande construção ( que sem dúvidas se tratava de um castelo.) vimos também outras grandes edificações que se colocaram em destaque por serem mais altas.
Chegamos então à cidade, que era muito diferente de qualquer uma que eu já havia visto, andávamos por uma estrada de terra onde também passavam alguns camponeses com mulas carregadas de feno, outras carregadas de sacos cheios, não sei de quê. Ao entrarmos de fato na cidade, tive uma grande incerteza em relação ao que eu estava fazendo, não tínhamos nenhuma segurança em estar visitando aquele lugar, este era justamente o motivo de minha incerteza. Já nos víamos no meio daquelas casas de tijolos crus, construídas de modo que uma fique grudada na outra, chão de terra batida, vendedores para todos os lados, era uma feira artesana, mas haviam também vendedores de produtos comestíveis como peixe ou frutas, o lugar estava cheio, todos vestiam trajes típicos do lugar: Eram umas roupas realmente muito esquisitas, os homens usavam umas capas que podiam variar de cor, as capas possuíam também um gorro acrescentado, e umas blusas largas de manga comprida que faziam combinação com a capa. Essa blusa possuía uma pequena saia que era na realidade um prolongamento da blusa, as mulheres andavam com saias nada bonitas, eram saias escuras, o povo todo estava muito agitado, andavam de um lado para outro alguns faziam compras outros andavam com à cavalo, vi um homem trocando uns três galos ( segurava os três com uma só mão enquanto a outra já pegava a outra mercadoria.) por um saco médio de grãos. Haviam também alguns mendigos bebendo e jogando uns dados para o chão, a cada jogada um berrava mais alto que o outro, não conseguia entender o que eles berravam, não sei se é porque eles estavam bêbados e não pronunciavam sequer uma palavra direito ou se estavam berrando outro idioma.
Continuamos andando pela feira, algumas crianças que ali estavam brincando de atirar pedras em um pau que estava fincado na terra, pararam e ficaram olhando a gente passar, logo começaram a rir da gente. Tinham todo o motivo para rir, pois estávamos vestidos de uma forma totalmente diferente dos outros, eu estava vestido com uma calça jeans, uma camiseta completamente branca e um tênis cinza, enquanto Fabião estava de bermuda destas que usam os surfistas, que se estivéssemos lá na nossa cidade não seria considerada uma bermuda chamativa, pois era totalmente preta, com uma parte verde escuro na região posterior da cintura, uma camiseta toda cheia de anúncios e propagandas, que naquele lugar deveria ser a coisa mais profana do mundo. E um tênis branco ( Que agora já se encontrava marrom.)
Vira essa camisa do avesso Fabião.
Quê?
A camiseta. Vira ela pro avesso.
É mesmo, não tinha percebido. ( falou ele dando-se conta de que aquilo era muito chamativo, e que poderia até ser perigoso andar por ali com uma roupa tão chamativa. ) Inclusive acho que a gente vai Ter que trocar de roupa para andar por aqui.
Mas onde?
Ali! ( Falou ele apontando para uma pequena tenda que punha à mostra umas roupas. )
Fomos até lá, quando chegamos o comerciante, que era um homem gordo barbudo branco mas muito queimado pelo sol, estava fedendo , e trocava ovos por algumas vestimentas que uma senhora comprava. Ficamos perto, e quando aquela senhora se distanciou nos aproximamos.
Oi...precisamos de umas roupas.
Craig!?!( Exclamou o gordo fazendo uma cara de espanto.)
Puta meu!! Não havíamos pensado nisso. O cara não falava a nossa língua. E agora?
Peguei uma de suas blusas e apontei o dedo para ela gesticulando como se estivesse conversando com um surdo. O cara simplesmente teve um acesso de gargalhada impressionante, quase fiquei nervoso com o gordo nojento que ria sonoramente sem parar, só não pude fazer nada para não piorar a situação.
Guntas acremesc bula ad trenp ortesta mida fruft likuntrius. ( Falou o nojentão já mais calmo.)
Não entendi uma vírgula do que ele falou, só conseguimos entender quando ele, do mesmo jeito que eu apontou seus dedos de uma forma forçosa para meus tênis, me imitava e segurava um outro ataque de gargalhada, quando ele se aproximou de min fui eu quem segurei meu pé para não chutar a cara dele. No final das contas ele me deu aquela blusa-saia-capa com gorro que era cor de vinho, então começamos a fazer diversas trocas por aquele mesmo sistema: nós apontávamos o que queríamos comprar e ele apontava o que queria como pagamento. Só não lhe mostramos, tampouco trocamos, os walks-talks e as facas que estavam guardados em uma bolsa de couro do vô do Marcão ( Segundo Marcão aquilo era uma relíquia de família.) e ainda poderiam se muito úteis logicamente.
Wegus isterin diquia upolumus er grungus. ( disse ele depois de adquirir todas as nossas roupas, acenando a mão em sinal de despedida enquanto nos distanciávamos rapidamente.
Eu estava vestido com a blusa-capa-saia-gorro ( um nome um tanto complexo, mas o mais indicado para designá-la.) E uma calça verde justa e apertada, uma sandália bem esquisita também ia comigo. E o Fabião estava do mesmo jeito, só que a blusa-capa-saia-gorro dele era bege, e a calça, sendo como a minha, era preta, mas ele conseguira uma botina de couro.
É Isaião...estamos vivendo na Idade Média.
Isso eu não duvido, só não gostei da ingenuidade daquele mercador. Você viu só a graça que ele achou do nosso idioma?
Não foi do idioma que ele riu. ( Explicou ele como se fosse dono de toda a sabedoria do mundo) Foi da forma que você fez para tentar se comunicar com ele. ( Agora eu já estava nervoso com meu próprio amigo, que parecia estar do mesmo lado que o gordão nojento.)
Tá, eu sei...Mas mesmo assim, o gordo é um ignorante.
O que você quer esperar de um comerciante daqui deste mundo? Mais que isso?
O jeito é agüentar...
Bem...o que deveríamos fazer agora? Pensei eu enquanto caminhávamos naquelas tortuosas ruas daquela cidade tipo medieval, a verdade é que parecíamos estar em um sonho, já não valia mais a pena usar a razão, pois se usássemos iríamos achar que estávamos fora de órbita, o negócio era viver aquele momento como se fosse normal ( apesar da nossa consciência estar nos dizendo que alguma coisa estava fora do normal.). A rua na qual estávamos caminhando era bem estreita e era composta por pedras em paralelepípedo, as casas eram grudadas umas às outras, de forma que aquilo parecia um labirinto, na verdade realmente era um labirinto, lembrei neste momento daquela lenda da Grécia antiga...lenda esta que conta que na ilha de Creta Minos, o rei da ilha, mantinha dentro de um labirinto um ser fantástico: era um homem com cabeça de touro e corpo humano de força descomunal ( essa idéia me impressionou, pois lembrara do sonho que tivera, daquele que também era um trasnsmorfo touresco.), de tempos e tempos o minotauro ( que era este ser fantástico.) tinha que receber pessoas para devorar, e aí que estava o problema, pois quando ele não recebia ninguém ele saia e aterrorizava toda a população de Creta devorando as pessoas com uma sanguinolência impressionante, nestes momentos todos tinham muito medo e tentavam se esconder do minotauro, mas o minotauro muito forte quando encontrava alguém o matava sem piedade, a cidade toda ficava um caos. Este era um problema que havia na cidade de Creta. Um outro caso que ocorreu foi que o filho do rei Minos ( rei de Creta,.) ficou sabendo que seu filho foi assassinado na Grécia, ficou revoltadíssimo, tão nervoso que por este motivo decidiu invadir e tomar a Grécia, mas os gregos desesperados pediram para que o rei Minos retirasse seus infindáveis exércitos da Grécia. Foi então que rei Minos muito esperto lembrou do problema do minotauro, e propôs uma troca: retiraria os exércitos se a Grécia enviasse de nove em nove anos sete moças e sete rapazes para serem devorados pelo minotauro saciando sua fome, acordo feito. Mas um dia a Grécia enviou um guerreiro que matou o minotauro ( era Teseu.). Ariadne filha de Minos ajudou Teseu a sair do labirinto dando-lhe um novelo de lã, para que ele desenrolasse à medida que andasse pelo labirinto ( este era o novelo que nos faltava.), Teseu depois queria levar a princesa consigo, mas infelizmente ela se perdeu na ilha de Naxos. Assim Teseu voltando para Grécia sozinho estava sofrendo muito por Ter perdido Ariadne, e por isso içou velas negras em seu barco, Egeu era o pai de Teseu o guerreiro, quando Egeu viu as velas negras na embarcação pensou que a missão havia fracassado, então extremamente abatido, antes que seu filho chegasse à margem atirou-se no mar, morrendo assim por uma causa falsa. O mar foi nomeado então com o nome do pai de Teseu, ficou então como mar Egeu. Um minotauro, é claro que não havia nenhuma relação direta entre meus pensamentos e aquela cidade-labirinto, mas devido a situação drasticamente impossível na qual nos encontrávamos eu não duvidava de mais nada, nem que um minotauro aparecesse na nossa frente agora mesmo.
Não sei direito porque pensei nessa lenda, mas estou certo que fiz uma correlação entre o minotauro e aquele desenho da porta de pedra, como também com o sonho.
As rua pareciam se estreitar cada vez mais, umas eram muito sujas, e fedorentas, outras melhores, andamos bastante por aquele emaranhado de casas. Chegamos a um lugar em que havia uma praça muito pequena, rodeada igualmente por aquelas casas, haviam algumas crianças brincando nessa praça, e logo à frente da praça havia uma igreja bem grande, que segundo minhas conclusões deveria ser uma igreja do estilo gótico. Minha conclusão foi baseada na visão das duas torres que se levantavam na parte frontal externa da igreja, pois eram torres ricamente adornadas com umas ondinhas esquisitas, essas ondinhas compunham um cenário muito detalhado, o que caracteriza o estilo gótico. Ainda mais haviam nas laterais da catedral vitrais ricamente desenhados com figuras épicas, ficamos estagnados na frente daquela catedral, que parecia ser uma construção nova, o que se notava vendo-se a clareza de suas altíssimas paredes.
Era muito grande realmente e seus vitrais se mostravam belos, tão belos...
Vamos entrar! ( Disse Fabião com um jeito militaresco.)
Entrar??
Claro, agora que estamos vestidos à caráter podemos perambular por qualquer parte desta cidade.
Isso eu concordo. Mas você não vê que estamos em plena idade média.
É Isaião, eu também tive que ironicamente chegar a essa conclusão, mas não há problema algum em entrar em uma igreja..
Igreja não. Catedral!
Pois então que seja uma catedral ( confirmou ansioso.). Vamos entrar ou não?
Entramos, lá dentro fiquei hipnotizado pela beleza do lugar: enquanto muitas pessoas ficavam ajoelhadas nos largos bancos um sacerdote rezava em voz alta em uma língua que eu sinceramente não entendia uma só palavra. Sua voz tinha o ritmo de uma canção, estava vestido todo de bege escuro com tons de marrom enquanto dois outros sacerdotes vestidos de uma batina verde musgo ficavam atrás dele.
Logo que pisamos dentro e vimos que todos a não ser o sacerdote estavam em silêncio nos ajoelhamos igualmente aos outros na última fileira da direita...o sol entrava pela janela, e quando atravessava o vitral iluminava a igreja com diversas cores, e estas se derramavam sobre as figuras de santos e imagens de anjos celestiais esculpidas em pedra, o teto era muito alto, e havia uma grande cúpula central, esta cúpula era seguida por outras quatro: duas de cada lado, o que além de ser uma coisa muito bonita também se mostrava uma engenhosa projeção.
Ao meu lado esquerdo estava um velho muito queimado pelo sol vestido com uma roupa de couro cru muito simples, prestava uma atenção fervosa às palavras que eram cantadas pelos monges que estavam nas duas naves laterais da catedral e que em tempos intervalados, entre às falas do sacerdote, cantavam hinos de louvores. À minha direita estava o Fabião, e a direita dele havia uma mulher que deveria Ter mais ou menos uns trinta anos, era uma mulher muito bonita e parecia ser rica pois estava trajada com um vestido verde grandíssimo que deixava-a incrivelmente bonita, seus cabelos estavam presos na base da nuca e pareceu Ter deixado cair algo no chão que ficou procurando até que encontrou: era um anel com uma pedra vermelha reluzente, realmente, pensei, deve ser uma burguesa da região.
Apesar de ser uma coisa que eu nunca havia visto eu devo confessar que aquela missa estava muito sem graça, falei em voz sussurrante para meu amigo quando me surgiu algo interessante na cabeça:
Vamos sair daqui.
Porque?
Vamos sair e depois eu te falo.
Não meu acho que devemos ficar.
Como assim acho que devemos ficar? Retruquei eu indignado com a contrariedade deste que agora parecia não me entender mais.
É que eu ainda quero ver mais como é um lugar destes assim tão antigo.
Você não entende que isso aqui só vai ser antigo daqui a seiscentos anos?
No fundo você me entendeu, não finja ser ignorante...
Enquanto estávamos conversando o tal sacerdote seguia com as cantorias e com seus longos discursos.
Afinal vamos para fora ou não?
Tá bom... vamos lá.( conseguira finalmente convencer Fabião a sair.)
Saímos então da catedral, e então falei ao Fabião enquanto aquelas crianças continuavam a brincar na praça, sentamos em um dos bancos de madeira que havia na praça.
Meu...tá tudo muito bom tudo no sossego mas a gente têm que saber onde estamos e sair daqui para falar com o Marcão...
Eu sei, então me dá logo este saco aqui! ( falou isso tentando arrancar o saco de couro que tínhamos conosco.)
Calma que ele não vai sair correndo.
Pegou os walk talks do saco e falou:
Vamos falar pro Marcão que achamos uma cidade debaixo daquela casa.
Não Fabião, a gente têm que sair daqui, não podemos ficar o dia inteiro aqui, se não estamos ferrados.
Como não? Antes de tudo a gente precisa achar o Lião.
E porque você acharia que o Lião está aqui neste lugar?
Não sei...talvez seja uma gota de intuição.
Gota de intuição?!? Você quer ficar nesta cidade porque acha que têm uma gota de intuição?!? ( falei eu já mais afoito com a situação) Você por um acaso sabe o que a igreja fazia com as pessoas que não seguisse as suas normas?
Sei sim, mas tanto eu como acredito que também você já conhecemos bem estas normas, porque nas aulas de religião da escola nunca tiramos menos que sete, e você também deve lembrar muito bem as parábolas de Salomão em que diz que aquele que profere a palavra em seu tempo, é como uns pomos de ouro em leitos de prata, ou então aquela que diz: Trabalha meu filho, por adquirir sabedoria, e alegra meu coração, a fim de responder ao que te impropera. Decorei muitas parábolas como também algumas coisas do livro da sabedoria que fala que a sabedoria é mais estimável que a força, também dirigida a reis e governantes de todo o mundo...
Ah é? Então você está dizendo que estamos seguros pelo fato de conhecermos plenamente a religião que domina esta cidade, mas não se esqueça que ninguém entende o que falamos, e se por um acaso alguém acusa-nos de bruxos, o que é muito normal por qualquer motivo, não teremos tempo nem condições de explicarmos que não somos pecadores e somos só dois garotos do mundo de cima, aí sim seriamos queimados vivos.
Tá, tá, tá, então o que você pensaria em fazer agora? Voltar pra cima eu não volto.
Como não?!? ( Gritei eu quase desesperadamente.)
Simplesmente porque temos que achar alguém antes. Nosso amigo!!!! ( Este nosso amigo foi vociferado com tamanha explosão que até os meninos que estavam brincando pararam de brincar e olharam para a gente.)
Derrepente um dos moleques ( eram quatro.) quando viu que Fabião tinha um walk talk na mão, em uma ação muito rápida correu atrás de onde estávamos e tentou arrancar o walk talk da mão dele. Em um primeiro momento ele não conseguiu, então eu tentei segurar o diabinho, mas quando eu o puxei pelo peito o walk talk caiu no chão, no mesmo instante os outros três moleques vieram correndo como furacão e me roubaram o saco de couro que tinha dentro um dos walk talks e as duas facas.
Fabião !!! (gritava eu como se estivéssemos a dois quilômetros de distância.) Cuida deste que vou atrás dos outros três!
Fui correndo em direção a eles, mas eles já estavam bem adiantados, olhei para trás e vi que o Fabião já estava correndo em minha direção, ele corria tão rápido que chegou a me alcançar, demos a volta por trás da igreja e começamos a correr por ruelas bem estreitas, às vezes quase perdíamos eles de vista, parecia que eles já dominavam aquelas ruas enquanto nós não tínhamos a mínima idéia de como eram aquelas ruas, sempre viravam por várias ruelas, mas em uma destas viradas um dos garotos tropeçou e caiu em cima de um outro, alcançamos estes dois facilmente, mas nenhum deles carregavam as nossas coisas.
Esquece ele Isaião, a gente têm que correr atrás dos outros.
Corremos bastante até encontrarmos eles novamente, mas eles estavam virando para dentro da parede, em uma passagem que quando chegamos lá vimos que era muito estreita e baixa de modo que ficaria realmente difícil passar por ali.
Eu vou primeiro Fabião.
Têm certeza que dá para a gente passar aí?
Claro meu, a gente têm que pegar as nossas coisas se não vamos ser dedados e mortos como feiticeiros.
Isso eu sei. mas então ande logo.
Comecei pelos braços de forma que eu queria que meu tronco passasse antes que as pernas, foi muito difícil pois meus ombros não conseguiam se espremer tanto, o Fabião tentava me ajudar me empurrando, e ficava olhando para ver se não passava ninguém. Passei com muito esforço e caí , batendo a região lateral de meu corpo contra o solo, ( O que me machucou bastante pela altura considerável de uns dois metros e meio.) em um quartinho muito escuro de terra batida , apesar de ser dia, era iluminado por uma tocha, e tinha só uma porta que dava para a parte interior do recinto.
Isaião, eu não posso passar. ( Falou de fora com uma certa dificuldade para encontrar meu rosto em meio a escuridão)
Tá bom Fabião, então a gente se encontra lá naquela igreja falou?
Tá.
Então vai pra lá e fica me esperando, só que não sai de lá enquanto eu não chegar.
Falou!
Falou!
Então foi isso mesmo que aconteceu: O Fabião se foi e eu fiquei ali naquele hall esquisito, as paredes eram de pedra, uma pedra bem primitiva, ou seja: sem quaisquer tipo de acabamento, fui em direção à porta que era feita de uma madeira muito escura, olhei através da porta e nada consegui ver, era total escuridão. Pensei então em pegar aquela tocha para seguir o caminho, mas logo vi que seria burrice, pois se eu fizesse isso ia dar na cara, e eles já iriam sair correndo antes que eu pudesse chegar perto.
Tudo bem...tentei manter o controle de meus pensamentos, decidi então ir tateando no escuro, o problema é que não tinha nada para tatear, somente as paredes laterais, fui então para a parede da esquerda, sendo que também pisava com muito cuidado pois poderia haver alguma coisa no chão, está certo que o terreno era regular, mas o chão era de terra batida, e por isso eu não duvidava nem um pouco que houvessem coisas não esperadas pelo caminho.
Andei bastante, seguindo sempre pela parede, e à frente se formava aos poucos um ponto de luz que parecia piscar em tempos regulares, depois vi nitidamente ( Quando a claridade aumentou.) que se tratava de uma passagem que se localizava ao lado oposto ao meu, e a luz era realmente de uma tocha comecei a ouvir vozes longínquas, meti a cara para ver o que tinha do outro lado e tomei um susto, havia um lugar muito amplo ( do outro lado da passagem.),que tinha altas colunas de sustentação, e que nestas colunas estavam encravadas grandes tochas, quatro em cada coluna, sendo que deviam haver umas vinte colunas dispostas em forma circular. No centro deste lugar havia um desenho gigantesco de uma estrela negra composta por dois triângulos um transverso ao outro que eram formados pelas mesmas pedras que compunham toda a extensão do chão. No meio desta estrela estava o motivo de meu susto: Três figuras vestidas com túnicas pretas, não podia ver suas faces pois estavam vestidas ou vestidos com capuzes, e estes somente deixavam à mostra uma sombra. ( se bem que eu ainda estava à uma distância muito grande tamanho é a amplitude do lugar).Entre estes encapuzados estavam os dois garotos ladrões. E pareciam estar mostrando o walk talk para os três de túnica ( Era uma túnica preta bastante comprida.).
Estou ferrado, pensei eu com meus botões, como poderia fazer para pegar de novo o walk se aquelas figuras esquisitas já o tinham em mãos.
Tentei cautelosamente entrar pela passagem, descia por uma larga escadaria. Eles certamente não iam conseguir me ver, pois o lugar era muito grande pensei. Estes pensamentos tinham uma boa lógica, mas mesmo assim ainda existia um certo risco nesta operação. Escorreguei na escada precipitando-me contra o chão, fazendo um ruído meio esquisito, agora eu não havia tido sorte, um dos caras vestidos de túnica veio correndo na minha direção com as duas facas que me pertenciam apontadas a min. Antes que ele chegasse perto corri para atrás de uma das colunas como um afobado, era agora ou nunca, acho que somente ele tinha me visto, eu tinha que pensar rápido. Com uma vontade muito grande, no momento em que senti seu vulto passar por min, dei-lhe um chute na cara. No mesmo instante seu capuz saiu, e vi que realmente era um homem, com um rosto bastante feio, parecia Ter uma cicatriz na testa, e ainda por cima era careca. O homem furioso tentou enfiar as duas facas de uma vez em meu peito, segurei seus pulsos com todas as minhas forças, mas ele era muito forte, e as facas chegavam pouco a pouco para perto de meu ventre. Comecei a suar frio, seus dentes rangiam e seus olhos explodiam de raiva, no último momento tirei meu corpo da coluna ( que ainda assim nos cobria, pois era muito grossa, e por isso parecia mais uma parede que qualquer outra coisa.), o homem bateu fortemente suas mãos contra as pedras da coluna, e machucou-se com as facas, pois estas produziram um grande ferimento em seus dedos ( tanto da mão esquerda como da direita. ), murmurou uma palavra enroladas no instante em que as facas caíram no solo, tentei rapidamente fugir para o mesmo lugar de onde havia vindo, mas antes disso ele me agarrou pelo calcanhar, senti o calor do sangue de suas mãos que escorria naquela calça medieval que eu estava usando. Dei um puxão para tentar fazer com que ele soltasse, mas ao contrário disso ele precipitou-se para cima de min. A única coisa que consegui sentir um pouco depois foi um braço me enforcando, era ele, mas agora eu nem conseguia raciocinar direito, estava quase sem oxigênio, subitamente senti uma forte pontada nas costas, comecei a ver estrelas, as coisas não eram mais nítidas, minha cabeça parecia explodir, o teto ( que pensei ser também de estilo gótico por um segundo.) também desaparecia pouco a pouco. No momento em que havia perdido todas as minhas forças nada mais me restava a fazer senão morrer, mais foi aí então que sobreveio-me uma força misteriosa ( Algo que certamente seria muito difícil de explicar pelos princípios lógicos da razão.), era como uma centelha muito pequena que ainda queria que eu continuasse vivo, na verdade acho que era o meu próprio instinto de sobrevivência. Arranquei-me bruscamente de seus sangrosos braços e dei-lhe uma forte cotovelada na cara, e antes que ele se desse conte de alguma coisa peguei uma das facas que casualmente em uma questão instintiva vi no chão e ameacei-lhe deixando a faca a um milímetro do pescoço dele, o homem ficou apavorado, éramos neste momento como dois animais, duas feras, eu já estava bufando de raiva, e sua respiração era igualmente ofegante, até sentia o seu bafo quente saindo pela boca, pois estávamos neste momento rosto a rosto, como se estivéssemos em uma conversa a respeito de quem é que tinha a razão. O suor escorria-lhe da testa para baixo, em min igualmente caía-me para a face, derrepente em uma atitude inesperada o homem pegou ( acho que nem precisou pegar pois eu tinha quase certeza de que já estava em suas mão.) a outra faca, e com uma força descomunal ( sem que eu pudesse antes prever) enfiou a faca em seu pescoço, o sangue em um primeiro instante jorrou depois somente vazou, pus as mãos nas minhas costas e logo vi que eu tinha um grande ferimento , me senti muito fraco, mas eu ainda não tinha tempo para desperdiçar, tinha que esquematizar meu plano rápido. Arranquei toda minha roupa ficando só de cueca, usei minha calça e minha blusa para improvisar uma espécie de uma faixa, enrolei a faixa pelo meu tronco para fazer o sangue parar de sair, pareciam estas atitudes de sobrevivência que já estavam inerentes de aprendizagem em minha mente, como se eu já tivesse nascido sabendo fazer isso se algum dia me encontrasse nesta situação. Amarrei fortemente, pronto, agora isso não era mais problema, agora vinha a parte maquiavélica de meu plano... tirei a túnica daquele cara feioso, tentando tomar o máximo de cuidado para não molhá-la de sangue, e vesti, estava mais do que perfeito, agora eu já estava até me tornando um louco, se eu cheguei até aqui: Porque não seguir adiante?, não.. eu não ia desistir, não agora. Arrastei o corpo para perto da coluna e limpei as facas nos restos de panos que sobraram da minha roupa, e, calmamente, ou fingidamente calmo, fui andando em direção ao centro da estrela, onde lá estavam ainda em conversação aqueles mesmos que antes já foram descritos. A túnica até que me tinha sentado bem, apesar de lógico conter um pouco de sangue na parte do capuz, mas isso era algo imperceptível pelo fato de ela ser preta. Já meu rosto ficava coberto pelo largo capuz. Quando me aproximei o bastante notei que um dos de túnica estava tirando de uma espécie de um bolso misterioso umas pedras verdes muito bonitas, pareciam emitir a transparência dos mares, e estas estava colocando nas mãos dos meninos que saíram correndo em disparada ao mesmo local por onde eu tinha entrado, eu não conseguia ver os rostos deles, derrepente eles uniram suas mãos, tentando imitar o gesto coloquei sinuosamente as facas no centro da estrela onde já estava posto o walk, uni minhas mãos com as deles, no mesmo instante senti que uma das mãos era fria e a outra quente, a quente era um pouco mais forte, começou a haver no mesmo instante um vento, que foi aos poucos se tornando mais forte, chegou uma hora eu nem conseguia abrir meus olhos direito, o vento era tão forte que acabou por tirar tanto meu capuz quanto dos outros dois. Quando abri os olhos em meio aquele vendaval vi que eles estavam propositadamente de olhos fechados, o que me pegava a mão esquerda era um jovem, me dei conta que era o cara da festa, que seqüestrara o Lião, no mesmo instante tive vontade de largar minhas mãos e esmurrá-lo, isso não fiz, virei meu rosto bruscamente para ver quem era o outro: era o mesmo velho louco: bigodes separados e enrolados nas extremidades, como se ele fosse português, e rosto bastante queimado, tanto um quanto o outro estavam concentrados no ato, explosivamente arranquei minhas mãos das mãos deles, tive a sensação de que a palma das minhas mãos houvessem descascado, mas quando olhei para elas tudo estava visivelmente normal. Aconteceu que no instante em que arranquei minhas mãos o vento parou totalmente, tudo se passou em uma questão de segundos: eles pareciam estar grandemente afetados com a quebra daquela roda, tentei aproveitar isso pegando o walk talk , uma das facas em uma ação ninja que nem eu mesmo acreditei Ter feito, foi uma cambalhota lateral que eu nunca tinha tentado fazer antes, quase me machuquei com a faca, depois saí correndo como um desesperado em direção à única saída que conhecia ( aquela passagem da escadaria.), o problema é que estava fechada não sei por quê, sem parar de correr comecei a dar a volta no lugar, que era grande e circular, olhei para o lado e o velho estava caído no chão enquanto o outro tentava acudi-lo, não sabia para onde correr, dei uma volta semilunar no local e achei uma porta de madeira, abri a porta e me deparei com um lugar igualmente iluminado por tochas onde numa das paredes deste lugar estava amarrado o Lião, que usava roupas sujas e velhas, fui correndo até ele, ele parecia estar ali à muito tempo.
Lião!!!
Hmm?
Acorda Lião, sou eu. O que fizeram com você?
Arrr. ( soltou um gemido, como se estivesse doendo alguma coisa no corpo dele.)
Vamos meu, reage.
Liguei o walk talk e falei para o Fabião esperar lá no mesmo local por onde eu havia entrado e ainda falei que tenha encontrado o Lião, agora a gente finalmente ía poder voltar, comecei a dar uns tapas na cara do Lião para ver se ele acordava, e ao mesmo tempo tentava rapidamente cortar a corda, reparei que aquela faca era realmente afiada, e consegui libertá-lo.
Num dos tapas ele realmente despertou, mas já era tarde demais pois entrava pela porta o mesmo que quase tirara a vida do Lião, o cara da festa.
Você é muito ousado de entrar no nosso templo e tirar de nós, debaixo de nossos próprios olhos a profecia. Eu sou Ziuc e não vou permitir que você saia daqui com ele. ( Gritou impetuosamente.)
Não,( disse eu) você é o mesmo marmanjão da festa que por qualquer problema já quer briga.
Como você chegou aqui? Como entrou em Astreireg?
Agora isso virou um show de perguntas? Quer que eu responda uma por uma ou que responda todas de uma vez? É fácil: ( fiz um ar irônico, mesmo vendo que ele estava com a outra faca fortemente segura.) sei que estamos em Glantaris, que é um país que fica dentro de Astreireg, mas sei uma coisa mais importante.
Antes que eu continuasse a falar ele berrou fortemente:
Não!!! Você estragou.
Não estraguei, o Lião é puro e não serve para as suas profecias, pois em sua mente não se passam maus pensamentos, e assim não seria possível.
Você sabe coisas demais! Deverá morrer por Ter matado meu vô.
Não o matei.
Mas ele morreu, agora morra você.
Falando isso ele berrou algumas coisas que não consegui entender e veio correndo para cima de min como um cavalo, e com a faca empunhada, no instante em que ele veio pus o pé para cima fazendo com que ele rolasse para atrás de min, neste momento a parte superior de sua túnica rasgou-se totalmente, e pude ver que ele tinha uma tatuagem de um homem touro ( em preto) ocupando toda as suas costas, a faca voou longe, mas ele a pegou de novo, só que nesse instante eu puxei o Lião pelo braço e começamos a correr para fora do lugar, em direção à passagem pela qual eu havia entrado.
Cê agüenta correr Lião?
Vamos lá, qualquer coisa me deixa pra trás que eles são perigosos.
Não, nunca vou te deixar.
Tentamos remover a pedra que cobria a passagem, mas ela saía muito devagar, comecei a ouvir o barulho de um multidão, olhei e vi dezenas de monges de túnica vindo correndo pra cima da gente, sendo que na liderança de todos estava Ziuc gritando fervorosamente ordens. ( acho que deviam ser uns trinta, mas pareciam aumentar em número.)
A pedra não quer sair!!!
Vamos, força que ela está se movendo.
Mas tá devagar!!! Eles vão chegar antes!
Estamos ferrados!!!
Isaião, eles são muitos.
Mais força.
Minhas mãos já estavam doendo muito, abrimos a passagem o suficiente para passar e saímos na última hora, entramos na escuridão e corremos lá para a mesma saída, lá, Fabião tinha posto uma corda para subirmos, e havia lá em cima com o Fabião um homem bruto, gordo e forte aumentando o tamanho da passagem com um martelo e um pregão.( Foi graças aos serviços deste homem que conseguimos sair rapidamente dali, mas não foi o suficiente rápido para nos livrarmos dos monges, saímos nós quatro ( nós e o homem gordo grotesco ) Correndo na direção que o homem queria nos levar, mas nós não entendíamos o que ele falava, somente os gestos. Atrás de nós vinham uns vinte monges ( não sei como apareciam tantos assim.), chegamos a um celeiro de um castelo que ficava no centro da cidade, aonde descaradamente roubamos quatro cavalos, mas foi aí que ganhamos, pois aí então eles não nos seguiriam mais. Começamos a galopar em direção à zona campeira, Galopando à toda velocidade, três cavalheiros vieram galopando no nosso encalço, o homem gordo gesticulou para virarmos em uma estradinha de terra à direita, pouco à pouco começamos a nos distanciarmos grandemente da cidade., aos poucos foram aparecendo os tijolos no céu, aí eu lembrei que estávamos abaixo do solo, muito abaixo. Estávamos realmente no caminho certo, mais à frente já podíamos ver claramente a grande porta de pedra com o desenho do homem-touro tombada, soltamos os cavalos e entramos pela passagem, olhei para trás e vi que tudo estava desmoronando: os gigantescos blocos de pedra que compunham o teto daquele lugar começaram a cair, os blocos pesavam toneladas, e caíam sobre todos os lugares, inclusive sobre a cidade, que estava sendo completamente destruída.
Nem mais um segundo para contemplar, corremos para dentro da passagem e disparamos adiante não dando bola ao escuro que se fazia na passagem, passamos pela biblioteca do velho e começamos a subir as escadas ( à esta altura era somente a vontade que dava forças ao corpo)
Saímos pelo quartinho de dispensas do velho, e passando pela plantação de uvas pulamos o muro, e finalmente nos encontramos livres daquele mundo fantástico.
Estávamos mortos de cansaço, e nos encontrávamos na rua Candidad ( a mesma rua do cursinho: We understand the world.), já estava anoitecendo, o problema é que além de estar me doendo as costas ( o que não era lá o mais grave dos problemas), ainda estávamos vestidos como palhaços, para este mundo ( o que naturalmente é um fator meramente cultural), eu estava com a túnica preta, o Fabião parecia o ajudante do bobo da corte, e Lião parecia Jesus Cristo a caminho do calvário, enquanto o homem vestia umas roupas de couro amarradas com cordões igualmente de couro e uma bota de cano alto.
Quando passou o primeiro carro pela rua o homem ficou assustado, mas tentamos quase que inutilmente acalmá-lo. Fomos todos andando até a casa do Marcão, era um longo caminho, mas como não tínhamos dinheiro tínhamos que ir a pé, e foi o que fizemos.
Chegamos na casa do Marcão e a mãe dele nos atendeu, falou que ele estava nos fundos da casa, fomos todos lá para os fundos da casa, e lá estava o Marcão e o Zezinho no quarto dos fundos, mas o impressionante é que o quarto não estava mais desarrumado, pelo contrário: aquilo parecia um centro de convenções internacionais, tudo havia sido retirado, só estava lá (agora instalado), um computador e uns outros aparelhos tecnológicos que eram conectados ao computador, mais duas cadeiras, onde estavam Marcão e Zezinho.
No instante em que entramos o Marcão gritou:
Chegaram! ( veio correndo pra cima da gente, e quando encontrou o Lião abraçou-o ) Cê tá salvo agora, nós nunca vamos deixá-lo às ordens de um seqüestrador barato.
Não Marcão ( Falei.), ele não era um seqüestrador qualquer...
É ...( falou Fabião.) Marcão... nós vamos precisar contar pra vocês o que a gente encontrou lá embaixo, e isso explicará como conheci este meu amigo aqui ( Falou isso dando uns tapas nas costas do homem, que provavelmente, apesar de não entender nada do que dizíamos deve Ter entendido que falávamos bem dele, pois no mesmo momento dos tapas, exprimiu um largo sorriso.)
Todos sentaram em um círculo no chão lá da salinha dos fundos, Marcão pediu respeitosamente para sua mãe trazer lanches para todos, assim então nós todos enquanto comíamos podíamos explicar tudo o que havia ocorrido conosco na cidade de Glantaris no reino de Astreireg que ficava alguns bons quilômetros abaixo do solo de nossa cidade, uma cidade mágica, dominada pelo rei de Astreireg, mas aquela cidade parecia estar voltada para a magia, uma força misteriosa havia destruído aquela cidade bem no momento em que havíamos saído dali...Quando contei o que tinha se passado dentro daquela espécie de templo satânico em que eu me metera sem querer para pegar os pertences roubados todos ouviram extasiados com a coincidência, e com o fato de eu Ter lutado bravamente com aquele primeiro homem de túnica, mas quando chegou a vez do Fabião falar até me assustei um pouco ( a ordem era horária: eu, Fabião, Zezinho, Marcão, homem desconhecido e Lião.) ele disse assim:
Pessoal, eu tenho uma coisa muito importante para dizer ( tomou um pouco de água e prosseguiu.) quero que todos saibam que também tive muita sorte, pois, no exato momento em que o nosso caro amigo Isaião deixou-me o recado para esperar por ele naquela praça em frente à igreja para lá fui, mas após poucos minutos de sentado em um dos bancos passou andando distraídamente pelo meio da praça este confrade ( apontou o dedo para ele fazendo uma espécie de reverência com a cabeça, e ele retribuiu a mesma.), que apesar de nada entender o que estamos conversando sabe muito bem qual é a essência desta aventura que lá passamos, mas voltando ao que estava dizendo: ele passou ao meu lado distraídamente, estava com muitíssimas ferramentas no dorso, eu achei isso completamente normal para uma cidade da Idade Média, pois poderia ser um ferreiro, ou então um armeiro ou que trabalhasse com outras coisas específicas, mas o walk talk que estava ao meu lado chamou muitíssimo a sua atenção, ele olhou diretamente para o walk talk, por um breve instante assustei-me, mas não muito, depois ele já me acalmou com uma face bastante amena, somente fiquei totalmente calmo quando ele quando primeiro apontou seu dedo para o walk talk e depois para o céu demonstrou que sabia de que havia algo mais que aquela cidade, algo como dois mundos, um sobreposto ao outro, diferentes em tempo pela diferença de seiscentos anos, logo depois tentamos conversar, mas eu não entendia nada do que ele falava, é uma língua realmente muito complicada, nosso confrade amigo pegou então uma pedra que estava no chão e desenhou entre a areia que se depositava no próprio chão um desenho de um homem touro: a cabeça era de touro, o corpo era de um homem muito forte e os pés voltavam a ser casco de touro, logo depois ele separou com dois grandes traços a cabeça e os pés do corpo, nessa hora entendi que ele estava fazendo uma espécie de uma limpeza ou discernimento de que seriam duas coisas separadas, e não uma, então foi assim mesmo ( comeu um pouco do sanduíche de atum com alface que fora feito especialmente para ele e prosseguiu a larga explanação...), fez então duas flechas, uma para cada lado, e as duas saíam igualmente da parte central do homem-touro, no final de cada flecha fez dois desenhos, um dos desenhos era de um homem, e o outro, de um touro. Havia entendido que ele queria demonstrar que sabia, mas não sabia o por quê dele querer ficar comigo, não desgrudou de min um minuto, ficamos tentando conversar através de gestos e desenhos, e até aí acho que incrivelmente conseguimos desenvolver uma linguagem bastante esquisita. Esta linguagem foi o que me permitiu dizer a ele que eu estava esperando que um amigo me chamasse pelo walk ( só não sei o que ele entendeu por amigo...
No mesmo instante o homem apontou o dedo para todos e com uma voz bastante grossa disse:
Amigo.
Todos aprovaram a atitude, e o saldaram com obas e obas.
Bem...( continuou Fabião.) , quando o Isaião chamou fomos nós dois à passagem ajudar os dois à subir, destruímos parcialmente a passagem, e o resto o Isaião já contou tudo.
Olha aqui, ( falou Zezinho admirado do que acabara de ouvir.) acho que nós também temos bastante coisa pra contar, fala aí Marcão. ( Deu uns tapas irônicos nas costas do Marcão passando a palavra para ele.)
É isso mesmo ( disse imponente Marcão), temos coisas importantes para dizer....em primeiro lugar quero dizer que o Zezinho a todo momento ficou de plantão com o walk, enquanto isso fui procurar dois especialistas de história da magia em lugares esotéricos e em museus especializados em mágicas ou coisas parecidas, encontrei os dois, além disso fizemos uma reforma em tempo record dentro deste quartinho que era um verdadeiro muquifo... tudo isso somente para ajudar a se cumprir esta missão
levantou-se e ligou o computador e outros aparelhos que estavam ligados à ele ( Neste momento quem se admirou foi o ajudante do Fabião, se é que assim posso dizer.), na tela apareceram imagens de escrituras sagradas da cidade de Glantares, logo vi que ao lado haviam traduções para nosso idioma, aquilo era simplesmente impressionante.
Onde você arranjou isso? ( perguntei admirado com o que via.)
Nós também nem tínhamos acreditado... ( prosseguiu Marcão) pois um dos homens que trabalhava na tenda de produtos esotéricos quando viu o texto que tínhamos anotado do sonho do Isaião falou claramente que entendia e conhecia muitas histórias e lendas de que abaixo de nossa cidade haveria um reino inteiro, e não se limitou a dizer isso, falou que era como se fosse um mundo dentro do outro, e ele sim entendia palavra por palavra deste idioma, nos deu então diversas escrituras neste Cd rom, e aqui é tudo explicado muito bem, além disso como vocês viram peguei o computador da minha tia e trouxe para cá.
Todos por um instante ficaram em silêncio, daí o Marcão quase gargalhou quando sorriu e disse:
Pessoal!!! Agora vou apresentar o mais novo produto tecnológico feito pela humanidade que me foi dado por este mesmo homem da loja de produtos esotéricos, somente quero abrir o parêntesis de que ele nos deu o que vou apresentar agora por admirar o nosso conhecimento, pois somente nós sabíamos até então da existência de algo sinistro e mágico naquela casa da rua do cursinho ( ele também sabe.).
Mas o que é isso? ( perguntei impaciente)
É o tradutor simultâneo inter-mundos Tabajara.
Quê??? ( perguntou Fabião encantado)
Olha aqui,( explicou Marcão, trata-se deste Cd, é somente colocá-lo no computador como eu estou fazendo agora, aí você põe pra rodar, liga os micro phones, os auto falantes e pronto, veja só: Não é uma maravilha?
Todos concordaram no mesmo instante que a tecnologia sempre ajuda o homem, aproximando sua boca à um dos microphones o homem ( que naturalmente era o próximo a falar.) pôde se fazer entender, pois ao mesmo tempo que ele falava sua voz já saía no amplificador traduzida para a nossa língua:
Queridos colegas de conhecimentos profundos, meu nome é Earbaldo, em uma primeira instância gostaria de explanar a teoria de que tive uma sorte grande quando ocasionalmente me deparei com o instrumento tecnológico que portava este amado colega ( fez uma reverência à Fabião, e estava referindo-se ao walk naturalmente.), vivi toda minha existência encrostado em princípios medievais, meus conhecimentos acerca da vida eram poucos, mas um dia fiquei sabendo através de viajantes que aquela cidade em que eu sempre vivera era uma má cidade, não pelo príncipe que ali vivia, mas por causa de nefastos monges de ordens malditas que se escondiam em gigantes templos subterrâneos... mas acontece que ainda sabendo de tudo isso meus conhecimento ainda se mostravam ínfimos, apesar de eu pensar que já sabia muito. Fui eu quê encontrei a pedra ( No mesmo momento ele tirou uma pedra chapada da couraça de sua blusa, era uma pedra muito primitiva de formato retangular que se consegue pôr em um palmo, e de cor âmbar, e tinha o desenho muito nítido de um homem, parecia o mesmo estilo de desenho egípcio) que possui o significado do homem, e então ao encontrar esta pedra largada nas terras comunais de nosso senhor feudal. Amigos presentes, junto a ela estava jogado um livro, e este dizia que se esta pedra fosse unida à outra igual só que com um desenho de touro tudo se unificaria, e um mundo somente iria existir e que então tudo seria um transtorno e loucura pois dois mundos completamente diferentes se uniriam, mas se ao contrário disso esta pedra fosse leveda de um mundo para outro somente restaria o mundo externo pois dizia também o livro que os mundos estavam um dentro do outro... vejam colegas como me empenhei em entender todo este mistério: O livro dizia que existem duas pedras, uma de touro e outra de homem, e dois mundos um externo e outro interno, no meu mundo acreditamos que a terra é plana e que é o centro do universo, mas nestes pensamentos últimos fui muito influenciado por idéias de que me falou um outro confrade de minha terra, idéias justas mas que eram condenadas pela igreja, que a terra era esférica. Isso ajudava a aclarar minhas idéias, imaginei então que o homem monta no touro e fica acima dele como um mundo se sobrepõem ao outro, e se essa pedra fosse levada ao outro mundo somente restaria o externo...aí eu pensei que se a terra fosse plana não haveriam mundos externos e internos, e sim superiores e inferiores, por isso acreditei nesta nova e revolucionária teoria de que o mundo era esférico, pois assim haveria interior e exterior, se aquela pedra ( essa) fosse transportada de mundo só restaria o superior, foi aí então que concluí que eu somente poderia estar no interior pois o livro me dava a informação de que somente poderia ser feita uma viagem entre os mundos, e não mais que isso. Se fosse encontrado algo muito diferente do normal, este seria o sinal, foi aí que quando eu li isso reparei que poderia estar no mundo interno, sempre andei com a pedra para ver se na hora em que encontrasse o sinal levasse ela junto, e foi isso que tentei fazer quando vi o walk talk que é um aparato totalmente diferente do que estou acostumado a ver em meu mundo. Agora já sabemos que este é o mundo de cima, o que representa o homem, pois o outro foi destruído e a lenda se fez verdadeira.
Deixa eu ver essa pedra...( disse o Marcão pelo microfone empolgado com o tradutor inter-mundos Tabajara, que estava funcionando muito bem, e demonstrando assim ser um produto de qualidade.)
Pode pegar.
Bem, ( Disse ele pegando a pedra.) sabemos então que essa pedra foi a responsável pela destruição de todo aquele lugar. Por isso deveremos guardá-la muito bem, tenho um cofre aqui em casa, e posso guardar nele. O que vocês acham?
Perfeito!
Legal!
A melhor coisa que pode ser feita.
Já deveriam ser umas onze e meia, e por isso demos como encerrada a reunião, Earbaldo ficou na casa do Marcão, até nós vermos direito o que iríamos fazer com ele...
Fui para casa e quando lá cheguei meu pai esperava-me em total silêncio lendo jornal sentado numa poltrona muito característica de nossa sala.
Onde você estava até agora? Já deveria Ter chegado a pelo menos uma oito horas atrás.
Ë pai, mas eu tive um probleminha que tinha que ser resolvido antes, e por isso não pude vir para casa antes.
Então por que não ligou?
Não pude.
Como não pode?
Pai, por favor você não me entenderia se eu explicasse, e por isso acho melhor o senhor não se preocupar comigo.
Somente me preocupo com a sua saúde, mental e física.
É, com isso eu também me preocupo, pode ficar calmo pai.
Nós temos que agir conjuntamente, nunca se esqueça disso.
Como posso me esquecer se essa é a lição moralista mais importante que o senhor nos ensinou?
Só não acorde teu irmão que já está dormindo.
Está bem pai, mas antes acho que vou tomar um banho.
Fui tomar o banho e depois à cama, eu e meu irmão dormíamos no mesmo quarto, só que ele dormia em uma cama que ficava escondida embaixo da minha, assim, por este motivo do posicionamento da cama, tropecei na cabeça dele acordando-o, inicialmente ele ficou meio bobo, como ficam todas as pessoas que acabam de acordar, mas depois percebendo o que havia ocorrido já vendo que eu estava me deitando resmungou:
Onde você foi?
Fui em um lugar muito diferente, que você não imagina.
Mas onde é isso?
Agora não, vamos dormir depois eu te falo.
Dormimos... no outro dia acordei com a música Califórnia dreams do grupo The mamas and the papas tocando ( era o meu irmão ouvindo música.), me troquei rapidamente pois sendo hoje uma Quinta feira eu tinha escola, era o último dia de aula... enquanto me trocava comecei a lembrar da Ana... que ingenuidade minha, tinha eu ficado tão entretenido no problema do Lião que eu tinha praticamente esquecido dela. Já estava louco para vê-la, quando cheguei, lá estava ela, vestida com uma calça jeans e uma camiseta branca, estava sentada com duas de suas amigas, uma eu reconheci rapidamente: era a Viviana e a outra era Maria, cabelos pretos e sempre vestida como uma hippie.
Oi, e aí?
Oi ( disse Ana ), como o senhor está?
Estou vivo.
Vivo? Como assim? ( perguntou Maria interessada)
É sobre o problema da briga na festa do fim de semana passado.( Disse Ana.)
É justamente isso: quero dizer que sobrevivi ao problema que transcorreu à essa briga.
Mas o que aconteceu? ( perguntou Viviana interessada.)
A verdade é que é uma longa história...
Contei tudo que ocorrera, não sei se elas acreditaram, mas acho que sim, Maria era a que mais perguntava, a cada frase ela queria que eu contasse os detalhes mais específicos possíveis, contei tudo, até os sonhos que eu havia tido, acontece que quando contei que meu sonho estava relacionado com um gnomo Ana pediu para que eu a encontrasse depois das aula na lanchonete da rua da escola. Quando acabei a história toda não sei se Viviana acreditou que seu antigo namorado era um mago maléfico, e que agora estava enterrado em uma cidade que antes tinha vida e agora somente sobrou pedra sobre pedra, assim quando eu terminava a narrativa de todo o ocorrido Viviana desatou a chorar, Ana a abraçou, mas Maria apesar de interessada nos mais pequenos detalhes parecia não entender porque as outras duas levavam esta história tão à sério, simplesmente não acreditava que aquilo fosse verdade.
Me encontrei então com Ana na lanchonete, ela já havia pedido os dois sanduíches, enquanto os comíamos conversávamos.
Eu acredito em você Isa. ( ela me chama de Isa.)
Tá mas este é o menor problema de todos...
Não há mais problemas, confie em min, tudo já está solucionado.
Como assim?
Você me contou sobre aquele sonho em que eu falava em inglês e desenhava um homem-touro com sombra de gnomo, também me contou sobre o sonho em que você foi lá naquela casa em que o gnomo te ajudou a voltar fazendo você imaterial, esta é a saída para tudo, nosso segredo...
Quê segredo Ana?
Sobre a clareira... Não lembra de nada.
Claro que sim... mas?
Como mas? Você não se ligou que ele esteve ao seu lado todo o tempo?
Não....me explica direito por favor...
Você teve um protetor, que foi para você um escudo.
O gnomo?
Claro, o próprio. Agora vêm cá. ( Ana me puxou pelo braço, falou que estava de carro e que iria me levar lá de novo.)
Quando chegamos lá abrimos o portão da casa que já estava destrancado, caminhamos então para aquela mesma floresta, logo já estávamos em meio à mata embrenhada.
E sua amiga?
Qual?
A dona desta casa?
Simplesmente já deve estar viajando de férias.
E não têm problema já ir entrando deste jeito?
Claro que não, sou para ela como uma irmã.
Em todo caso é melhor nos prevenirmos...
Não Isa... simplesmente tente ouvir os ruídos da natureza, relaxe, tente não pensar em nada de estressante, a natureza é muito boa... ela acalma nossa mente, não deixa que fiquemos cansados, é harmônica, é perfeita, não cheia de defeitos como as coisas que fazem o homem, a natureza é como uma boa mãe, que acolhe a todos que querem ser acolhidos por ela, que ajuda a quem quer ser ajudado.
Comecei então a me sentir bem, conforme caminhávamos sentíamos no antro de nosso ser os cantos dos pássaros e o ruído de frutas que caíam já amadurecidas no chão, o som de nossos próprios passos, que se confundiam com outros sons, poderiam ser estes de animais como capivaras, mas isto era o que menos importava agora, o que mais queria era não pensar em nada, relaxar.
Chegamos finalmente àquela clareira, não estava lá aquele banco de outrora, mas no centro da clareira ( que era rodeada de pedras que formavam um círculo) havia agora uma fonte com o formato de uma concha, desta fonte brotava uma água muito límpida, e esta saindo da fonte formava um riacho, que passava por um ducto ( como faziam antigamente os romanos para transportar a água.), Bebemos um pouco da água, que era muito refrescante, logo pareci me sentir um pouco mais leve, mas sem dar importância a isso logo me deitei para olhar o céu, que compunha em seu esplendor nuvens de formatos esquisitos, Ana se deitou repousando sua cabeça em meu abdômen, e eu me senti muito bem quando ela fez isso, me senti o homem mais feliz do mundo, como um palhaço se sente quando aplaudido, como um maratonista se sente ao chegar à linha de chegada, como um futebolista se sente ao marcar um gol, como se sente um autor que acaba de compor uma linda música... Aí pensei que estes são os momentos mais importantes de nossas vidas, eram justamente estes pequenos gestos e atos que dão valor ao ser humano enquanto sentimento, são estes os momentos para qual vivemos, são estes os momentos alegres, os momentos que muitas pessoas no seu dia a dia se esquecem, esquecem tanto que acabam por tirá-los da vida e passam então a viver de outras coisas, coisas que na sua verdadeira realidade não são importante, que são apenas uma falsa realidade, que com sorte pode ser apenas momentânea, pois sendo falsa não vale a pena vivê-la, mais a pena vale lembrar de qual é o verdadeiro motivo que faz o ser humano se sentir bem, uma coisa em que este ser não seja somente humano, mas que seja também amoroso, pois que é o amor se não sentimento profundo e limpo de que todos têm direito ( mas algum o esquecem.), e que este, sendo um sentimento humilde, leva à uma busca maior do ser, uma profunda mudança ocorreria então a todas as pessoas do mundo, todas seriam caridosas, pode ser utópico mas é verdadeiro este pensamento. São utopia estes dizeres? Não são pois num futuro próximo grandes coisas deverão acontecer, todos terão uma personalidade diferente da que possuem hoje. E na idade média? Como eram os sentimentos? Garanto que menos piedosos que hoje em dia, pois se era normal tratar o ser humano como um escravo, chicoteá-lo até a morte não é mais hoje em dia, e amanhã? O que será normal? Para que lado vamos nós humanos seguir? Sim!!! É isso!!! Ainda temos muito a evoluir, como no passado tivemos que mudar muitas coisas, muitas outras ainda deverão ser mudadas, e por isso eu digo e sempre direi que uma sociedade baseada nos princípios dos sentimentos mais puros como o amor, caridade e fraternidade não é impossível.
Em quê você está pensando? ( me perguntou Ana com uma voz muito suave.)
Se eu te dizer cê nem ia acreditar...
Então me diga logo, eu te direi no que penso depois...
Quer fazer um jogo comigo?
Sim é um jogo. Te lembras do último?
De perguntas e respostas.
Exatamente, só que este é de pensamentos e pensamentos...
É uma teoria.
Teoria? Interessante.
É verdade, estava mesmo pensando em uma nova teoria.
Pode contar que sou toda ouvidos.
Tudo bem: esta teoria é baseada no princípio do amor e da fraternidade pura, todos deveriam se amar infinitamente, para viver melhor, sem tristeza, com estes aspectos do sentimento não haveriam assim fome e outros males, que se formos analisar são criados pelo próprio ser humano. Porque no mundo existem milhões de esfomeados e são poucos os que fazem alguma coisa para ajudar, isso é um problema criado por nós mesmos que decidimos nos dividir entre classes sociais e assim ficamos divididos. Vamos ficar divididos nestas classes eternamente? Minha teoria diz que não, mais que isso: eu digo que não, o futuro será muito diferente, como foi na idade média, que se desenvolveu e mais se desenvolverá, o mundo é assim como um risco que aos poucos vai compondo traços diferentes, os primeiros são todos violentamente quebrados, aos poucos vão se tornando mais lisos e suaves.( qual seria o desenho?)
Sabe Isa... tudo isso é muito bonito e verdadeiro, sei que você é sincero quando expõe seus íntimos sentimentos, mas de nova esta teoria nada têm...
Como não? Se hoje ainda não estamos assim.
Não estamos mas vamos estar, e isso foi dito por um homem a dois mil anos atrás, o nome deste homem não é importante, pois que são nomes senão designações simples para chamar as pessoas, este então possuindo uma grande essência e sendo um grande pensador disse algo sobre isso, ou seja, você indiretamente e sem querer chegou a uma conclusão já exposta nos primórdios de nossa civilização.
Grandes pensamentos estes seus...
Não, estes não são meus pensamentos, e sim os seus.
Me conte então os seus minha amada.
Estava pensando se nós não poderíamos seguir este ducto de água para ver aonde ele sai.
Mas que idéia mais genial, te digo que é muito boa, mas por ser uma idéia e não um pensamento não faz parte do jogo.
Concordo com você, você ganhou o jogo, e o prêmio pela tua grande teoria será o meu beijo. Aceitas?
Não só aceitaria como me sentiria honrado.
Nos beijamos, e um sentimento de extrema alegria se apoderou de min, quase não acreditei em minhas próprias sensações. Será que eu podia confiar em meus sentimentos? São os sentimentos e as sensações confiáveis? São reais? Ou somente o mundo físico é real? Como se sente amor? Por quê se sente amor? Parece que realmente os cientistas têm ultimamente descobertos que ocorrem algumas reações físicas no cérebro inteiramente físicas, e que estas causariam o sentimento... Por quê ocorrem estas reações? Por quê às vezes estamos alegres às vezes tristes, e outras vezes simplesmente não sentimos nada? Os sentimentos são reais, poderíamos é questionar se o mundo meramente físico é real... pois se vivemos através de nossos sentimentos, e graças à eles temos vontades que fazem a gente a querer fazer algo...são eles que estão então no comando de nossas vontades.
A questão é: Como os sentimentos surgem à mente ou seja lá onde for que surgem? Não sei direito, mas segundo meus pensamentos acho que são eles que nos dão vida e nos diferenciam de uma pedra ou uma mesa...
Beijei com sentimento, não simplesmente beijei. Por isso acho que uma espécie de uma energia muito boa pairou sobre min, aquilo não era qualquer friozinho na barriga que se sente diante de uma garota, era um sorriso que me brotava espontaneamente dos lábios, sem que eu tivesse a intenção ou quisesse sorrir somente para parecer estar alegre.
Estes são os sentimentos do tipo verdadeiro, daqueles que são realmente sentidos, não é como aquele sorrizinho besta que usamos na maioria das vezes na nossa vida...existe algo de muito mais importante que simplesmente sorrir, e este algo se chama sentir, e ser verdadeiro com seus sentimentos, ou seja: se não se têm alegria e se está com vontade de chorar o melhor é chorar com coração, o choro mesmo é um bálsamo que renova e trás até um certo alívio, chorar é bom, tanto na alegria quanto na tristeza.
Acabou-se o que era doce e então resolvemos em uma idéia conjunta e democrática seguir o ducto para ver onde dava aquele negócio. Era um ducto ( como já dito) meio romanizado, a cor era a de um cinza claro, um concreto bastante liso em formato de meia lua era o responsável pelo transporte da água, e esta corria pela leve inclinação que se formava no terreno, começamos a entrar mata adentro, seguindo aquele ducto que ia sempre em direção reta.
O ducto desembocava em um grande lago, logo que chegamos senti um forte odor de umidade, era realmente um lugar muito agradável.
pronto! Encontramos o destino do ducto. ( falei eu. ) E agora?
Agora... ( disse Ana com um olhar malicioso), agora vamos nadar.
Nadar?!?
É, vamos simplesmente nadar...
É verdade que estava calor, mas não pensava que a imaginação daquela garota fosse tão fértil. Ana começou a despir-se: primeiramente começou tirando seus tênis e suas meias deixando seus pequenos pés à mostra, logo começou a abrir o zíper da calça jeans, Ana me olhava com grande profundidade, assim eu sentia que seus olhos verdades eram muito sinceros, deixou a calça jeans bem frouxa e logo me chamou com os olhos, sem precisar usar quaisquer artifícios que usamos na comunicação normal como mãos ou palavras, os olhos realmente dizem tudo o que se passa na alma de uma pessoa. Fui até ela... olhei firmemente nas pupilas de seus olhos, num abraço muito forte a beijei, ela fechou os olhos, senti um calor muito forte, Ana tirou minha camiseta, deixou que sua calça caísse, pude sentir todo o seu corpo sobre o meu. Nos deitamos na relva macia e úmida, nos beijamos ainda mais, Ana estava somente com uma camiseta branca, e eu com uma bermuda preta que me vinha até os joelhos, tirei meus tênis e meias...Estávamos hipnotizados por uma força que nos fugia do controle, era algo maior que nós mesmos, era como se houvesse uma força externa que nos fizesse mais amorosos... Um beijo poético, mais que um beijo qualquer...seus loiros cabelos se misturavam ao meu pescoço, enquanto sentia sua pele branca quente e lisa por todo o meu corpo. Num ato inesperado para min Ana agarrada a min rolou para o lago, senti a água gelada dentro de meu ser, mas não era algo maior que o calor que já me adentrava na mente, Ana estava agora muito sensual não podia negar... sua camiseta já toda molhada deixava-me ver as formas de seu corpo lindo comecei a passar minhas mãos por todo o seu corpo, ela gostou, mas o problema é que não havíamos parado de rolar, e chegou uma hora já estávamos em um ponto que não dava mais pé, aí então nos preocupamos em nadar, ela numa brincadeira começou a fugir de min em direção ao centro do lago.
Vêm me pegar!
Duvidas de minha destreza como peixe?
Não duvido de tua destreza. E tua vontade onde está?
Isso é o que não me falta linda...
Pois venha então...( disse ela distanciando-se ainda mais.)
Reparei que Ana nadava muito bem, mas eu nadava mais rápido que ela como já é normal em relação às diferenças naturais de um homem e de uma mulher. A alcancei quase do outro lado do lago ( que era bastante grande.), sentia o fulgor de seu cansaço, e a simetria constante de sua respiração ofegante, segurei-a fortemente pelas mãos e fomos assim de mãos dadas até a outra margem, ali chegando senti que eu havia ganhado nossa aposta, nada precisou ser dito novamente, nossos olhares já demonstravam tudo, nós estávamos inteiramente molhados, em pé diante daquele lindo lago, no meio de uma vasta natureza, frente a frente com ela...tirei a camiseta dela, ela mesmo pediu para que eu a ajudasse a tirar seu sutiã, ficamos inteiramente nus, do mesmo modo que viemos ao mundo, fiquei extremamente envergonhado... mas isso passou quando vi que ela estava igualmente bastante encabulada....nos abraçamos fortemente e nos deitamos na grama que se estendia nas margens.
E a camisinha?
É verdade...
Tudo havia se acabado, bem... é verdade que nem tudo, teríamos outras oportunidades, mas a verdade é que nos amávamos de coração e isso era o mais importante, pois na sociedade em que vivemos hoje em dia parece faltar o aspecto mais importante de uma relação entre homem-mulher, justamente o amor, que é realmente a coisa mais importante que existe no mundo. Eu sentia no meu coração uma energia muito forte que me fazia sempre me preocupar com Ana, como por exemplo no momento em que ela me falou da morte de sua avó, minha preocupação com ela é muito grande, quero ajudar ela a resolver seus problemas, me preocupo com ela e quero que ela seja feliz... isso sim realmente significa o amor verdadeiro. Hoje em dia o conceito de amor é muito variável, uns dizem de uma forma e outros acham que o amor é outra coisa, enquanto outros ainda nem se preocupam com isso. Será que existe um conceito universal de amor? Um conceito que já estivesse dentro de cada pessoa, não dependendo assim de agentes externos como cultura ou festas e modos de vidas diferentes. É provável que sim, é muito provável que a grande maioria dos seres humanos já nasçam com certos limites ideológicos fundidos na mente...
Sabe Ana... Os ingleses da Antigüidade que eram realmente muito místicos, os que viviam na ilha de Avalon, uma ilha sagrada, mágica e que ninguém sabia exatamente onde fica consideram esse negócio de transar uma coisa sagrada, eu também acho que esse negócio é muito importante, é se necessário amar, o prazer por prazer não é nada senão uma vontade falsa...
Eu também acho, e confesso para você que não me vejo preparada ainda, quero que você entenda isso, o problema não é em si a camisinha... é certo que nos dias de hoje ela é realmente importante, mas o fato é que eu quero me resguardar, não creio que Ter um filho seja um fato meramente relativo a uma conseqüência... é mais que isso, é uma vida, e como toda vida deve ser cuidada, e esse é o aspecto mais importante de todos: nós não temos ainda maturidade suficiente para tal.
É, a camisinha é importante, mas tão o mais que isso se encontra o amor, e você sabe que isso eu realmente sinto por você, eu te amo Ana.
Vamos nos vestir. ( disse ela comicamente pela situação em que nos encontrávamos.)
Claro! ( respondi eu sorrindo para seus olhos.)
Nos vestimos assim, ficando semi nus, pois o resto das roupas estavam do outro lado do lago.
Estou começando a ficar com frio ( disse ela enquanto andávamos costeando a margem dando a volta no lago.)
Eu também, estas roupas estão geladas, me dá a sua camiseta que eu vou torcer ela para secar melhor.
Aqui está. ( Disse entregando-me a camiseta.)
Usamos esta técnica também com minha bermuda, melhorou um pouco. Chegamos então onde estavam o resto de nossas roupas, nos vestimos e ficamos ali sentados de frente para o lago, olhando a paisagem que era realmente bonita, o vento provocava ondulações na água do mesmo modo que Ana me provocava com seu sorriso...
Por quê você gostou de min? ( perguntei eu ingenuamente.)
Não sei ( disse ela), talvez porque tenha te achado bonito
Só por isso?
Não.. gosto bastante de você pelo que você é realmente.
E o que você quer dizer com o que eu sou realmente?
Um Isaias carinhoso com as pessoas que o cercam...
Como me encontrou aquele dia no parque?
Você sabe Isa... ( Disse ela colocando as mãos nos meus lábios com ternura.) tenho meus meios.
Como sempre as amigas estão presentes.
E você? De quê forma gosta de min?
Não sei direito o que as pessoas pensam realmente desta palavra: gostar, pois sei muito bem que a psicologia diz que aqueles que realmente gostam brigam...
O que você pensa por gostar?
O mesmo que amar.
Não está bem explicado...
É que não sei direito o que realmente sinto quando olho nos teus olhos, mas tenho certeza que é uma coisa muito boa, agradável à mente.
Me dê provas meu Isa.
Não sei direito, pois segundo a psicologia eu teria que brigar com você para dizer indiretamente que gosto de você portanto que a amo.
Não acha essas idéias contraditórias?
Contraditórias elas são, as coisas contraditórias possuem portanto mais valor.
Diz então que as idéias que possuem contraposições são mais fortes que aquelas que não possuem?
Exatamente! Possuem mais força, e são como uma coluna com uma base muito forte enquanto as não contrapostas não possuem base.
Bastante inteligente, mas não acho que me convence ( disse ela sem quaisquer receios ideológicos)
Digo que ao mesmo tempo que a amo não concordo com muitas idéias suas, e por isso brigo com você, mas ao mesmo tempo para demonstrar que gosto muito de você tenho que aceitar as tuas idéias mesmo que sejam contra minha filosofia de vida, e se não tivéssemos idéias contrapostas eu não teria que aceitar algo que não estivesse em min nem por isso me esforçar para te aceitar do jeito que você é, e por isso acredito que menos méritos teriam nossas vontades se fossem inteiramente harmônicas, o que é impossível, mas é certo que existe um nível de aceitação, e isso é o que é bonito em uma relação homem-mulher.
Tá quase me convencendo... agora me diga o que você acha da idéia de que aqui existe uma força sobrenatural muito grande. ( disse ela com um olhar desafiante.)
Nós já realmente já conversamos sobre isso, acho que muitas vezes podemos confundir estas forças às vontades que estão embutidas em nosso ser, mas não quando estas forças são tão reais quanto a realidade, ou quando elas se mostram reais e por isso deixam de ser sobrenaturais.
Como o gnomo que nos vigiava antes.
Não, não estou falando só disso Ana, estou falando de algo de que este gnomo pode fazer parte...
Do que então?
Uma realidade que pode ser muito maior do que pensamos, veja bem Ana querida: Qual é a tua religião?
Na verdade eu não tenho religião.
Mesmo assim, imagina só isto: eu sou católico, pelo menos até agora, e nós realmente acreditamos na vida eterna, é então uma coisa muito grande este negócio de vida eterna, o que aconteceria depois que eu supostamente morresse?
Isso é realmente uma coisa muito misteriosa, porque em tese ninguém volta para contar como é que é a morte e o que acontece depois dela, como é a vida que todos imaginamos ser no céu, pelo que sei, os budistas têm a idéia de que depois que morremos nos unimos à consciência universal, tornando-nos assim parte de um todo.
Mas assim nós perderíamos a nossa individualidade e não teríamos mais consciência de nossa personalidade particular...
Este é o problema. ( esclareceu ela muito sabida.), pois se nos juntarmos em um lago como este aqui, considerando que somos uma gota de água não seríamos mais nós mesmos. Aí então eu decidi procurar uma saída para este problema, e até acho que nós não perdemos nossa individualidade nunca, mas ao mesmo tempo ainda estamos unidos num todo, como se fosse uma energia universal.
Deus?
É... na verdade o nome que damos a isso não é importante, a questão é mais sentimental que racional?
Nunca! ( Exclamei eu contrariado.) É tanto sentimental quanto racional.
Porque acha isso? ( falou ela pegando uma mini margarida que se encontrava entre outras muitas em meio à macia grama em que nos sentávamos.)
Porque ainda existem grandes sábios que valorizam a sabedoria e o coração.
O rei Salomão?
Não, não falo deste... têm um outro que também estudou nitidamente e cientificamente os fenômenos mágicos dos quais estamos falando sem desvalorizar em hipótese alguma a parte sentimental humana.
E quem é esse? Jesus? Aristóteles? Descartes? Albert Einsten? Galileu Galilei?
Estes muito sábio foram, mas falo de um francês chamado Allan Kardec, que era na verdade um pedagogo, que começou a estudar uns fenômenos esquisitos que estavam acontecendo, eram coisas muito estranhas, pois haviam umas mesas que giravam sozinhas sem o uso de qualquer força até então conhecida.
Era algo então desconhecido até aquele momento.
Exatamente Ana, mas ao estudar cientificamente estes fenômenos ele viu que aquilo realmente tinha uma causa, o que era uma coisa muito estranha pois aqueles negócios fugiam à leis gravitacionais conhecidas.
E qual era a causa? ( Disse ela enquanto brincava com a mini margarida entre os dedos.)
Eram espíritos de pessoas já mortas, e isso foi inteiramente comprovado quando foi estabelecida uma forma de comunicação entre este fenômeno e a nossa realidade, ou seja: foram estabelecidas coisas do tipo um toque é sim e dois toques ou movimentos da mesa representa um não, assim eram feitas perguntas para que o fenômeno respondesse, foi assim descoberto que o fenômeno era inteligente, e se era inteligente poderia responder questões explicando por eles próprios o que eram e como viviam.
E eles eram estes espíritos das pessoas mortas?
É, mais ou menos isso... pois muitos destes espíritos não tinham boas intenções e queriam somente brincar com a situação.
Como se chama mesmo o homem que estudou isso ? ( perguntou Ana bastante intrigada.)
Allan Kardec, e eu confesso que essa idéia de espíritos poderem se comunicar com o homem que ainda está vivo ( é claro que baseado nesta idéia quando se morre ainda se está vivo.), não concorda com a minha religião católica de todo, mas como a filosofia de meu ser não é inteiramente submetida aos princípios que a sociedade impõe eu acredito na possível comunicação entre estas duas dimensões tão distintas entre si
Então deve até existir um outro mundo para se viver após esta vida, eu também acredito nestas idéias suas Isa, mas isso a gente não têm que se preocupar muito porque...
A questão ( interrompi ela antes que terminasse de falar.) não é preocupar, é saber, e saber todos devem, quem sabe realmente têm mais possibilidades de fazer, mais opções, e se a verdade é essa pode não ser daqui a mil anos, como não era a mesma mil anos atrás, pois o conhecimento sempre muda.
Mas você não acha que existe uma verdade central e imutável, portanto um conhecimento que nunca mudará através dos tempos?
Não Ana, o que eu quis dizer não era exatamente a mudança de conhecimento e sim o seu desenvolvimento, ou seja: a sua constante complementação.
Muito bonito tudo isso, mas o que você acha desta margarida? ( disse ela mostrando-me aquela mini margarida entre seus dedos.)
Fiquei sem palavras, simplesmente olhei para os olhos dela, e os senti brilharem, um brilho que chegava até meu coração, não sei como, mas aquele brilho me provocava na alma uma extrema felicidade, sem dizer uma palavra ela me deu aquela margarida tão graciosa ( que representava muito mais que uma simples margarida.), o sorriso me brotou na face, e a alegria foi muito intensa... fiquei bobo diante dela. Me deu vontade de sair correndo, sei lá de fazer qualquer loucura deste tipo, cantar bem alto que eu realmente a amava....Num ato bastante cômico e explosivo fui correndo até o lago e em um salto bastante largo já me encontrava na parte funda, segurei o ar nos pulmões e mergulhei lá no fundo, por um instante que me pareceu mágico fiquei ali, olhando aquelas algas que dançavam conforme o movimento da água, era como se fosse um momento mágico que eu nunca mais esqueceria na minha vida, a água era o suficiente límpida pare que eu olhasse o fundo do lago com bastante clareza. Logo me faltou o ar, subi a superfície e voltei nadando para Ana, ela me ofereceu eu corpo para que eu não sentisse mais o frio daquela água que me gelava, ao mesmo tempo mostrava um sorriso. Aceitei, e ficamos grudados um no outro até que eu me secasse.
Logo tomamos um pouco de água do ducto que desembocava em uma mini cachoeira no lago, e pegamos o caminho de volta para a clareira, lá chegando depois de um boa caminhada encontramos bebendo água na fonte aquele gnomo malandro de outrora, com um gorro marrom uma barba bastante grande e branca, roupas verdes escura e uma cara de um ancião bastante inteligente na cintura estava amarrado o característico saquinho de couro, a princípio não acreditei e pensei ser uma visão sonho imaginação ou qualquer outra coisa parecida, mas ao nos aproximarmos com as mãos dadas poeticamente, notou nossos passos, e voltou-se para nós quando já nos encontrávamos bem perto dele por nossa curiosidade.
Vejo que já se encontram unidos pelos laços do amor. ( disse ele com uma voz pausada e harmoniosa.)
De onde você é? ( perguntei.)
Isso já é uma longa história... o mais importante neste momento é que vocês conseguiram destruir toda a fonte que vai contra a grande natureza, estais cientes de que ainda há muito a viver e de quê a grande sabedoria os dará tudo que é necessário no decorrer do caminho.
Estiveste com meu amado todo o momento? Verdade? (Perguntou Ana)
Sim, foi necessária uma intervenção, mas isso foi bom, ele foi protegido.( Sorriu para min com o afeto de um avô.), agora os restará amar a natureza e viver o todo.
Mas o quê significa isso? ( Perguntei.)
Descobrireis como quem desembrulha um presente.
E dizendo isso retirou de seu famoso saquinho de couro um pó bastante brilhante, jogou este pó para o alto e nada mais pudemos ver, uma massa energética pairou sobre o ar, quando baixou aquilo o gnomo não estava mais lá, ficaram ecoando estas palavras na minha mente: Descobrireis como quem desembrulha um presente... Descobrireis como quem desembrulha um presente... Descobrireis como quem desembrulha um presente... O que queria dizer realmente esta afirmação?